“Estudantes estão em Porto Alegre para defender a democracia como princípio”
Lideranças estudantis históricas realizaram ato em apoio a Lula. “Ou enfrentamos a injustiça ou eles vão passar por cima de nós”
São Paulo – “Estamos trazendo nossas sedes para Porto Alegre não para demonstrar apoio eleitoral ao ex-presidente Lula. Os estudantes estão aqui para defender a democracia como princípio”, afirmou a presidenta da União Nacional dos Estudantes (UNE), Marianna Dias. A entidade, em parceria com a União Brasileira de Estudantes Secundaristas (Ubes), anunciou a transferência simbólica de suas sedes para a capital gaúcha, com o objetivo de fortalecer as manifestações em defesa do direito de Lula ser candidato à presidência no pleito deste ano.
A transferência foi marcada por um ato realizado na tarde de hoje (22), no Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Participaram do evento diversos estudantes, além de lideranças atuais e históricas das entidades, como o ex-presidente da UNE Aldo Arantes, que esteve à frente da organização em 1961. “Fui preso político, vivi na clandestinidade e fui deputado por duas vezes. Porém, as pessoas lembram de mim como ex-presidente da UNE, o que me deixa muito orgulhoso”, disse.
Arantes foi o primeiro a falar aos presentes e aos internautas que acompanharam a transmissão via redes sociais. Em sua apresentação, o ex-presidente da entidade falou sobre um importante momento do país que aconteceu durante sua gestão, a campanha da legalidade, comandada pelo então governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, que liderou uma mobilização em defesa da posse do vice-presidente, João Goulart, após a renúncia de Jânio Quadros em 25 de agosto de 1961.
“Vivemos um momento que, guardadas suas diferenças, podem ser pensado de forma semelhante. Vivemos (à época) a tentativa de um golpe que foi fracassada. Agora, também não vão conseguir impor a consolidação deste outro golpe”, pontuou. Setores militares, como comandos da Aeronáutica, pretendiam romper com a ordem jurídica para impedir a posse do vice de Jânio, que estava em visita à China. Para defender a normalização democrática, Brizola falava com a população por meio da Rádio Guaíba, em um estúdio montado no porão do Palácio do Piratini, sede do governo do estado.
Naquele ano, a UNE tomou a mesma atitude deste janeiro de 2018: transferiu sua sede para Porto Alegre, onde foi recebida “de braços abertos” por Brizola, como conta Arantes. “Naquele momento, os estudantes foram a base de apoio pela legalidade”, relembrou.
“Assim como no passado, mais uma vez, a UNE estará ao lado da retomada do caminho da democracia, da liberdade e da justiça. O golpe contra a presidenta Dilma se voltou contra tudo de bom que foi feito nesse país. Como Lula continuou e teve a sensibilidade política de não ficar parado, ele está no caminho de virar a situação. Tenhamos clareza: esse julgamento vai marcar a história política brasileira”, completou Arantes.
Instrumentos democráticos
A ex-presidenta da UNE Carina Vitral, que esteve à frente da entidade na resistência contra o impeachment de Dilma em 2016, afirmou que o Judiciário pode tentar “melar o jogo”, impactando negativamente na possibilidade dos brasileiros de exercerem o direito ao voto. “Querem impedir que um importante líder esteja nas urnas. Lula é atacado pelo partido da Lava Jato, assim como os movimentos sociais e a imprensa livre e independente. A universidade brasileira também está na mira do partido do Judiciário”, disse.
Já o também ex-presidente da UNE durante a campanha em defesa do impeachment do ex-presidente Fernando Collor, em 1992, e atual senador Lindbergh Farias (PT-RJ), lamentou a fragilidade da democracia brasileira. “A democracia sempre foi exceção. Se querem colocar o país na instabilidade, nós vamos lutar nas ruas e nas urnas. A gente só vai derrotar este golpe com mobilização popular.” Posição também defendida pela pré-candidata à presidência pelo PCdoB, Manuela D’Ávila, que presente ao ato. “Defender a candidatura do Lula é defender de forma profunda e radical a democracia.”
Por fim, falou a presidenta do PT, a senadora Gleisi Hoffmann (PR). “O que está em jogo aqui é o direito ao voto de parcela expressiva da população. Vivemos uma democracia de baixa intensidade, onde o voto é o principal instrumento. Ver esse instrumento ser atacado nos deixa muito preocupados”, reiterou.
“Ou enfrentamos a injustiça ou eles vão passar por cima de nós. Isso está sendo construído desde o impeachment. Eles querem disputar as eleições só entre eles, sem mudar o projeto ou o programa. Se eles queriam fazer o enfrentamento, deram a largada. Se esperavam que estaríamos desmobilizados agora em janeiro, enganaram-se. O Brasil está mobilizado, de olho em Porto Alegre. Viemos para cá não apenas para ver os juízes. Viemos para mostrar que nós existimos e resistimos. Que vamos lutar pela democracia”, completou.