Flexibilização da Voz do Brasil atende interesses comerciais

Medida provisório aprovada na Câmara dos Deputados nesta terça amplia em uma hora o horário de transmissão do programa, das 19h às 21h

842ed358283c70e61d3d96f663a23becA flexibilização do horário de transmissão do programa A Voz do Brasil representa mais uma vitória do lobby das emissoras comerciais de radiodifusão no Congresso Nacional. No ar há mais de 70 anos, o programa cumpre um papel que as emissoras comerciais não assumem: leva diariamente aos brasileiros residentes nos locais onde a informação chega de modo precário os principais acontecimentos dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Atualmente, vai ao ar das 19 às 20 horas, mas com a aprovação da Medida Provisória 742/16 poderá ter sua transmissão flexibilizada para a faixa das 19 às 21h. “Somente para atender a interesses comerciais das emissoras de rádio”, afirma o radialista Nascimento Silva, secretário de Políticas Públicas do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC).

A MP 742/16 foi aprovada pelo Plenário da Câmara dos Deputados nesta terça (8/11) e originalmente previa a flexibilização do horário de veiculação apenas durante os Jogos Olímpicos e Paralímpicos (entre 5 de agosto e 18 de setembro). A matéria, agora, segue para o Senado, onde também encontrará terreno favorável para a flexibilização, avalia Nascimento Silva, que também é membro do Conselho de Comunicação Social (CCS) do Congresso Nacional. “Conseguimos adiar a aprovação de um parecer favorável a essa flexibilização por duas ou três vezes no âmbito do CCS. Realizamos audiência pública, mas poucas foram as vozes que se colocaram contra essa pauta lá dentro, e o próprio Conselho acabou sendo favorável a ela”, lamenta Silva.

Renata Mielli, coordenadora-geral do FNDC, também ressalta o interesse comercial na flexibilização da transmissão d´A Voz do Brasil.  “É mais a vitória do setor privado, que sempre fez campanha por isso e é a quem interessa calar e cercear todas as outras fontes de informação. O mercado quer o controle absoluto da informação que circula no país”, afirma. “A Voz do Brasil é a única fonte de informação sobre políticas públicas e outros assuntos de interesse nacional para milhões de brasileiros. E até por ser o programa de rádio mais antigo do país as pessoas já estão habituadas àquele horário. Bem ou mal, o programa cumpre o papel de levar informação com um mínimo de equilíbrio editorial em regiões onde somente os parlamentares mais prestigiados pela mídia local ganha espaço nas coberturas”.

deec43de3c7636ef949af061bc0b2219A MP não prevê alteração no formato do programa, que continuará tendo 25 minutos para veiculação de assuntos relativos ao Poder Executivo; cinco minutos para o Poder Judiciário; 10 minutos para o Senado Federal; e 20 minutos para a Câmara dos Deputados. O texto aprovado na Câmara é uma emenda do deputado Antonio Imbassahy (PSDB-BA) e altera a Lei 4.117/62 (Código Brasileiro de Telecomunicações), que obriga a veiculação do programa entre 19h e 20h em todo o País, exceto aos sábados, domingos e feriados.

Lobby comercial

Em 2014, a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (ABERT) lançou a campanha “A Voz que eu quero ouvir”, para pressionar o Congresso Nacional a aprovar o projeto PL 595/2003. Na época, foram veiculados vários spots e anúncios pelas emissoras afiliadas. Entre os argumentos, estava o de que “às 19 horas, o brasileiro precisa saber como está o trânsito para voltar para casa, precisa ouvir músicas para descansar de um dia intenso de trabalho”. “É a ideologia do Estado mínimo em ação, que dá aos capitalistas o poder de decidir o que é bom para a população de acordo com seus próprios interesses”, arremata Nascimento Silva.

Do FNDC

 

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