Fepesp e SinproSP: Manifesto em defesa da educação e da vida
A escola é organização com mais de cinco mil anos de existência. A educação escolar é imprescindível para as vivências e o preparo dos desafios e conflitos que ocorrem na sociedade.
A sala de aula é – e sempre será – o espaço insubstituível a garantir o exercício cotidiano das dúvidas e curiosidades, o encontro generoso das diversidades e a construção democrática e plural do conhecimento. Nela, o acolher e o compartilhar múltiplos afetos e tantas histórias e experiências que se cruzam e se tocam, na presença também das tensões e conflitos, oferecem a possibilidade extraordinária de superação de processos burocráticos e tecnicistas, para finalmente fazer explodir sonhos e consciências críticas e questionadoras. Esperançar, como ensinava mestre Paulo Freire. Nós, profissionais de educação, mais do que qualquer autoridade que diz agora que educação é atividade essencial, queremos escolas abertas.
Mas queremos escolas abertas com responsabilidade e segurança, no tempo certo, de acordo com os cuidados e os critérios definidos pela Ciência – e sem o pulsar do pavor. Não aceitamos que a sala de aula deixe de ser esse espaço de presença de esperanças para se transformar em lugar de luto e medo. É brutalmente desumano exigir, em plena pandemia com quase 400 mil mortes, transformada no Brasil em tragédia humanitária graças ao negacionismo e à omissão do governo federal (em sintonia ainda com autoridades estaduais e municipais), que milhões de pessoas transitem diariamente pela cidade, fazendo circular também o vírus. O que dizer de aulas presenciais que acontecem em salas apertadas e superlotadas, sem ventilação, sem distanciamento possível entre as alunas e os alunos, sem estrutura para dar conta de procedimentos sanitários elementares, sem que máscaras adequadas e em quantidade suficiente sejam distribuídas à comunidade escolar? São também violentamente perversas, mais um convite ao genocídio, as falas e ameaças de gestores públicos marqueteiros e de empresários e movimentos ilusionistas que se movem apenas pela lógica do lucro, a ignorar cientistas e exigir a imediata e incondicional reabertura das escolas.
Essa volta ao ensino presencial não pode se pautar por interesses políticos imediatistas, pressões econômicas ou projetos obscurantistas. Nesse momento de gravíssima crise sanitária vivida pela sociedade brasileira, garantir ensino remoto para todas e todos, com auxílio emergencial federal/estadual/municipal de, no mínimo, R$ 600,00, e a possibilidade efetiva de distanciamento social, são urgências civilizatórias e de Saúde púbica. Para que as escolas possam ser reabertas é imperativo que sejam rigorosamente seguidas as recomendações feitas pelas universidades públicas e centros de excelência de pesquisa no país, reverberadas pelos mais renomados e renomadas epidemiologistas e infectologistas do Brasil: redução drástica da transmissão comunitária do vírus (taxas de contágio de 0,5 por um período de sete dias consecutivos); diminuição significativa das curvas de internações em enfermaria e UTIs e também dos registros de mortes; programa efetivo de testagem da população; vacinação em massa, via Sistema Único de Saúde, para todas e todos; e vacinação de todas e todos os profissionais da educação, sem corte de idade. É preciso ouvir e seguir a Ciência – para proteger e preservar vidas.
Nessas condições — e somente quando essas condições forem alcançadas e garantidas —, as escolas e salas de aula poderão novamente ser ocupadas pelos questionamentos, sonhos, aprendizados, debates, dúvidas, contradições e esperanças coletivas. Será possível, então, fazer transbordar nelas de novo as falas esperançadas de Paulo Freire.
Basta de medo, de luto. Nossa luta não é apenas pelas professoras e professores. É pelos estudantes e suas famílias. É pelos funcionários, funcionárias e auxiliares. É por todas e todos. É pela Vida.