Escolas cívico-militares: Um debate sobre educação e sociedade
Por Vitoria Carvalho*
Engana-se quem pensa que os problemas causados pelo Programa Nacional das Escolas Cívico-Militares (Pecim) foram resolvidos com a extinção do projeto bolsonarista pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em decisão anunciada em julho deste ano. O Ministério da Educação (MEC) vai encerrar o programa até o final deste ano. Contudo, as reações nas unidades da federação, sobretudo de governadores e parlamentares ligados à extrema-direita, continuam.
Na última segunda-feira (11), o deputado distrital Thiago Manzoni (PL) lançou a Frente Parlamentar em defesa das escolas cívico-militares, em Brasília. Ele alega que o atual cenário da educação no país passa por muitos desafios como a violência e baixa qualidade do ensino. E que as escolas militares vêm reduzindo a violência e promovendo a disciplina, o que é comprovadamente um engodo.
As escolas cívico-militares emergiram como um tema de grande controvérsia e debate em muitos países, incluindo o Brasil. Essas instituições, que buscam combinar elementos da educação civil com a disciplina militar, têm sido defendidas por alguns como uma solução para problemas de segurança e disciplina nas escolas. No entanto, elas também têm gerado preocupações significativas em relação à militarização do ambiente escolar, à participação da comunidade e ao impacto sobre os estudantes.
Um dos principais problemas das escolas cívico-militares é a militarização do ambiente escolar. Ao introduzir militares na administração e na rotina diária das escolas, existe o risco de que valores e estruturas hierárquicas associadas às forças armadas se sobreponham aos princípios de uma educação civil. Isso pode limitar a diversidade de perspectivas pedagógicas e o desenvolvimento do pensamento crítico entre os estudantes, prejudicando assim o objetivo fundamental da educação.
É importante lembrar que a militarização das escolas muitas vezes é apresentada como uma resposta simplista a problemas complexos no sistema educacional, como a falta de infraestrutura adequada, a formação insuficiente de professores e a desigualdade no acesso à educação. Esses desafios requerem soluções profundas e abrangentes, e a militarização pode desviar a atenção de questões subjacentes, criando uma falsa sensação de resolução.
A implementação de escolas cívico-militares frequentemente envolve a nomeação de militares para cargos de liderança, o que mina a voz dos educadores, pais e estudantes na tomada de decisões sobre o funcionamento da escola. Isso representa uma ameaça à gestão democrática da educação, enfraquecendo o envolvimento da comunidade na vida escolar e prejudicando a responsabilidade compartilhada pela qualidade da educação.
Outra questão crítica é o impacto emocional e psicológico que a presença militar pode ter sobre os estudantes. A militarização do ambiente escolar cria um clima de disciplina rígida e autoritarismo, que pode ser intimidante e estressante para alguns estudantes. Isso é particularmente preocupante para aqueles que já enfrentam desafios emocionais ou psicológicos, e pode comprometer seu bem-estar e seu desempenho acadêmico.
As escolas cívico-militares representam um problema complexo e controverso que demanda uma análise aprofundada e um debate público informado. Embora argumentos a favor desse modelo possam enfatizar a disciplina e a segurança, é essencial considerar as implicações mais amplas para a educação e para a sociedade. A militarização do ambiente escolar pode trazer consequências indesejadas, incluindo a erosão de valores democráticos, a limitação do desenvolvimento do pensamento crítico e o impacto negativo sobre os estudantes. Nesse contexto, é fundamental explorar alternativas que promovam uma educação de qualidade, inclusiva e democrática, buscando soluções mais holísticas para os desafios educacionais enfrentados.
*Vitoria Carvalho é estudante de jornalismo e estagiária da Contee