“Fico preso 100 anos. Não troco minha dignidade pela minha liberdade”, diz Lula
O ex-presidente Lula, mantido como preso político na sede da Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba, desde abril do ano passado, concedeu pela primeira vez, nesta sexta-feira (26), uma entrevista aos jornalistas Florestan Fernandes Jr., do El País, e Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo, após ter sido autorizado pelo ministro Ricardo Lewandovski, do Supremo Tribunal Federal (STF).
O ex-presidente reiterou que é inocente e afirmou que pode ficar preso durante 100 anos, não importa, o que importa para ele é provar a sua inocência, pois, em suas próprias palavras, “não troco minha dignidade pela minha liberdade”.
Segundo o jornalista do El País, em sua versão online, é o Lula de sempre. Ele está igual. Quem esperava vê-lo envelhecido ou derrotado, se frustra. Ele tem fúria. E obsessão para provar sua inocência. “Não tem problema que eu fique aqui para o resto da vida. Quem não dorme bem é o Moro, Dallagnol e o juiz do TRF-4 [que confirmou sua condenação em segunda instância].”
Lula afirma não ter ódio nem guardar mágoa de ninguém. “Até porque, na minha idade, quando a gente fica com ódio, a gente morre antes e não quero morrer”, diz sorrindo. “Como quero viver até os 120, porque acho que sou um ser humano que nasceu pra viver até os 120, vou trabalhar muito para provar minha inocência e a farsa que foi montada. Por isso vim pra cá com muita tranquilidade.”
Lula apenas perde a seriedade e se emociona quando é questionado sobre a morte do irmão Vavá, em janeiro deste ano, e do neto, Arthur Araújo Lula da Silva, de 7 anos.
“Esses dois momentos foram os mais graves”, lembra ele, citando também a perda do ex-deputado Sigmaringa Seixas, morto no final do ano passado.
O Vavá é como se fosse um pai da família toda. E a morte do meu neto foi uma coisa que efetivamente não, não, não… [pausa e chora]. Eu às vezes penso que seria tão mais fácil que eu tivesse morrido. Porque eu já vivi 73 anos, eu poderia morrer e deixar meu neto viver.
“Não consigo imaginar os sonhos que eu tive pra esse país. O sonho que eu tinha quando a gente descobriu o pré-sal pra fazer esse país virar gigante. Eu tenho orgulho e eu sonhei grande porque passei a ser um presidente muito respeitado. O Brasil era referência.”