Economia, política, educação e mais: Rússia sedia fórum de olho na integração do Brics

Evento em Moscou debate temas entre organizações civis dos países membros do bloco

Responsável pela Presidência rotativa do BRICS, a Rússia organiza nesta quarta (03/07) e quinta-feira (04/07) o Fórum Civil do grupo, reunindo ONGs, acadêmicos e pesquisadores com o objetivo de integrar temas diversos e visões das sociedades dos países membros aos desafios em comum enfrentados pelas próprias autoridades das nações.

Nesse sentido, a secretária-geral do Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz), Rita Coitinho, disse que o encontro busca fortalecer a integração do bloco nas populações de seus países. A Opera Mundi, Coitinho, que é uma das participantes brasileiras no fórum apontou a importância que Moscou dá ao BRICS, destacando que outras reuniões similares a essa já aconteceram no país liderado por Vladimir Putin.

“É interessante notar que a Rússia investe muito no BRICS. Além desse fórum, já aconteceram fóruns acadêmicos, está sendo organizado um fórum de mulheres e também das mídias, para setembro, todos aqui na Rússia”, avaliou.

O país foi inclusive o responsável pela inauguração do Fórum Civil do BRICS durante sua Presidência temporária no grupo em 2015, tendo sua primeira edição também realizada em Moscou. Desde então, o evento acontece anualmente.

Na análise do facilitar brasileiro a convite da Rússia para o Fórum, Fabiano Mielniczuk, “é muito importante” para a Rússia ter esse protagonismo nos BRICS, que está se expandindo com a incorporação do Egito, Etiópia, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Irã e tem uma lista de espera com 20 países para aderir ao grupo. “Isso obviamente mostra que a Rússia e a China não estão isoladas no mundo”, avalia a Opera Mundi.

A representante do Cebrapaz recordou que antes deste Fórum Civil em Moscou, aconteceu uma etapa anterior de discussão sobre os temas propostos pela Rússia, que abordam economia, política, educação, saúde, cultura, sustentabilidade e tecnologia.

“No Brasil, a etapa aconteceu por meio de debates online promovidos pelo Núcleo de Estudos dos BRICS (NEBRICS) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFGRS), coordenado pelo professor Fabiano Mielniczuk. Eles enviaram convite a mais de 200 organizações para nove grupos temáticos. Cada grupo debruçou-se sobre os documentos enviados pelos russos e escrevemos nossas contribuições ao documento que sairá desse evento em Moscou”, declarou.

O professor Mielniczuk participa de três sessões no Fóru. Durante a sessão de abertura, o representante brasileiro apresentou “o processo de discussão na sociedade brasileira e apresentar os conceitos que perpassaram todos os nove grupos de trabalho no Brasil”.

“Nós tivemos uma uma cerimônia de abertura realizada virtualmente porque o NEBRICS e a UFRGS estão em Porto Alegre e nós fomos muito afetados pelas enchentes. A universidade fechou e só está voltando a funcionar agora. Mas o pessoal do NEBRICS continuou trabalhando nesta iniciativa”, declarou.

Mielniczuk conta que o grupo de estudos, que contou com quase 100 pessoas, realizou duas reuniões para cada grupo de trabalho, resultando em 18 reuniões e dezenas de organizações civis discutindo as propostas sugeridas pela Rússia.

O fórum faz parte da programação antes da Cúpula dos governos do BRICS, que será em outubro também na Rússia. Ao final do encontro, um documento com os resultados da reunião civil é gerado para ser encaminhado à cúpula dos presidentes.

Além de Coitinho e Mielniczuk representando o Brasil no Fórum, participam Carolina Cruz, do Instituto Tricontinental; Geovana Lunardi, professora da UDESC; e os economistas Andrea Gouveia e Paulo Ferracioli.

Fórum Civil do BRICS

Com atividades programadas das 9h às 18h (pelo horário local), o evento começou nesta quarta-feira com uma reunião fechada dos chefes de delegações e copresidentes do grupo de trabalho do Fórum Civil do BRICS e logo depois a sessão inaugural com diversas autoridades russas, como o vice-ministro das Relações Exteriores do país, Sergey Ryabkov.

A partir da abertura, diversas outras mesas foram iniciadas, como a sessão plenária “Direito ao Desenvolvimento: Igualdade, Equidade e Justiça”, na qual foi debatido o direito ao desenvolvimento de indivíduos, povos e países como inerente e consagrado à Declaração das Nações Unidas (ONU). De acordo com a agenda do evento, era esperado um debate com quais princípios fundamentais os países do BRICS devem apoiar e promover para alcançar uma ordem mundial mais justa e equitativa.

O evento também aborda as “necessidades, prioridades e desenvolvimento das cidades do futuro no BRICS”, considerando a importância do desenvolvimento sustentável na promoção da justiça social e combate às mudanças climáticas.

Já pela tarde, a sessão “Visão 2050: Valores e Direitos dos Povos” invocou as formas que mecanismos globais podem ajudar a regular a vida social. Simultaneamente, a mesa “Ética das Novas Tecnologias” conversou sobre o rápido desenvolvimento de novas tecnologias e a introdução de inovações radicais e de longo alcance da Inteligência Artificial (IA).

Ainda na temática tecnológica, a mesa “Informação e Segurança Digital” debateu a informação como direito e a necessidade de regulação do ambiente digital como forma de segurança.

Por sua vez, na quinta-feira, a temática volta ao debate na sessão plenária “Visão 2050: O futuro do mundo através dos olhos dos países BRICS”, discutindo o papel da tecnologia na próxima revolução industrial.

Na sessão “Ecologia, Transição Energética e Justiça Social” a questão climática será debatida de forma “não unilateral” e que não “sirva apenas aos interesses econômicos dos países desenvolvidos”.

A questão da soberania econômica diante da dominância do dólar é uma das principais pautas dos países do BRICS e não está fora do Fórum Civil. A sessão “Política Econômica e Financeira Soberana” reconhece que a atual situação econômica e política mundial “criam obstáculos” ao desenvolvimento sustentável e questiona a hegemonia da moeda norte-americana, sugerindo um debate para a criação de um sistema que emita uma moeda comum para os países BRICS.

Outros assuntos também estão no fórum, como a cultura compartilhada entre os países do BRICS na sessão “Pontes Culturais dos Países BRICS”. Coitinho, que representa o Cebrapaz em Moscou, faz parte da equipe palestrante da mesa.

Segundo ela, o objetivo deste debate é discutir uma plataforma comum de integração cultural.

“Isso passa pelas artes, cultura em geral, promoção das atividades desportivas e também do turismo. Na minha apresentação, quero enfatizar a importância de criarmos formas efetivas de financiamento das atividades de intercâmbio cultural e científico, com base no que temos como principal laço cultural: o anticolonialismo”, declarou a Opera Mundi.

As duas últimas mesas do evento envolvem ainda o papel do BRICS na construção de uma ordem mundial mais justa e uma sessão de encerramento com a premiação dos vencedores do Concurso de Ensaios Filosóficos.

O evento também conta com duas exposições de foto e arte, intituladas “Globalismo ocidental em ação” e “Nina Ruchkina, a beleza une o mundo”.

Por Duda Blumer

Do Opera Mundi

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