Formadores e formadoras do CES em Cuba: Uma experiência para ficar em nossas mentes e corações
Por Liliana Aparecida de Lima*
O CES – Centro Nacional de Estudos Sindicais e do Trabalho desenvolve com a CTC – Central dos Trabalhadores de Cuba relações intensas e profundas de cooperação no campo da formação sindical e participa do Encontro Sindical Nossa América – Esna, que reúne Centrais Sindicais de toda a América, inclusive a CTB, nesta construção e esforço internacionais em torno da formação sindical.
Com o objetivo de intensificar a capacitação dos professores/as e formadores/as a uma melhor prática docente, uma delegação composta por 13 formadores/as do CES, sob a orientação e acompanhamento de Augusto César Petta (coordenador técnico do CES), esteve em Havana no período de 1º a 10 de Julho de 2015 para realizar, na Escola Superior do Partido Ñico López, o Curso de Postgrado de Didáctica para el CES, totalizando 64 horas presenciais.
Nesse curso foram desenvolvidos temas de caráter internacional com conteúdo sindical e político que contribuíram para a atualização dos dirigentes sindicais, a saber: O contexto internacional atual; A unidade sindical; O projeto político-pedagógico; O modelo pedagógico; A experiência Cubana no ensino de quadros políticos; Concepções da preparação de quadros políticos; A pedagogia participativa e as tendências que a sustentam; Particularidades da didática; A disciplina integradora; Contextualização do programa de estudo; Enfoque político e ideológico e seu asseguramento didático; A preparação estratégica situacional; Estratégia de capacitação para quadros dirigentes e instrutores do CES.
Além desses temas desenvolvidos em sala de aula, foram realizadas duas atividades extracurriculares, sendo umas delas uma visita à Escola Provincial “Olo Pantoja”;a outra foi a presença da delegação brasileira na Central de Trabalhadores de Cuba – CTC, onde fomos recebidos pelo coordenador-geral da Central Cubana e alguns secretários e assessores.
Eu estava lá! Além da riqueza do convívio diário com os/as companheiros/as de estudos de vários estados do Brasil (Maranhão, Bahia, Minas Gerais, Rio Grande do Norte e São Paulo), destaco o quão ricas foram as aulas que tivemos com professores/as extremamente capacitados do ponto de vista teórico, ideológico, político e pedagógico; as conversas com os/as cubanos/as nas ruas; o contato com a cultura e a música cubanas (eles dançam e cantam o tempo todo); o otimismo de um povo tão lutador e tão vencedor; entrar em contato com as dificuldades materiais que eles possuem e como lidam com estas carências; a gentileza e a consciência que imperam dentro do ônibus lotado para que os idosos, as mulheres e as crianças façam seu trajeto sentados e em segurança… há muito o que dizer e espero que os meus/minhas companheiros/as de curso possam abordar em artigos posteriores aspectos que certamente deixarei passar.
Enquanto professora de profissão e formadora do CES, quero destacar a questão da educação em Cuba, que é desenvolvida com muito esmero, compromisso político e controle. Eles possuem um sistema de educação muito robusto e centralizado que está se construindo e se autoaperfeiçoando sistematicamente há anos.
A justificativa primeira é a de que quando a revolução ocorreu (1959) havia um povo, em sua grande maioria, analfabeto e com baixíssimo nível cultural. Para manter os ideais revolucionários é preciso educar o seu povo e proporcionar-lhe o aprendizado de valores éticos e humanos, além do fortalecimento ideológico e político de seus cidadãos. Investiram intensamente na educação dos/as cubanos/as e em dois anos aniquilaram o analfabetismo (1961).
Outro aspecto que quero destacar e que ouvimos de vários/as professores/as diz respeito ao contexto delicado e complexo pelo qual passa Cuba neste momento de restabelecimento das relações diplomáticas com os Estados Unidos após mais de 50 anos de bloqueio financeiro e comercial à ilha, embargo este que ainda permanecerá até que o Congresso Norte Americano debata e decida pelo fim do mesmo, pois não depende apenas de uma decisão do presidente dos Estados Unidos para pôr fim a esta situação.
Perguntamos aos/às professores/as em nosso curso: Os/as cubanos/as estão preparados ideologicamente e convictos de suas posições políticas na construção do socialismo? Ouvimos que sim, com muita ênfase e emoção ouvimos que sim! Eles estão preparados ideologicamente para salvaguardar o regime político socialista que conquistaram com muito sangue e muita luta.
Enquanto pertencentes a um país capitalista, eu pude perceber o quão preocupados estivemos este tempo todo com eles, alertando-os para a ofensiva capitalista impiedosa e nefasta que abalroa e seduz, sobretudo os jovens, para os encantos e alcances da tecnologia que poderá levá-los para um mundo de possibilidades de informações e de consumo.
Ao chegar em casa, já aqui no Brasil, recebo a Revista Princípios nº 136 de Maio/Junho e reproduzo alguns trechos do discurso proferido por Raúl Castro durante a 1ª participação de Cuba na 7ª Cúpula das Américas, ocorrida nos dias 10 e 11 de Abril de 2015, na capital do Panamá, e que expressam a convicção ideológica dos/as cubanos/as que vimos e ouvimos durante o período em que fizemos o curso.
“(…) Cuba continuará defendendo as ideias pelas quais nosso povo assumiu os maiores sacrifícios e riscos e lutou ao lado dos pobres, dos doentes sem assistência médica, dos desempregados, das crianças abandonadas a sua sorte ou forçadas à prostituição, dos que tem fome, dos discriminados, dos oprimidos e dos explorados que constituem a grande maioria da população mundial.” (pg.15).
Segue ainda: “Nós não nos vamos deixar deslumbrar ou colonizar novamente.” (pg.15).
E para finalizar diz Raúl Castro: “(…) Cuba, país pequeno e desprovido de recursos naturais, que se tem desenvolvido em um contexto sumamente hostil, conseguiu atingir a plena participação de seus cidadãos na vida política e social da nação: uma cobertura de educação e saúde universais, de forma gratuita; um sistema de segurança social que garante que nenhum cubano fique desamparado; significativos progressos rumo à igualdade de oportunidades e no enfrentamento a toda forma de discriminação; o pleno exercício dos direitos da infância e da mulher; acesso ao deporte e à cultura; o direito à vida e à segurança dos cidadãos.” (pg. 16).
O CES cumpriu um relevante papel oportunizando aos/às formadores/as esta importante experiência de intercâmbio social, cultural, político, ideológico e pedagógico.
Os/as professores/as cubanos/as aprenderam muito conosco também, compartilhamos nossas experiências enquanto formadores/as sindicais nesta tarefa que desenvolvemos junto ao CES, ministrando cursos de formação e de gestão sindicais, realizando planejamentos estratégicos nas entidades, sempre considerando as nossas dimensões geográficas, os nossos limites institucionais contextualizados a realidade brasileira. Considero que foi uma troca enriquecedora e profícua para os/as cubanos/as também.
Certamente voltamos todos/as, alunos mais integrais e mais preparados para dar continuidade ao projeto do CES neste imenso desafio que é o de formar ideologicamente e politicamente os /as trabalhadores/as de nosso imenso país. Tarefa esta que exige, mais do que nunca, sobretudo diante da atual situação de crise que o nosso país atravessa, unidade de todos os que acreditam e estão envolvidos neste projeto ambicioso de formar mentes e corações, conscientes e apaixonados pela luta por um mundo melhor.
Digo mentes e corações apaixonados sim, porque a emoção com que os/as professores/as nos transmitiram os conhecimentos mediados pela pedagogia participativa foi essencial para criar uma atmosfera de aceitação pelas nossas ideias, valorização de nossas experiências, compartilhamento de nossas dificuldades e, sobretudo, otimismo para continuar acreditando que lutar pelo socialismo vale à pena.
Que nossa prática seja enriquecida com esta oportunidade que tivemos e que continuemos contribuindo para o projeto de formação do CES na direção da elevação do nível de consciência política da classe trabalhadora.
*Liliana Aparecida de Lima é psicóloga, psicoterapeuta, psicodramatista didata supervisora, professora da PUC-Campinas, professora do CES, diretora de Formação do Sinpro Campinas e Região e diretora da Apropucc