Em live nas redes, Bolsonaro mentiu uma vez a cada 10 minutos; confira
Explicação falsa sobre preço de vacina, incêndio na Amazônia, pandemia na Argentina: em 50 minutos, foram cinco mentiras
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) (24) proferiu, pelo menos, cinco mentiras em live transmitida pelas redes sociais na noite desta quinta-feira (24), que teve duração de 50 minutos. Em média, foi uma mentira a cada dez minutos de transmissão.
As inverdades versam sobre os assuntos com que seu governo está lidando nos últimos dias, como o contrato de aquisição de vacinas junto a uma empresa indiana, o crescente desmatamento na Amazônia e as mortes por covid no Brasil e no mundo.
Veja, abaixo, as mentiras contadas pelo presidente e quais são os fatos reais acerca dos mesmos assuntos.
1 – “A Amazônia não pega fogo”
Bolsonaro voltou a propagar uma recorrente mentira contada por ele sobre a Floresta Amazônica. Para o presidente, a vegetação do bioma é imune a incêndios. “A Floresta Amazônica, pessoal, não pega fogo. Ela é úmida. Pode ir lá com um galão de 20 litros de gasolina, jogar lá e tocar fogo. Vai pegar fogo só no combustível, na floresta, não pega fogo”.
Não é verdade. O Instituto Sócio Ambiental é apenas uma dentre as inúmeras entidades e especialistas que já desmentiram esta suposição. Ocorre que, na Amazônia como em qualquer mata adensada, o desmatamento ocorre de ˜fora para dentro” O que se faz, primeiro, é derrubar as árvores na área limítrofe da floresta.
Esta vegetação morta vai se tornando mais seca, e a parte ainda viva naquele limite da floresta vai perdendo suas características originais, inclusive a alta umidade, tornando-se um ambiente propício para o fogo. A partir daí, por ação humana deliberada, iniciam-se incêndios, livrando a área para a criação de gado e, posteriormente, plantação de monoculturas.
2 – “A Argentina é o país em que mais morre gente por milhão de habitantes”
O presidente mentiu sobre estatísticas de óbitos causados pelo coronavírus na Argentina. “É um dos países que mais fechou o comércio. É o país também que mais lockdown fez. E é o país que mais morre gente por milhão de habitantes”.
É mentira.
As estatísticas mundiais sobre a pandemia são atualizadas diariamente na plataforma Our World in Data, um serviço que congrega os esforços de entidades científicas do mundo inteiro, sob a coordenação da Universidade de Oxford, da Inglaterra.
De acordo com esta fonte, na última quinta-feira, dia em que o presidente proferiu a falsa afirmação, a Argentina ultrapassou a Polônia e subiu à 14ª posição do ranking mundial de mortes por milhão de habitantes, com 2.005. Já o Brasil está entre os dez nações com maior número de mortes por milhão. É o 8º país da lista, com 2.386 mortes por milhão.
3 – “Suposto alto preço contratado pela Covaxin é um erro de digitação”
Em um dos momentos mais pitorescos da transmissão presidencial, Bolsonaro tentou negar o sobrepreço de 1000% com que o Brasil contratou a compra de doses da vacina indiana Covaxin em relação ao valor informado pela própria embaixada brasileira no país. Ele disse que o número de 1000% surgiu de um erro de digitação constante em um suposto documento oficial.
“Por que 1000%? Porque teve uma nota, uma nota que era para (…) escrito lá 300 mil vacinas e faltava um 0. Na verdade, eram 3 milhões. Então, dá mais ou menos 1000% a diferença”.
Não há qualquer parentesco entre a realidade e explicação esboçada pelo presidente. A reportagem do Brasil de Fato falhou em encontrar sequer de onde teria vindo a inspiração de Bolsonaro para criar esta versão.
Existe, porém, um fato: o governo brasileiro contratou a aquisição de 20 milhões de doses da vacina Covaxin por um valor 1000% maior do que o anunciado pela própria fabricante – segundo correspondência oficial de autoridades diplomáticas brasileiras na Índia – seis meses antes. A informação foi revelada no dia 22 deste mês pelo jornal “O Estado de S.Paulo” e consta em documentos sigilosos obtidos pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19 no Senado.
4 – “O Brasil nunca assinou contrato de compra de vacina que não tivesse antes a aprovação da Anvisa”
O presidente afirmou que o seu governo “não assinou contrato de compra de nenhuma vacina que não tivesse antes a aprovação da Anvisa (Agência nacional de Vigilância Sanitária”.
É mentira. Conforme amplamente divulgado na imprensa e pelos próprios representantes do governo Bolsonaro, inclusive seu filho senador Flávio Bolsonaro (Patriotas-RJ), o Ministério da Saúde assinou contrato para compra de 20 milhões de doses da Covaxin no dia 25 de fevereiro deste ano. O contrato foi de R$ 1,614 bilhão, com previsão de que as primeiras 8 milhões de doses chegassem ao país em março, outras 8 milhões em abril e 4 milhões em maio.
Conforme também amplamente divulgado e documentado, a aprovação de importação do imunizante para o país só foi expedida pela Anvisa no dia 4 deste mês.
5 – “Fachin proibiu a polícia do Rio de realizar operações policiais”
Bolsonaro voltou a dizer, a exemplo do que fez na semana passada, que o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), proibiu operações policiais à caça de criminosos em comunidades populosas do Rio de Janeiro durante a pandemia. É mentira.
Na verdade, decisão do ministro Fachin, referendada pelo plenário corte, estabeleceu que as operações ficassem restritas a casos excepcionais e fossem informadas e acompanhadas pelo Ministério Público, sem jamais proibi-las.
Tanto as operações não foram proibidas que, no início de maio deste ano, uma ação policial executada no Jacarezinho entrou para história do Estado do Rio de Janeiro e estarreceu o mundo, ao deixar 28 mortos sob o céu da comunidade da zona norte da capital fluminense.