Grupo protesta na Feira do Livro contra ausência de debates sobre o genocídio palestino
Com bandeiras e cartazes críticos à ação de Israel em Gaza, militantes do núcleo palestino do PT passaram pelos estandes e tiraram fotos na praça em frente ao estádio do Pacaembu, onde ocorre o evento
Entre 10h30 e 11h da manhã, antecedendo o ato unificado em defesa da Palestina na Avenida Paulista, um grupo de militantes do Núcleo Palestino do Partido dos Trabalhadores (PT) protestou n’A Feira do Livro, na praça Charles Muller, em frente ao estádio do Pacaembu, contra a ausência de debates sobre o genocídio palestino na programação do evento.
Terezinha Pinto, coordenadora do núcleo, lembrou os mortos em Gaza e a importância da expressão do apoio internacional ao povo palestino. “Viemos aqui para mostrar que todos precisam tomar uma atitude, com urgência. Não podemos mais esperar”, disse a visitantes da feira que pediam informações e demonstraram apoio à ação. Desde outubro de 2023, ataques israelenses já mataram mais de 37 mil civis em Gaza.
Marcia Camargos, historiadora e militante petista, afirmou que a solidariedade à Palestina tem de fazer parta da pauta de qualquer evento cultural “digno deste nome”: “não podemos aceitar o silêncio diante do massacre de milhares de pessoas que estão confinadas pelo Estado israelense.” Edva Aguilar, também integrante do núcleo, perguntou: “quantas pessoas mais precisam ser assassinadas para que o tema ganhe o palco de eventos como este?”
Nos estandes, era comum encontrar visitantes, editores e mesmo vendedores das editoras usando a bandeira palestina ou o lenço palestino, o keffiyeh, como forma de apoio à luta anticolonial no Oriente Médio, em apoio mais discreto.
Palestina fora da programação
Na sexta-feira, o jornalista e fundador de Opera Mundi, Breno Altman, autor do livro Contra o Sionismo – Retrato de uma Doutrina Colonial e Racista (Editora Alameda), postou em sua conta pessoal no X (outrora chamado Twitter) uma carta dirigida ao organizador da feira, Paulo Werneck, também editor revista literária Quatro Cinco Um e responsável pela organização e curadoria d’A Feira do Livro.
Altman afirma no texto que a completa omissão da feira com relação aos acontecimentos em Gaza fez com que ele se sentisse “obrigado a interromper” a assinatura da publicação especializada em literatura.
“Como é possível que, dentre tantas mesas temáticas, nenhuma das previstas trate do genocídio que o Estado de Israel comete contra o povo palestino? Nada justifica estar excluído, do palco central dessa feira, o grande tema de nossa época”, questionou.
Apesar de não tratar do massacre na Palestina, A Feira do Livro terá mesas com diversos temas internacionais, como: “Esquerda e Direita sem extremos” (debate descrito na programação oficial como uma conversa sobre “o que significam hoje os conceitos históricos de direita e esquerda, numa conversa sobre o futuro das ideias e da política”), “Perspectiva Ameafricana” (sobre os aspectos do racismo nos Estados Unidos), “O Dia em que Apagaram a Luz” (sobre o incêndio que matou 194 jovens em Buenos Aires em 2004) e “Mundo do Crime” (com a advogada criminal e cineasta francesa Hannelore Cayre).
Além disso, a mesa “O que podemos fazer para reduzir as desigualdades sociais?” contará com a participação da banqueira Neca Setubal, uma das principais acionistas do banco Itaú, descrita como uma “liderança da filantropia” no Brasil.
Altman também questionou o conteúdo das últimas edições da revista Quatro Cinco Um a respeito do conflito, por seu viés favorável à narrativa de Israel. “Nas raras vezes em que foi abordada (a situação na Faixa de Gaza), ficou evidente a opção quase absoluta por artigos de simpatia sionista”.
“Mas a programação da feira enterra qualquer eventual explicação: obviamente havia tempo e espaço para que a tragédia do povo palestino fosse tratada com a devida importância. Ou você realmente acha que qualquer dos assuntos incluídos tem mais relevância humana e cultural?”, acrescentou Altman.
Segundo o fundador de Opera Mundi, a questão palestina “serve como régua moral de nossos tempos. A ação ou omissão a esse respeito define de que lado ético e histórico estamos”.
“Boa parte da intelectualidade brasileira está afundada nosilêncio covarde ou no interesse bem-remunerado. Bem sei que o lobby sionista é poderoso, faz joelhos tremerem. No entanto, eu tinha sinceramente a expectativa de que vocês poderiam ajudar a fazer diferente. Infelizmente parece que, ao menos por ora, me enganei”, completou Altman.
A programação oficial d’A Feira do Livro 2024 prevê atividades diárias até a jornada de encerramento, marcada para o dia 7 de julho.