Flertando com o fascismo!
Por Nivaldo Mota*
O médico infectologista Humberto Motta, da cidade de Natal, Rio Grande do Norte, semanas atrás, em seu blog, denunciou alguns alunos do Colégio Marista daquela cidade, por preconceito, racismo, com “cânticos misógino e discriminatório, contra a torcida do Instituto Federal do Rio Grande do Norte”!
O acontecido de cunho fascista se deu na final do basquete juvenil masculino, competição escolar do estado. Esse tipo de comportamento vai ganhando corpo em setores da sociedade, que acha que o privado é melhor que o público. Fazer parte desse mundo reduzido e exclusivo começa a ser o sonho de uma parcela da população, mesmo que ela se ponha de joelhos às práticas fascistas!
O time de basquete do Marista de Natal venceu a partida, pais, alunos e funcionários entraram na quadra para comemorar e ouviram-se palavras de ordem como “1, 2, 3,4, cinco mil, quereremos Bolsonaro presidente do Brasil”, ou “sua mãe é empregada da minha”, em alusão ao estado social dos envolvidos naquela competição esportiva.
Eu não tenho dúvidas que parte da juventude rica ou de classe média anda hoje flertando com o fascismo, com um discurso mais que exclusivistas, próprio da luta de classes. Eles andam também com o ovo da serpente para ser chocado, o fascismo está cada vez mais presente em suas vidas. Votar no obscurantismo, ou pelo menos ter essa intenção, mostra o caráter de classe, a visão de mundo reduzida que esses setores absorvem no seu dia a dia.
Impressiona que na maioria das escolas particulares, principalmente aquelas de médio e grande porte, tem um discurso hoje para lá de liberal e antipovo (é bom citarmos) em suas entranhas. Falar em humanizar o mundo já é motivo para se rotular professores como um perigoso comunista, embora todos nós saibamos que nada se humaniza no capitalismo.
Uma parte dessa geração, enlouquecida que pelo pragmatismo dos pais, acredita piamente que só privatizando tudo que seja patrimônio nacional e estatal é que iremos sair da crise. Parte dessa geração acredita que nazismo é a mesma coisa que comunismo. Até quando vamos ter que ouvir ou ler asneiras como essas?
Ouvindo o relato do médico Humberto Motta, passa aquela sensação de que estamos perdendo o discurso e o embate das ideias para esses grupos! Parece, mas ainda não perdemos, estamos sim numa disputa, não como foi o jogo da final de basquete, mas o jogo real da vida, das nossas vidas. O que está em choque agora, mais do que nunca, ou é socialismo ou é barbárie capitalista! Ou nos posicionamos de forma categórica agora, nos unimos em uma Frente Ampla, ou pagaremos caro, não podemos nos isolar, não podemos perder este jogo!
Parte dessa geração vem sendo educada nos princípios exacerbados de uma religiosidade hipócrita, que em sua maioria propugnam os valores do “deus dinheiro”, independente de tabuletas na porta, propondo a salvação eterna.
A nossa elite conta com vários instrumentos de dominação. Embora, nos últimos treze anos, tenha havido vários momentos de avanços sociais em nosso país, com uma visão de mundo mais voltada para o social, não politizamos essas conquistas, não dissemos quem e qual governo estava à frente desse projeto de mudança; não podíamos ter sido tão republicanos assim!
Eles, os de cima na pirâmide social, utilizam-se de todos os mecanismos que o Estado burguês dispõe para eles mesmos, para retirar uma presidente honesta, com o argumento mentiroso de combate a corrupção!
Por outro lado, muitos professores(as) hoje fazem um discurso privatista, dizem que a iniciativa privada é o caminho, tem alguns que até se fantasiam, nada contra, mas a preocupação não é com a fantasia em si, e sim com a mensagem que é passada a milhões de jovens ouvindo e em transe se preparando para entrar em uma universidade. O mercado assumiu de vez a educação, pagam caro por uma educação duvidosa, mas que garante o acesso aos filhos dos ricos e da classe média a uma universidade pública, enquanto os filhos do povo, da classe operária, dos cortadores de cana, que sustentam também essa universidade pública, têm uma dificuldade extrema.
Sim, é isso mesmo, aqueles tais, que acham que a vida só tem sentido se for a livre iniciativa, utilizam as universidades públicas para colocar em prática suas teses ultraliberais!
Todo um aparato é montado, desde a escola (privada), passando pelos cursinhos (privados), um discurso que vai moldando uma geração inteira, que tudo o que for de cunho social não presta, mas seus sonhos passam ainda por uma universidade pública ou concurso público, se apoderando do Estado; não largam o osso, ou melhor, não querem largar o filé mignon.
Criticam o Estado, suas políticas e as conquistas sociais para os mais carentes. Esse foi um dos discursos de ódio durante o impecheament de Dilma Rousseff. Os vídeos contra o Bolsa Família eram um dos mais destacados, condenavam os governos Lula/Dilma por “alimentarem vagabundos”, este era um dos discursos preferidos dessa gente!
Essa mesmo elite atrasada, que tem os pés no Brasil, mas a cabeça em Miami, pensa ainda como se estivesse em pleno século XIX, os discursos dos seus filhos bem criados, reproduzidos em larga escala, é o discurso do ódio, do preconceito e da visão escravagista!
*Nivaldo Mota é vice-presidente do Sinpro-AL e integrante da Diretoria Plena da Contee
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