#ForaBolsonaro denunciará genocídio da população negra no dia 20 de novembro

Número de mortes por Covid-19 entre negros é maior do que entre não negros. Denúncia sobre genocídio estará na mobilização pelo #ForaBolsonaro no feriado da Consciência Negra, em 20 de novembro

O genocídio da população negra brasileira, mais afetada pelas altas taxas de mortalidade por Covid-19 do que a não negra, será um dos temas que serão denunciados no dia 20 de novembro, feriado que celebra o Dia da Consciência Negra. Este ano, a mobilização unificou as pautas específicas do movimento negro às lutas urgentes da classe trabalhadora brasileira para fazer grandes atos pelo #ForaBolsonaro em todo o país.

A gestão e o comportamento do presidente Jair Bolsonaro são responsáveis pela tragédia econômica e social vivida pelos brasileiros e a população negra, por diversos aspectos, é a mais impactada. Por isso, o grito dos brasileiros pelo impeachment do presidente será também o grito contra o racismo – uma das características deste governo, explica secretária-adjunta da Secretaria de Combate ao Racismo da CUT Nacional, Rosana Fernandes.

“E racismo mata”, reforça a dirigente, complementando: “Não bastassem os índices da violência contra a população negra e a menor expectativa de vida, os números da pandemia mostraram que o índice de mortes por Covid-19 entre negras e negras é maior do que para a população não negra”.

Um dos dados do relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI da Covid) do Senado, que apurou a a atuação e omissão do governo Bolsonaro no enfretamento desastroso à pandemia, levantado pelo Instituto Polis, mostra que a taxa de mortalidade por Covid-19 entre homens negros era de 250 por 100 mil habitantes enquanto a de brancos era de 157 óbitos por 100 mil habitantes.

Outro dado, do Instituo Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta que negros representam 57% dos mortos pela doença enquanto brancos são 41%.

O Mapa da Desigualdade da Rede Nossa São Paulo também mostra que a Covid-19 matou mais negros do que não negros. Entre esta população, em 2020, 47% dos óbitos registrados tiveram como causa a doença. Já entre a população branca o índice foi de 28,1%.

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), organização que reúne 38 países, entre eles o Brasil, elaborou um relatório que mostra que em nosso país, o risco de morte por Covid é 50% maior para a população negra.

Por quê?

Para a secretária adjunta de Combate ao Racismo da CUT, Rosana Fernandes, este é um retrato das consequências do racismo no país, que perdura desde os tempos da escravidão, vinha sendo combatido com políticas afirmativas durantes os governos populares de Lula e Dilma, mas que desde 2019, com Bolsonaro, voltou a ser naturalizado por parte da sociedade.

Ela explica que a pandemia mata mais negros e negras por uma série de fatores, mas há dois que se destacam. “Um deles é o fato de que a vacinação começou na faixa etária mais alta e quem tem a expectativa de vida maior no Brasil, não é a população negra”, ela diz.

Portanto, sendo os não negros os primeiros a serem vacinados, estes garantiram uma proteção maior contra o vírus do que os negros, que continuaram mais vulneráveis.

A expectativa de menor longevidade entre os negros se dá pelas condições vida impostas a essa população. “Os lugares onde não há saneamento básico, água tratada, acesso a serviços públicos são as periferias, onde a maioria da população é negra”, diz Rosana.

Além disso, as moradias são precárias, pequenas e com número grande de familiares, portanto, com maior risco de contágio entre os próprios familiares que não têm o ‘privilégio’ de poder manter um mínimo de distanciamento social.

Outro fator para a taxa de mortalidade por Covid-19 ser maior para negros e negras é que esta população também não teve outro ‘privilégio’ – o de trabalhar em casa durante a pandemia.

“Aqueles que não perderam o emprego, tiveram de se sujeitar aos riscos no transporte público, no comércio que continuou funcionando como os supermercados, os entregadores de aplicativos, grande parte dos profissionais que trabalham na saúde como assistentes e na limpeza dos hospitais, assim como os trabalhadores na limpeza pública – categorias em que majoritariamente os trabalhadores são os negros e negras”, pontua a secretária-Adjunta de Combate ao Racismo da CUT Nacional.

Expectativa de vida menor – saúde

“Em pleno século XXI, com avanços tecnológicos constantes, toda a modernidade, é um escândalo abrir a porta de casa e dar de frente com um córrego, com esgoto correndo a céu aberto, não ter água potável”. Ao relatar esta realidade, Rosana Fernandes afirma que é grave ainda haver falta de saneamento básico em muitos locais.

A maioria das pessoas expostas a essa condição é negra e a falta de condições mínimas é fator determinante para a degradação da saúde humana, explica a dirigente.

Outra causa é a falta de acesso aos serviços públicos essenciais, como a saúde. “É um problema dos governos municipais, estaduais e federais que investem pouco na saúde pública brasileira. Como a população negra depende disso, fatalmente é prejudicada”, afirma Rosana, que complementa afirmando que muitas vezes o hospital é longe e a pessoa sequer tem o dinheiro do transporte para chegar até lá.

Ela cita como causa da menor longevidade os altos índices de violência contra a população negra. De acordo com o último Atlas da Violência, elaborado pelo Instituo de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em dez anos (2008 a 2018), os casos de homicídio de pessoas negras (pretas e pardas) aumentaram 11,5%, enquanto de pessoas não negras apresentou queda de 12,9%.

“Por isso, ainda ocupamos os piores índices sociais e infelizmente nossa expectativa de vida é menor”, acrescenta a dirigente.

Governo genocida

O último período, diz Rosana, foi de enfrentamento a um governo que nunca teve vergonha de se dizer homofóbico, machista e extremamente racista. “Quando se tem o chefe maior de uma nação falando as bobagens que fala, várias pessoas que antes tinham minimamente vergonha de se dizerem racistas, acabam se sentindo legitimadas a reproduzir esse discurso violento”, diz Rosana.

Mas a resistência faz o contraponto. Tanto a luta da CUT, das centrais e de movimentos populares como a consciência de grande parte da sociedade fortaleceram o diálogo sobre a luta antirracista. “Pessoas começaram a não aceitar o racismo e passaram a integrar essa luta”, diz Rosana que cita as redes sociais como instrumento importante de denúncia.

O dia 20 – #ForaBolsonaroRacista marca a luta de Zumbi dos Palmares, que tinha como objetivo construir uma sociedade onde todos e todas tivessem as mesmas oportunidades. O movimento negro tem esse objetivo – quer uma sociedade com oportunidades, salários, condições e acessos.

CUT

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