Fundamentalistas evangélicos avançam com proposta de proibir casamento homoafetivo

Comissão na Câmara aprovou relatório de pastor que tenta proibir o casamento homoafetivo após manobra. Texto ainda passará por duas comissões, incluindo a CCJ

Parlamentares evangélicos extremistas aplicaram uma manobra nessa terça-feira (10) na Comissão de Previdência, Assistência Social, Infância, Adolescência e Família da Câmara. Apresentaram nova versão do relatório que deturpa um projeto de lei para tentar proibir o casamento homoafetivo no Brasil. A iniciativa foi do relator fundamentalista do grupo político do ex-presidente Jair Bolsonaro Pastor Eurico (PL-PE). Então, à revelia dos deputados democratas que abandonaram a sessão, o colegiado aprovou a matéria por 12 votos a 5.

Já existe entendimento claro do Supremo Tribunal Federal (STF) favorável ao casamento homoafetivo. Agora, o projeto passará por mais duas comissões. Primeiro, pela Comissão de Direitos Humanos, Minorias e Igualdade Racial, presidida pela deputada Luizianne Lins (PT-CE). Depois, pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania, presidida por Rui Falcão (PT-SP). Além do posicionamento firme da Justiça contra o projeto de discriminação, as comissões seguintes não contam com hegemonia de radicais. Por isso, a expectativa é de impedir que o texto chegue ao plenário. Isso, porque o texto é inconstitucional.

Hoje, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) divulgou parecer confirmando a inconstitucionalidade da iniciativa. “Não é razoável a proibição que referido projeto quer instituir; por ser segregacionista pretende a proibição de toda a parcela de uma população de exercer o direito ao casamento civil em razão de sua orientação sexual ou identidade de gênero. E nem se diga que não haveria discriminação, porque pessoas LGBTQIA+ poderiam se casar com pessoa do outro sexo ou gênero, como incrivelmente se alega por vezes, porque o que se discute é a discriminação que existe à pessoa que deseja se casar civilmente com pessoa do mesmo sexo e é impedida de fazê-lo”, afirma parecer da entidade.

Casamento homoafetivo

A OAB prossegue em sua argumentação ao recordar posicionamento jurisprudencial de tribunais superiores sobre o tema. É consenso na Justiça a legalidade e constitucionalidade do casamento homoafetivo. “Esse argumento (dos radicais) já foi rejeitado pelo STF, quando julgou procedentes a ADPF 132 e a ADI 4277, quando reconheceu que a união duradoura, pública e contínua entre pessoas do mesmo sexo constitui família conjugal e união estável constitucionalmente protegida, (…) tem ‘força de lei’, ante o efeito vinculante e a eficácia erga omnes que a Constituição impõe às decisões de ações de controle abstrato e concentrado de constitucionalidade.”

O relatório de hoje é uma deturpação do projeto (PL 5.167/2009), de autoria do então deputado Clodovil Hernandez (PTC-SP). O projeto original, ao contrário do relatório, regulamentava e protegia o casamento homoafetivo. Contudo, o novo texto do Pastor Eurico acrescenta ao Código Civil o impedimento ao casamento de “pessoas do mesmo sexo”.

Manobras e repercussão

Até o início da sessão de hoje, havia um acordo para criar um grupo de trabalho para discutir o relatório de Pastor Eurico. Contudo, os extremistas impediram a criação do grupo, enquanto o pastor apresentou um texto substitutivo ainda no início dos trabalhos. “Não tivemos tempo sequer para discutir ou emendar o projeto. Nós, da bancada da democracia, da cidadania, da razoabilidade, nos retiramos da sessão para nem dar legitimidade à sessão. Vamos questionar a legalidade da votação de hoje. Teremos resistência jurídica e política”, afirmou o deputado Pastor Henrique Vieira (Psol-RJ), um dos grandes críticos ao projeto.

Henrique Vieira argumenta que o projeto apresenta uma visão de “sub-humanidade e subcidadania” ao não reconhecer o valor do casamento para pessoas do mesmo sexo. “Ataca os afetos, ataca os amores, as famílias. Somos contra isso no mérito e contra o método golpista e autoritário de fazer a votação. Mas tem muita luta pela frente, outras comissões. Não estamos de cabeça baixa. O amor vai vencer, pelas famílias, pela diversidade e pela democracia. Estarrecedor o projeto, mas o amor vai prevalecer”, completou.

Colega de partido de Henrique Vieira, Erika Hilton (SP) destacou a ilegalidade do projeto durante a sessão. “Mais uma vez, de forma desgastante, discutimos o óbvio. A inconstitucionalidade, a barbaridade, a monstruosidade que é o relatório deste texto que volta ainda pior. Temos pontos extremamente problemáticos que querem associar a homossexualidade a doenças. Esse relatório é abjeto, um escárnio, está calcado no ódio que reverbera pela boca de vossas excelências reunião após reunião. As pessoas estão vendo suas vidas atacadas por uma covardia, uma brutalidade”, disse.

Da Rede Brasil Atual

Artigos relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo