Em defesa da Política
Seja pelo alto número de votos brancos nulos e de abstenções — que só em São Paulo, maior cidade do país, chegaram a quase 35% do eleitorado, ultrapassando até mesmo a votação conquistada pelo vencedor —, seja pela eleição de nomes que se valeram do discurso apolítico, a rejeição à política parece ser, segundo grande parte dos analistas, a grande vitoriosa das urnas no último domingo. E também a grande lástima que elas nos legam.
Não é o momento de menosprezar a escolha dos eleitores. Pelo contrário, é fundamental entender as razões por trás das escolhas e a responsabilidade que, muita vezes, o próprio campo progressista tem sobre elas. A autocrítica que talvez tenha deixado de ser feita; a aposta em alianças pragmáticas que provocaram desconfiança; a reforma política que não foi adiante; a tentativa de distribuição de renda sem uma devida reforma tributária e fiscal; o não engajamento na pauta da democratização da comunicação, que enfraquece nossa luta diante da mídia hegemônica e golpista.
Esses e tantos outros fatores precisam ser encarados de frente para que, no segundo turno — que é, na prática, uma nova eleição, na qual o cenário pode se transformar —, nas ações das nossas entidades, no trabalho junto aos trabalhadores e trabalhadoras, nos atos e mobilizações nas ruas e em todos os espaços consigamos combater a desilusão e o equívoco na crença “apolítica” e transformá-los na esperança na Política em maiúscula, em sua concepção mais nobre, sem a qual não há vida possível em sociedade. Sem a qual o que resta é a barbárie.
Da redação