Entrevista com a coordenadora da Secretaria de Gênero e Etnia da CONTEE, Rita de Fraga Almeida Zambon

Qual sua opinião sobre a campanha 16 Dias de Ativismo e como ela pode contribuir no combate à violência contra a mulher?
Qualquer campanha que venha a se opor a qualquer tipo de violência é muito bem vinda. Hoje a mulher vem sofrendo uma violência, por vezes silenciosa, e que lentamente a chega a ser fatal. Temos como Confederação de Trabalhadores em Educação um papel fundamental de contribuir como agentes no combate a essa violência. Com diversos tipos de informação: desde informações básicas – onde são as delegacias de mulher, disque denúncia – até questões mais subjetivas – quais os tipos de violência que assolam as mulheres hoje e onde podem ocorrer (na rua, no transporte público, no ambiente de trabalho, em casa) e por quem (vizinho, filho, marido, namorado, desconhecido, patrão, colega, pai, padrasto, irmão). Mas também trazendo a reflexão sobre as relações de gênero e a grande reprodução de estereótipos feita pelas escolas.

Por que o silêncio é difícil de ser rompido, mesmo com a Lei Maria da Penha?
Devido ao fato de a violência se dar por pessoas próximas e afetivamente muito ligadas. Daí a noção de que essa violência praticada pode ser superada, uma vez que há a esperança de que não aconteça mais. Um simples abraço, beijo, uma simples flor pode ser instrumento que ameniza e reforça a necessidade de calar e tentar superar. Muitas vezes não se utiliza a lei, não avaliando que a próxima vez será pior. Já esta mais que comprovado que o silêncio e a tentativa de superação não impedem que a violência continue acontecendo.

Como a violência contra a mulher atinge as professoras nas escolas?
Além da violência vivida inúmeras vezes em seus ambientes domésticos, o ambiente de trabalho é também um foco de violência, não só para mulheres, para todos os trabalhadores. Acontece que a área educacional é um ambiente majoritariamente feminino. Podemos estimar 80% de mulheres. Portanto, nesse caso evidencia-se como uma violência contra a mulher. Mas entendo que é uma violência contra empregados. No entanto, não podemos descartar o tipo de violência como a humilhação, o constrangimento. São tipos de violência que ferem tão fundo, machucam tanto, tem consequências tão graves de saúde e não deixam marcas na pele e são as mais difíceis de ser identificadas, inclusive pela vítima. Ela é agredida e nem se dá conta.

Quais as ações de combate a esse tipo de violência promovidas pela CONTEE?
Bem, a CONTEE já tem uma Secretaria de Gênero estruturada há anos, desde a professora Lucia Rincon. Temos feito trabalho de conscientização, seminários com as entidades, trazendo temas para serem discutidos, temas que possam orientar, temos participado ativamente de outros encontros, inclusive com entidades internacionais para avançar em questões mais pertinentes a nós. A CONTEE participa também da Red de Mujeres, cujo trabalho é desenvolvido pela Internacional da Educação na América Latina, que aprofunda o tema entre os países participantes. Uma troca de experiência que alerta que a violência acontece em todos os níveis sociais, intelectuais e em diferentes países, mas com semelhanças significativas. Também na produção de materiais, a CONTEE busca contribuir com subsídios para o debate através de cartilhas, revistas e textos. A CONTEE também busca nacionalmente espaços nos mais variados fóruns de representação e já ocupou a vaga, em parceria com a CNTE, no Conselho Nacional da Mulher. A Coordenação da Secretaria também tem como proposta a interação com as demais entidades nacionais para debater e propor ações conjuntas. Já estamos preparando nosso próximo encontro para o primeiro semestre de 2013 e, junto com a Secretaria de Comunicação, estamos pensando em criar um blog da Secretaria de Gênero dentro do portal da CONTEE, para haver maior interatividade com as secretarias das mulheres das entidades filiadas.

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