Julian Assange, cofundador do Wikileaks, é preso em Londres após Equador retirar asilo diplomático

A Polícia Metropolitana de Londres deteve nesta quinta-feira Julian Assange, cofundador do Wikileaks, depois que o Equador cassou o asilo diplomático que lhe oferecia há quase sete anos, segundo um tuíte da própria corporação policial britânica. O presidente do Equador, Lenín Moreno, também confirmou na rede social que cancelou o asilo diplomático a Assange, que vivia desde junho de 2012 dentro da Embaixada equatoriana em Londres. Na mensagem, o mandatário também anexou um vídeo em que afirma ter solicitado ao Reino Unido “a garantia de que o senhor Assange não seria entregue em extradição a um país onde possa sofrer torturas ou a pena de morte”. “O Governo britânico confirmou isso por escrito, em cumprimento às suas próprias normas”, acrescentou Moreno.

“É absolutamente apropriado que Assange enfrente adequadamente a Justiça no Reino Unido. São os tribunais que devem decidir o que ocorrerá a seguir”, afirmou Alan Duncan, ministro britânico para a Europa e Américas, em nota oficial. “Agradecemos ao Governo do Equador e ao presidente Moreno pela medida adotada. Os fatos de hoje são o resultado de um extenso diálogo entre os dois países. Confio em uma relação bilateral forte entre o Reino Unido e o Equador nos próximos anos.”

Em um tom mais informal e mais contundente, o ministro de Relações Exteriores, Jeremy Hunt, utilizou sua conta no Twitter para arremeter contra o fundador do Wikileaks: “Julian Assange não é um herói e não está acima da lei. Ocultou-se da verdade durante anos. Obrigado ao Equador e ao presidente Lenín Moreno por sua cooperação com o Ministério de Relações Exteriores para assegurar que Assange enfrente a Justiça”.

Em 2012, Julian Assange era alvo de uma ordem europeia de prisão expedida pela Suécia, onde havia sido acusado de dois crimes sexuais, depois arquivados. Refugiou-se na Embaixada do Equador em Londres em junho daquele ano e, depois de dois meses, o então presidente equatoriano, Rafael Correa, lhe concedeu asilo. Mais adiante, deu-lhe também a nacionalidade equatoriana.

Com a saída de Correa da presidência, em 2017, e a chegada de Lenín Moreno, as relações entre Assange e o Equador se deterioraram a ponto de a embaixada cortar suas comunicações – algo que, pontualmente, já havia ocorrido na época de Correa – e impedir as visitas externas, exceto as de seus advogados. O último episódio foi a cassação do asilo diplomático: “O Equador decidiu soberanamente retirar o asilo diplomático de Julian Assange por violar reiteradamente convenções internacionais e o protocolo de convivência”, escreveu o presidente equatoriano em um tuíte nesta quinta-feira. “Conceder asilo ou retirá-lo é faculdade soberana do Estado equatoriano”, acrescentou Moreno, que criticou também “a conduta desrespeitosa e agressiva” de Assange e “as declarações descorteses e ameaçadoras de sua organização”, acrescentando que “a transgressão dos convênios internacionais levou a situação a um ponto em que o asilo de Julian Assange é insustentável e inviável”.

A Polícia Metropolitana deteve Assange na própria Embaixada, situada no bairro de Hans Crescent, cumprindo ordem do Tribunal de Magistrados de Westminster de 29 de junho de 2012. O cofundador do Wikileaks, uma organização que publicou milhares de documentos secretos norte-americanos, foi posto à disposição policial antes de comparecer ao tribunal.

Em novembro passado, soube-se que o Departamento de Justiça dos EUA tinha uma acusação judicial preparada contra Assange, que através do Wikileaks divulgou ferramentas cibernéticas da CIA e teve um papel central na suposta ingerência russa nas eleições presidenciais de 2016. A intenção era formalizar a acusação, mas mantê-la em sigilo até que Assange fosse detido – porém, acabou sendo incluída por engano em um documento judicial público. O texto não detalhava as acusações contra o hacker australiano.

O Wikileaks disse em sua conta oficial do Twitter que “o Equador encerrou de forma ilegal ao asilo político concedido a Assange, numa violação do direito internacional”. O portal especializado em vazar sigilos oficiais salientou que “Julian Assange não saiu andando da embaixada”, e sim que “o embaixador equatoriano convidou a polícia britânica a entrar e ele foi detido”.

El País

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