Em Havana, compensadores de 47 países debatem o poder da IA na política e comunicação de esquerda

Encontro até quarta-feira reúne mais de 400 convidados

Com a presença de mais de 400 convidados de 47 países, começou nesta segunda-feira (17), em Havana, o IV Colóquio Internacional “Pátria”, um espaço de reflexão sobre comunicação popular, desafios tecnológicos e as lutas pela emancipação. Organizado pelo Sindicato de Jornalistas de Cuba, o evento se estenderá até quarta-feira (19), reunindo jornalistas, ativistas, acadêmicos e trabalhadores da comunicação em coleções de mesas redondas, apresentações e trocas de experiências.

Nesta edição de quarta, o colóquio está especialmente focado em debater os efeitos da inteligência artificial e seu impacto na reconfiguração do poder global e na comunicação, abordando tanto os riscos quanto as potencialidades para a emancipação dos povos.

O evento leva o nome do lendário jornal Pátria, fundado pelo herói nacional José Martí em 1892. Nas páginas do jornal, os revolucionários difundiram ideias libertárias na luta pela independência de Cuba, não apenas denunciando os homens do colonialismo espanhol, mas também promovendo a unidade entre os cubanos e a solidariedade com outros povos da América Latina e do Caribe em suas lutas revolucionárias.

Hoje, o Colóquio Pátria busca ser um espaço de defesa das lutas populares e dos valores do socialismo. Com um olhar progressista e de esquerda, o evento analisa os problemas, desafios e oportunidades da comunicação na era digital. Entre os temas centrais estão as estratégias de comunicação popular, o combate às fake news e os desafios da guerra midiática e cognitiva em escala global.

Com a presença do Presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel Bermúdez, a inauguração do evento ocorreu diante do monumento do líder estudantil e fundador do Partido Comunista Cubano, Julio Antonio Mella. O discurso de abertura ficou a cargo de Hugo Fuentes, recentemente eleito presidente da Federação de Estudantes Universitários da Universidade de Havana.

Construindo uma agenda comum

Sob o lema “Somos povos tecendo redes”, este ano o colóquio homenageia os 20 anos da teleSUR, um projeto impulsionado por Fidel Castro e Hugo Chávez com o objetivo de criar um meio que contese a realidade do continente a partir de uma perspectiva própria.

A conferência de abertura foi conduzida por Patricia Villegas, presidente da teleSUR, que relembrou os momentos fundamentais da emissora. Durante sua fala, foi exibido um vídeo curto relembrando a primeira transmissão, onde se ouviu o jovem Beto Almeida dizer: “A partir deste momento, vocês, nós, vamos poder desfrutar de um canal de comunicação no qual nossos rostos, nossos sabores, nossas cores, nossas lutas, serão os verdadeiros protagonistas”.

Essas palavras ecoaram entre aplausos emocionados de muitos dos protagonistas daquele momento histórico, incluindo o próprio Beto.

“Eu estou aqui em nome de um coletivo, não sou eu, é um coletivo, um grupo de pessoas extraordinário, maravilhoso, que trabalha na teleSUR e que, durante esse tempo, seja 20 anos ou um dia, dedicou sua vida e detalhes para levar adiante esse projeto. Então todos, falem em nome de coletivo, falem em nome do coletivo”, afirmou Villegas ao iniciar sua conferência.

Patrícia insistiu na necessidade de um trabalho conjunto entre os meios de comunicação do Sul Global, afirmando que “precisamos parar de nos ver como concorrentes e passar a nos enxergar como colaboradores. A construção de uma agenda comum e do coletivo deve prevalecer”. Ela destacou a importância de que sejam os povos e suas lutas os protagonistas das histórias, e não figuras individuais.

Segundo ela, grande parte desses 20 anos de existência da teleSUR não foram marcados apenas por vitórias populares, mas também por resistências frente aos avanços das direitas e do imperialismo no continente.

“Todos sabemos que a história não é linear e tem idas e vindas”, refletiu. “Então, veio o vento contrário. Já não temos o vento a favor, veio o vento contra. Falamos do ano de 2013, quando morre um dos pais fundadores da teleSUR, o comandante Chávez. O povo venezuelano enterra seu líder e começa um novo capítulo não só para a Venezuela, mas para o continente. E, claro, começa um esforço comunicacional diferente”.

A partir daí, o contorno de que o assédio à teleSUR se tornou muito mais evidente, chegando a sofrer ataques do Comando Sul dos Estados Unidos, que com frequência o sinal da emissora.

“Foram os anos do vento contrário, e nesses anos a teleSUR teve que resistir”, afirmou.

Conclui convidando a todos a refletir sobre os desafios atuais de fazer uma comunicação que se pareça com os povos, que reflita suas realidades e lutas, e que continue sendo uma ferramenta de emancipação em um contexto cada vez mais complexo.

Edição: Rodrigo Durão Coelho

Do Brasil de Fato

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