Iniciativas de educação não-tradicional crescem no Brasil
“Está acontecendo hoje, no Brasil, um movimento de repensar a Educação e as estruturas da escola, de repensar que educação queremos e de que forma ela vai acontecer”, afirma a administradora e pedagoga Tathyana Gouvêa da Silva Barrera, que defendeu seu doutorado sobre o movimento brasileiro de renovação educacional no primeiro semestre deste ano, na Faculdade de Educação da USP.
O movimento descrito por Tathyana é caracterizado pela ruptura com as estruturas burocráticas da educação moderna, conhecida como educação tradicional.
Os novos métodos de educação propõem a quebra com este padrão, estabelecendo novos tempos, espaços e relações de poder e saber, rompendo com a atual fragmentação e a hierarquização do conhecimento.
Segundo Tathyana, as mudanças na estrutura da escola acontecem por “uma outra compreensão do ser humano, que não é só um ser humano racional para executar funções, mas um ser humano criativo, empático, que tem habilidades e aptidões”.
Influências pedagógicas
Através da iniciativa de educadores, fundações, startups e da cobertura feita por diversas mídias, escolas públicas e privadas são influenciadas por novas práticas educativas inspiradas por pedagogias como a de Freinet, Montessori e Waldorf, e também conseguem consolidar seus métodos próprios após anos de trabalho.
A Emef Desembargador Amorim Lima e a Emef Campos Salles, por exemplo, se basearam na metodologia utilizada na Escola da Ponte, fundada na década de 1970, em Portugal, que, por sua vez, se inspirou em Freinet para desenvolver seu próprio método.
Em ambas escolas, os alunos se organizam em grupos para desenvolver projetos orientados por roteiros de estudos, sem a tradicional divisão de aulas ministradas em 50 minutos nem disciplinas desconectadas
Iniciativas privadas também enxergam a necessidade de repensar a educação. Na última edição do maior evento sobre tecnologia do mundo, o Instituto Campus Party apresentou uma nova proposta de projeto tecnológico a serviço do futuro. Por um dia, o palco principal do evento foi destinado a discutir a educação e contou com a presença de teóricos internacionais que aliam a tecnologia ao desenvolvimento humano.
Guy Vardi, CEO da Matific, uma empresa desenvolvedora de jogos matemáticos para crianças, criticou como a educação é encarada como commodity. O executivo trouxe pesquisas que atestam como o cérebro é pouco estimulado durante uma aula expositiva e como o contrário acontece quando a pessoa aprende participando ativamente no processo de aprendizagem.
Na Inglaterra, uma professora pediu aos alunos que reescrevessem Shakespeare no Twitter. De acordo com a professora, trazendo a narrativa para a realidade deles, eles realmente compreenderiam os sentimentos das personagens e a filosofia do autor.
Recentemente, com o mesmo intuito, uma educadora chilena virou notícia por instruir os alunos a contarem Cem Anos de Solidão, de Gabriel García Márquez, através de memes da internet.
“Essas escolas não se organizam de um único modo, elas estão se contrapondo de várias maneiras à escola tradicional. Algumas, usando tecnologia, outras, se aproximando mais da natureza ou trazendo a gestão democrática para todas as instâncias de decisão”, informa Tathyana. “Todas são tendências que rompem com a escola tradicional, cada uma a seu modo. Não existe um novo método que está substituindo o antigo”, completa.
Até abril deste ano, o MEC encontrou 178 escolas não-tradicionais distribuídas pelo território nacional. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) garante a existência desses projetos, estabelecendo a autonomia das escolas e apresentando a democracia como principio norteador das práticas educacionais no Brasil, o que segundo Tathyana, somente uma escola que ofereça uma educação integral e olhe para sua comunidade será capaz de cumprir.