Há o que comemorar, sob Bolsonaro, neste Dia Nacional da Conscientização sobre as Mudanças Climáticas
Neste 16 de março comemora-se também o aniversário de Petrópolis, embora haja pouco a celebrar na cidade arrasada pelos deslizamentos e enchentes. De quem é a responsabilidade?
Hoje, 16 de março, é o Dia Nacional da Conscientização sobre as Mudanças Climáticas. É também o aniversário de 179 anos da cidade de Petrópolis. Infelizmente, ambas as datas encontram elo na catástrofe. Neste ano, pouco restou a se comemorar na cidade serrana. Literalmente.
Terça-feira (15), um dia antes do que deveria ser de celebrações, completou-se um mês da série de deslizamentos e enchentes provocados pelas chuvas — provocados pelas chuvas? — que resultou em 233 mortes. Mais de 600 pessoas continuam desabrigadas; quatro seguem desaparecidas.
Segundo o sítio MetSul, especializado em conteúdo sobre meteorologia, não é possível ainda determinar qual a influência do aquecimento do planeta e das consequentes mudanças climáticas no desastre de Petrópolis. “A resposta é ainda não sabermos porque nem todo evento extremo tem impacto de mudanças no clima geradas pelo ser humano”, está escrito no texto.
Segue : “O que se sabe, por estar cabalmente demonstrado na literatura técnica, é que eventos de chuva extrema tendem a se tornar mais recorrentes à medida que o planeta aquece.”
Chuvas extremas no verão
No caso de Petrópolis, a relação é mais difícil de ser estabelecida, uma vez que a cidade, bem como toda a região serrana do Rio de Janeiro, possui longo histórico de chuvas extremas no verão. Também não foi evento de vários dias, como os registrados em Minas Gerais e Bahia, estados também fortemente atingidos por inundações e desabamentos nos últimos meses.
No entanto, o que se pode afirmar haver em comum em todos esses casos é a ação humana. Mais do que isso: é a ação humana impelida, por ganância, de um lado, e por total falta de possibilidades e perspectivas, de outro, pelo sistema capitalista.
É esse sistema que, em cada parte do Brasil, promove ocupação urbana desenfreada nos grandes centros, com falta de ventilação e impermeabilização excessiva do solo; é esse que desmata milhares de hectares de vegetação nativa para dar lugar a pastagens ou monoculturas; é esse que envenena rios e transforma morros de minério em cemitério de soterramentos; é esse que empurra a população pobre para o alto de encostas como única opção de moradia.
Tragédia e omissão
É por isso que tratar o que houve em Petrópolis como tragédia, como costumeiramente feito pela imprensa, é tentar tapar o “sol com a peneira”.
“Desde quando chuva é tragédia?”, questionou o professor Gustavo Burla, diretor de Comunicação do Sinpro-JF, na coluna semanal dele para o jornal O Pharol, numa Juiz de Fora também, entra verão e sai verão, atingida por fortes chuvas e seus impactos, sobretudo nos bairros mais populares.
Citando o crítico literário George Steiner, Burla lembra que “O personagem trágico é rompido por forças que não podem ser completamente compreendidas nem superadas pela prudência racional”. E continua: “Se no teatro o conceito de tragédia é bem definido, mesmo com alguns embates entre autores, na imprensa serve pra evitar usar outro, ainda mais claro: omissão”.
A mão do capitalismo
Dias depois das enchentes e deslizamentos, o Sinpro Petrópolis denunciou, em nota, como a lógica capitalista se impõe. “O Sindicato dos Professores de Petrópolis e Região (Sinpro) tem recebido relatos de colegas informando que algumas escolas estão exigindo de seus professores que continuem com as aulas virtuais, mesmo em condições precárias de trabalho por causa das chuvas que vêm assolando nosso município”, apontou.
“É uma questão humanitária, na atual situação de calamidade pública, que os professores tenham autonomia e liberdade de expressão para se dirigir aos seus empregadores e discutirem a melhor forma de as aulas serem ministradas — e que até sejam suspensas, dependendo da situação. Com isso, apelamos aos donos de escolas que sejam solidários não só com a população, mas também com os profissionais que empregam.”
Se não há sequer conscientização sobre condições mínimas de trabalho, como falar em conscientização sobre as mudanças climáticas? Essas provocadas pelo mesmo sistema.
Na última quarta-feira (9), durante o Ato Pela Terra, realizado em Brasília, vários artistas marcaram presença com o objetivo de sensibilizar e conscientizar a população e, principalmente, o Congresso Nacional, sobre os cuidados com a preservação do meio ambiente, tema diretamente relacionado às mudanças climáticas.
No mesmo dia, contudo, o plenário da Câmara dos Deputados aprovou, por 279 votos a 180, requerimento do líder do governo na Casa, deputado Ricardo Barros (PP-PR), a votação em regime de urgência do PL (Projeto de Lei) 191/20, que libera a mineração em terras indígenas. É possível que a proposta não seja aprovada, mas não necessariamente — o que seria desejado — por consciência ambiental, e sim porque afeta os interesses de grandes mineradoras, que já se posicionaram contra o texto.
Luta contra a exploração
Os temas são conexos. Neste 16 de março, a Contee reitera solidariedade aos familiares das vítimas, ao Sinpro Petrópolis e Região, e a toda a população do município, bem como afirma que nesse Dia Nacional da Conscientização sobre as Mudanças Climáticas deve ser também dia para reafirmar um dos tópicos aprovados, no ano passado, no 10° Congresso Nacional da Confederação (Conatee): frente à incapacidade do capitalismo do século 21 de resolver os principais problemas humanos, é fundamental que intensifiquemos nossa luta com base nas mudanças estruturais dos sistemas de produção capitalista e as novas formas de acumulação e exploração das riquezas.
Táscia Souza