Economia caminha para recessão com a cumplicidade do governo
A queda de 9% na produção de veículos em junho na comparação com o mesmo mês do ano passado, revelada nesta quinta-feira (4) pela Anfavea, é mais um sinal de que a economia brasileira caminha a passos largos no rumo de uma nova recessão. Não é o primeiro nem o único.
Em maio, a produção industrial recuou 0,2%. Uma vez que, de acordo com as estatísticas do IBGE, o PIB caiu 0,2% no primeiro trimestre do ano, uma forte recuperação da indústria em junho seria uma condição para evitar dois trimestres seguidos de declínio da produção, que caracteriza recessão. Os números divulgados pela Anfavea sugerem que esta hipótese já pode ser descartada.
É um cenário sombrio para o Brasil, sobretudo quando se considera que o país amargou recentemente dois anos (2015-2016) de recessão e vem andando de lado desde então, constrangido a uma taxa de crescimento para lá de medíocre. O país perde posição no ranking internacional e empobrece.
Capital e trabalho
Como vivemos num regime capitalista quem acaba pagando a conta é a classe trabalhadora. O drama na indústria automobilística é um exemplo disto. As montadoras demitiram 800 operários em junho. Em contraste, donos e acionistas das multinacionais continuam acumulando lucros, não reclamam prejuízos. Isto não ocorre apenas neste ramo da indústria.
O desemprego aberto é um flagelo para mais de 13 milhões de trabalhadores e trabalhadoras, cerca de 5 milhões estão na condição de desalento (já desistiram de procurar emprego), 28,4 milhões estão subocupados. A ocupação com carteira assinada é decrescente e a renda do trabalho cai.
Já o lucro dos banqueiros não para de subir e bateu novo recorde em 2018, alcançando R$ 98,5 bilhões. Parece claro que nem todos perdem com a recessão e na eterna peleja entre capital e trabalho também neste caso o empresário acaba saindo por cima. Ainda que muitas empresas, sobretudo pequenas e médias, sejam abatidas no processo é sempre o empregado quem mais sofre as consequências.
Nova política fiscal
O golpe de Estado de 2016, que resultou no afastamento da presidenta Dilma Rousseff e ascensão de Michel Temer à Presidência, ajuda a explicar o drama atual. As políticas impostas desde então contribuíram para o agravamento da crise e constituem provavelmente a principal causa da estagnação, do desemprego em massa e redução da renda, bem como dos direitos, do povo trabalhador.
Ao invés dos 6 milhões de postos de trabalho prometidos pelo governo Temer sua reforma trabalhista provocou apenas mais precarização das relações entre capital e trabalho e arrocho dos salários, deprimindo o mercado interno. A terceirização generalizada tampouco resultou ou poderia resultar em benefícios para o trabalhador ou a economia.
A nova política fiscal, com o congelamento dos gastos públicos, fez a taxa de investimentos na economia descer ao seu mais baixo nível em 50 anos. Disseram que ia resgatar a fada madrinha dos investimentos (sobretudo externos) e promover crescimento, mas as ideias neoliberais dominantes não correspondem aos fatos.
As coisas pioraram com a ascensão da dupla Jair Bolsonaro/Paulo Guedes, que resolveu radicalizar a obra de restauração do neoliberalismo iniciada pelo usurpador Temer, o presidente mais impopular da nossa história.
Seis meses após a posse do Mito da extrema direita brasileira os estragos são visíveis e o resultado geral transparece nas estatísticas econômicas, na regressão à recessão, nos cortes na educação e na saúde e na ofensiva contra os direitos previdenciários. O discurso falso do governo e da mídia hegemônica ainda promete a redenção nacional através do sacrifício dos direitos e conquistas dos mais pobres (com reforma da Previdência) enquanto a vida que segue sugere que este é o caminho mais curto e seguro para o inferno.