Em greve, trabalhadores da EBC pedem exoneração de presidente por racismo
Os jornalistas e radialistas da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), das redações de São Paulo, Brasília, Rio de Janeiro e Maranhão, decidiram, em assembleia realizada na quarta-feira (22), que continuarão mobilizados contra a falta de reajuste salarial e a retirada de direitos do acordo coletivo. A greve dos profissionais teve início no último dia 13.
As negociações entre os trabalhadores e a empresa estão sendo intermediadas pelo Tribunal Superior do Trabalho (TST), que pediu ao Sindicato de Jornalistas e Radialistas do Distrito Federal a suspensão da greve.
No entanto, Márcio Garoni, que é integrante da Comissão de Empregados da EBC, explica que os trabalhadores decidiram manter a paralisação até conseguirem algum tipo de garantia de abono dos dias em que não trabalharam. Os funcionários também querem que o Acordo Coletivo de Trabalho atual seja mantido enquanto a negociação estiver ocorrendo.”Na assembleia, achamos por bem continuar em greve, porque a gente não tinha garantia de nada. Até o momento, não temos proposta nenhuma, nem o TST nem a empresa melhoraram a proposta anterior”, diz.
Entre as principais exigências da categoria está o reajuste de 4% do salário. A mobilização também tem como pauta a manutenção de benefícios e direitos que a empresa anunciou que pretende retirar, como a cesta-alimentação, o vale-cultura, a garantia de translado aos trabalhadores por questão de segurança, a complementação de auxílio previdenciário, e a multa pelo descumprimento do acordo coletivo.
Empresa pública
Outra bandeira importante da paralisação é a manutenção do caráter público da empresa, que, segundo denúncias dos trabalhadores, vem mudando sua linha editorial desde que o presidente golpista, Michel Temer (PMDB), assumiu o governo. Garoni comenta algumas das mudanças que ocorreram na EBC no último período:
“A prioridade tem sido assumir uma agenda positiva e promover os atos do governo, e, de certa forma também minimizar os problemas, protestos contra o governo, coisas que antes a gente fazia”, afirmou.
Diante dos desmontes que a EBC vem sofrendo desde o golpe, Ana Cláudia Mielke, que é da Coordenação Executiva do Intervozes e integrante do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), considera que a mobilização dos funcionários da empresa é “singular” para a categoria de comunicadores sociais.
“A EBC foi a primeira a sofrer um ataque direto do governo golpista, com a Medida Provisória 744/2016, que, dentre outras coisas, retirou o caráter público da empresa, ao destituir seu Conselho Curador, que era um órgão que permitia a participação da sociedade na discussão dos rumos políticos, editoriais e administrativos da empresa.”
Racismo
Mielke ressalta que a mobilização dos trabalhadores também atende interesses da sociedade: “Então precisamos associar uma luta em defesa dos direitos trabalhistas dos trabalhadores da EBC à luta da defesa da comunicação pública como uma comunicação de interesse de fato publico, democrática, e que garanta aos brasileiros o direito à comunicação de qualidade”.
Ainda sobre interesse público, os profissionais em greve produziram uma nota de repúdio à atitude racista protagonizada recentemente pelo presidente da EBC, Laerte Rimoli, que ironizou a declaração da atriz Taís Araújo. Ela declarou, em uma palestra realizada no evento TEDxSão Paulo, que “a cor de seu filho é a cor que faz com que as pessoas mudem de calçada, escondam suas bolsas e que blindem seus carros”.
Print de post compartilhado por Rimoli
Na nota, os jornalistas, radialistas e entidades sindicais exigem a imediata exoneração de Rimoli, e ressaltam que, além de ter praticado um crime, o presidente descumpriu a própria legislação que regulamenta a EBC.
“Esse comportamento deplorável vai contra o posicionamento dos empregados e empregadas, que sempre lutaram por uma comunicação pública diversa, inclusiva, livre de preconceitos. (…) A EBC pertence à sociedade brasileira, composta em sua maioria por negros e negras. Assim, não nos calaremos frente a mais esse retrocesso na defesa da comunicação pública do país”, destaca o documento.
Uma nova assembleia dos trabalhadores será realizada nesta sexta-feira (23), com o objetivo de analisar a resposta do TST sobre a contraproposta apresentada na última reunião. Caso o órgão acate as exigências de garantias colocadas pelos jornalistas e radialistas, os trabalhadores poderão voltar a trabalhar na próxima semana.