Espetáculo sobre trajetórias de vida de professores tem estreia gratuita em São Paulo
Uma peça em que a rotina dos professores se torna o espetáculo foi a ideia do diretor teatral Leonardo Costa, do grupo Quase9 Teatro. Formado em Artes Cênicas na Unicamp e mestrando em Educação na mesma instituição, ele fazia uma pesquisa sobre a o formação continuada de professores, usando o teatro como ferramenta, quando resolveu levar o projeto para fora do meio acadêmico. Convocou professores da rede pública de São Paulo e juntou um grupo de docentes que se tornariam atores de “meio expediente”. A peça Diários estreia sábado, dia 04, no Teatro Escola-SP.
Em três meses de reuniões e imersão no tema, o Quase9 filtrou memórias relacionadas à profissão de cinco professores, transformando as passagens mais marcantes em roteiro poético que seria levado aos palcos. Durante este tempo, Ana Sylvia Maris, Elisa Pegolaro, Fábio Lyra, Ge Dias e Thais Nihieles aprenderam práticas das artes cênicas, mas se apresentam com o conhecimento adquirido em sala de aula.
“A ideia é que o público em geral volte a olhar o professor como ser humano. E quem é da educação, veja com a coragem de colocar o assunto em discussão de novo”, diz Costa. Para ele, a greve dos docentes federais deve influenciar a reação de quem for ao teatro. “Um momento como esse ajuda a tornar mais potente [a peça]. O que é muito bom, porque é uma pena quando um tema como a educação não está potente.”
Durante o espetáculo, os atores-professores falarão de suas próprias experiências em sala e lembrarão momentos como quando escolheram a profissão e como é o contato com os alunos. Além disso, algumas bandeiras da categoria, como valorização da carreira e salário, surgem, em alguns momentos da peça, mas abordados de forma mais poética, segundo o diretor.
Ge Dias é o nome artístico de Geralda Aparecida Dias, diretora de uma pré-escola em Jundiaí. Na peça, ela fala sobre sua trajetória até chegar ao cargo que ocupa na educação. Foi empregada doméstica, parou de estudar na 8ª série. Casou-se, teve filhos, separou-se e, só então, voltou a estudar. Fez supletivo, entrou em uma faculdade particular, mas teve que abandonar por não conseguir pagar as mensalidades. Estudou para passar na USP, onde fez Letras. Continuou estudando, formou-se também em pedagogia e passou no concurso para o cargo da direção. “Para valorizar o trabalho como professora, tem que se valorizar como pessoa, principalmente porque somos a maioria mulheres na educação”, diz. Segundo ela, polir as memórias e contá-las ao público ajuda a resgatar as pessoas por trás da profissão.
O espetáculo fica em cartaz de 04 a 26 de agosto, aos sábados e domingos, às 19 horas. A peça foi montada no Teatro Escola-Sp, no Brás. A entrada é gratuita.
Financiamento. Diários pôde ser realizada com o suporte financeiro de um crowdfunding (fundo coletivo). O diretor colocou um vídeo do espetáculo no site Catarse e recebeu colaboração de quem acreditou no projeto. No entanto, o resultado foi maior que os R$6 mil arrecadados. “Vimos que a educação mexe mesmo com as pessoas. Recebemos contribuições do Rio de Janeiro, Brasília, Acre, Belém, Porto Alegre, gente que a gente nem conhecia. A movimentação nacional nos motivou e motivou os professores”, diz. A peça deve ser inscrita em editais para continuar sendo exibida depois desta primeira temporada.
Fonte: Estadão