Formar, informar e refletir sobre a Comuna de Paris
Há dez anos, a professora Madalena Guasco Peixoto, atual coordenadora da Secretaria Geral da Contee, escreveu a apresentação do livro Comuna de Paris – O proletariado toma o céu de assalto, de Sílvio Costa. A reprodução dos texto de Madalena encerra a série publicada pelo Portal da Contee para celebrar os 150 anos da comuna parisiense de 1871:
Na História da humanidade, os acontecimentos se acumulam aos trilhões. Alguns se destacam, outros desaparecem em meio às inúmeras casualidades, próprias da maneira pela qual a história humana é tecida. Compreender a importância de determinados fatos em relação aos demais, guardadas as necessárias correlações – retirando do particular o específico e buscando ultrapassar os limites estreitos do pontual, do cotidiano desprovido de lógica –, é tarefa científica porque demanda o entendimento da história como processo, conectada, e não como sucessão de flashes isolados. Isso exige um mergulho no passado, por intermédio de uma análise, de maneira a permitir que sejam destacados – entre tantos – os fatos mais relevantes, os marcos capazes de suscitar reflexões passíveis de atualização em todas as oportunidades nas quais nos debruçamos sobre eles para estudo.
O interesse que move esse mergulho não é apenas teórico-abstrato, mas, sobretudo, ideológico, político e prático.
Se o estudo histórico já tivesse sido entendido dessa maneira, a modernidade teria deixado um grande legado, não fossem tantos outros que, em nome do fim dessa modernidade e do início de uma nova era – pós-moderna –, reduzem metafisicamente os dois extremos opostos, ou seja, simplificam o que é processo vulgarizando o estudo da história. Fazem isso por meio da negação da possibilidade de entendimento das relações e conexões de sua emaranhada teia. Essa tem sido a faceta mais sofisticada e sutil da proclamação do “fim da história”.
Optar pelo estudo da história como ciência traduz-se numa escolha teórico/prática dentro da intrincada luta de ideias dos tempos atuais. A Comuna de Paris é um estrondoso fato histórico, um enorme iceberg impresso na História de forma definitiva, porque suscitou todos os tipos de registro e desde aquela época vem sendo estudado.
O próprio Karl Marx destacou sua importância, retirando daquilo a que chamou “assalto aos céus” conclusões fundamentais, as quais vieram a compor o núcleo principal de sua teoria.
Neste ano de 2011, em que comemoramos os 163 anos da publicação do Manifesto do Partido Comunista, a Comuna de Paris completa 140. A obra de Sílvio Costa nos ajuda a entender melhor a correlação entre esses dois relevantes acontecimentos.
Do Manifesto do Partido Comunista – programa maior de luta pelo socialismo –, a construção em processo da teoria do proletariado decorre da análise das experiências históricas de tomada do poder pela classe operária.
O estudo da primeira revolução operária internacional, a Comuna de Paris, terá sempre grande relevância teórica. As reflexões que nascem desse estudo vão surgindo por meio da fácil leitura desta obra, Comuna de Paris: o proletariado toma o céu de assalto, dada a maneira didática como se encontra construído o texto.
O trabalho de Sílvio Costa situa o leitor, levando-o a entender o panorama histórico e os importantes fatos nele contidos, bem como as correlações entre os acontecimentos, possibilitando ao leitor tirar conclusões do exame dessas ocorrências. Essa é uma preocupação contida no corpo desta obra. Contudo, ela se expressa mais fortemente nos anexos, apresentados em destaque ao final de sua edição.
A presente obra está marcada pelo empenho simultâneo em formar, informar e refletir. Trata-se de um cuidadoso projeto, o qual, ao ser publicado, traz em si a marca de um formador de opiniões cujo estudo possui objetivos práticos: reflexão conjunta e crescimento mútuo.
Profa. Dra, Madalena Guasco
Faculdade de Educação da PUC-SP