Dino relaciona ódio e armamentismo a chacinas em escolas dos EUA e Brasil
Depoimento do ministro à Comissão de Segurança Pública foi interrompido após bate-boca entre parlamentares da base do governo e bolsonaristas
O país onde mais ocorrem atos de violência e chacinas em escolas são os Estados Unidos. E, não por acaso, é o país onde mais se tolera o uso de armas por civis e pessoas fora dos aparatos públicos de segurança. A observação foi feita pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, durante audiência na Comissão de Segurança Pública da Câmara nesta terça-feira (11). A sessão foi suspensa após bate-boca entre deputados da base do governo e da oposição.
“As notícias mostram que quando há mais armas em circulação é claro que se ampliam as ocorrências, por exemplo, de crimes em lares, crimes de feminicídio, crimes no trânsito”, afirmou o ministro. “Aquela chacina que vimos no Mato Grosso exemplifica como uma controvérsia num jogo de sinuca se transformou numa chacina”, acrescentou. “É uma questão lógica, derivada do artigo 13 do Código Penal. Se aquele cidadão não tivesse um fuzil na mão, teria matado a menina de 12 anos? Resposta: não!”
Os deputados convidaram Dino foi para tratar da política de armas do governo Lula, dos atos golpistas de 8 de janeiro, das ocupações pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e a da sua ida ao Complexo da Maré, no Rio, em fevereiro. No entanto, diante das animosidades entre os parlamentares, incluindo a troca de xingamentos, apenas o primeiro tema foi devidamente abordado pelo ministro.
‘Crime’ do riso
“O monopólio do uso legítimo da força, por policiais, não se pode substituir por uma visão de faroeste. Essa visão existe em pouquíssimos países do mundo, inclusive que não são professores adequados para o Brasil. Por exemplo, chacinas nas escolas: qual país onde se mais realizam chacinas em escolas no mundo? Os Estados Unidos”, afirmou.
“E o que é que está acontecendo agora no Brasil? Crescimento de chacinas em escola. Será que é possível enxergar uma correlação lógica entre ódio, violência, armamentismo e crescimento de chacinas em escolas? Será que é por acaso que isso ocorre apenas nos Estados Unidos e no Brasil, nesta dimensão? Me perguntam: quem são aqueles que dizem combater o crime, mas na verdade são sócios dele? São várias categorias de pessoas”, argumentou.
Neste momento, algum deputado ri e Dino diz que ele está cometendo o “crime”. “Me disseram que eu não podia rir. Então o senhor está cometendo um crime também, preste atenção”, ironizou o ministro. Começou então mais uma gritaria e bate-boca, e o presidente da comissão, deputado Ubiratan Sanderson (PL-RS), encerrou a sessão.
Antes disso, deputados bolsonaristas cobraram o ministro pela ampliação do prazo de recadastramento de armas de fogo, que termina em abril. O deputado Paulo Bilynskyj (PL-SP) chegou a comparar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Hitler, Mao Tsé-Tung, Stalin e Fidel Castro. Dino repudiou a comparação, chamando-a de “indevida”. O ministro destacou que não existe liberdade total para o porte de armas no Brasil.
A base bolsonarista pretendia retaliar o ministro, pela sua participação na Comissão de Constituição e Justiça e Cidadania (CCJ) da Câmara, no fim do mês passado. Na ocasião, Dino utilizou a ironia e o humor para reagir aos ataques dos parlamentares ligados à extrema direita.