Lula abre G20: Critica gastos com guerras e clama pelo combate à fome
Veja o discurso do presidente na íntegra e a programação completa do grande encontro, que reúne as 19 maiores economias do mundo no Rio de Janeiro
Aberta oficialmente, nesta segunda-feira (18), a reunião da Cúpula de Líderes do G20 no Rio de Janeiro. O evento reúne as 19 maiores economias do mundo, além da União Europeia e da União Africana, marcando um momento importante para o Brasil, que encerra sua presidência do grupo e transmite a liderança para a África do Sul.”
Em seu discurso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva enfatizou a importância dos compromissos que serão firmados durante a cúpula. Lula criticou fortemente o investimento em guerras, alertando que, enquanto bilhões são destinados a conflitos armados, problemas como a fome, que afeta milhões de pessoas no mundo, continuam sendo negligenciados. O combate à pobreza e à desigualdade, um dos pilares da presidência brasileira no G20, foi reafirmado por Lula como uma prioridade, com o compromisso de que o Brasil continuará a lutar por ações concretas nesta área.”
“O que decidirmos aqui é de extrema importância. Tenho certeza de que, se assumirmos a responsabilidade no combate à pobreza, podemos alcançar o sucesso em pouco tempo“, salientou o presidente Lula, ressaltando que é possível alcançar resultados positivos e duradouros por meio de um esforço conjunto das grandes potências econômicas.
Na ocasião, Lula lançou a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, uma iniciativa colaborativa entre os países com o objetivo de criar soluções coordenadas e eficazes para erradicar esses problemas globais. O presidente destacou a criação da aliança como “o nosso maior legado”, enfatizando a importância de uma ação conjunta para enfrentar os desafios da desigualdade e da insegurança alimentar em todo o mundo.
A iniciativa já conta com a adesão de 82 países, incluindo 19 membros do G20. A Argentina, que ainda não havia se unido à aliança, formalizou sua adesão nesta segunda-feira, conforme informações da AFP. Além das nações, aderiram também a União Europeia e a União Africana, ambas integrantes do bloco, junto com 24 organizações internacionais, nove instituições financeiras e 31 entidades filantrópicas e não governamentais.
Ao final da matéria confira o discurso do presidente na íntegra
Eixos Prioritários da Presidência Brasileira no G20
Durante sua presidência, o Brasil realizou mais de 130 reuniões preparatórias em diversas cidades brasileiras, que são de fundamental importância para a construção de uma sociedade mais justa e sustentável:
1.Combate à Fome, Pobreza e Desigualdade: O Brasil tem defendido políticas mais eficazes no enfrentamento da desigualdade global, com ênfase em ações para erradicar a pobreza extrema e garantir a segurança alimentar em todas as regiões do mundo.
2.Desenvolvimento Sustentável e Enfrentamento das Mudanças Climáticas: A transição energética para fontes de energia mais limpas, o combate ao desmatamento e a proteção dos recursos naturais são questões centrais para o Brasil, que busca ampliar a cooperação internacional nesse campo. A agenda climática também tem reflexos diretos no futuro das gerações que virão, especialmente na educação sobre sustentabilidade e mudanças climáticas.
3.Reforma da Governança Global: O Brasil tem trabalhado para uma reforma nas instituições internacionais que permita uma maior justiça nas decisões globais, promovendo um sistema de governança mais inclusivo, que também leve em consideração os desafios enfrentados pelos países em desenvolvimento.
Proposta de Taxação Global dos Super-Ricos
Outro ponto central da presidência brasileira é a proposta de criação de um imposto global sobre a riqueza, focado nos super-ricos. A ideia é estabelecer uma taxação mínima de 2% sobre a renda dos bilionários, o que geraria uma arrecadação significativa, estimada entre US$ 200 bilhões e US$ 250 bilhões anuais. Esses recursos seriam usados para financiar ações de combate à desigualdade social e ao impacto das mudanças climáticas
Embora a proposta tenha encontrado resistência de alguns países desenvolvidos, como os Estados Unidos e a Alemanha, ela tem sido apoiada por diversas nações, como França, Espanha, Colômbia e Bélgica. A África do Sul, que assumirá a presidência do G20 após o Brasil, também demonstrou apoio à iniciativa, frisando a importância de uma maior redistribuição de recursos para promover a justiça social no cenário global.
Veja a programação completa da Cúpula do G20
18 de novembro (segunda-feira)
08h40 – Cumprimentos aos líderes do G20
10h – Lançamento da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza e 1ª Sessão da Reunião de Líderes do G20: Combate à Fome e à Pobreza
14H30 – 2ª Sessão da Reunião de Líderes do G20: Reforma das Instituições de Governança Global
19 de novembro (terça-feira)
10h – 3ª Sessão da Reunião de Líderes do G20: Desenvolvimento Sustentável e Transição Energética
12h30 – Sessão de encerramento da Cúpula de Líderes do G20 e cerimônia de transmissão da presidência do G20 do Brasil para a África do Sul
Íntegra do discurso de Lula:
Caros Chefes de Estado e de Governo,
Dirigentes de Organizações Internacionais,
Demais Chefes de Delegação,
Minhas amigas e meus amigos,
Primeiro, eu quero agradecer a generosidade da presença de vocês transformando o Rio de Janeiro na capital do mundo neste nestes dias 18 de novembro e dia 19 de novembro.
É muito importante o que vamos discutir aqui e eu tenho certeza que, se nós assumirmos a responsabilidade sobre esses assuntos da fome e da pobreza, nós poderemos ter sucesso em pouco tempo.
Por isso, eu quero dizer a todos vocês: sejam bem-vindos ao Rio de Janeiro, aproveitem esta cidade que é conhecida como a Cidade Maravilhosa.
Esta cidade é a síntese dos contrastes que caracterizam o Brasil, a América Latina e o mundo.
De um lado, a beleza exuberante da natureza sob os braços abertos do Cristo Redentor.
Um povo diverso, vibrante, criativo e acolhedor.
De outro, injustiças sociais profundas.
O retrato vivo de desigualdades históricas persistentes.
Estive na primeira reunião de líderes do G20, convocada em Washington no contexto da crise financeira de 2008.
Dezesseis anos depois, constato com tristeza que o mundo está pior.
Temos o maior número de conflitos armados desde a Segunda Guerra Mundial e a maior quantidade de deslocamentos forçados já registrada.
Os fenômenos climáticos extremos mostram seus efeitos devastadores em todos os cantos do planeta.
As desigualdades sociais, raciais e de gênero se aprofundam, na esteira de uma pandemia que ceifou mais de 15 milhões de vidas.
Segundo a FAO, em 2024, convivemos com um contingente de 733 milhões de pessoas ainda subnutridas.
É como se as populações do Brasil, México, Alemanha, Reino Unido, África do Sul e Canadá, somadas, estivessem passando fome.
São mulheres, homens e crianças, cujo direito à vida e à educação, ao desenvolvimento e à alimentação são diariamente violados.
Em um mundo que produz quase 6 bilhões de toneladas de alimentos por ano, isso é inadmissível.
Em um mundo cujos gastos militares chegam a 2,4 trilhões de dólares, isso é inaceitável.
A fome e a pobreza não são resultado da escassez ou de fenômenos naturais.
A fome, como dizia o cientista e geógrafo brasileiro Josué de Castro, “a fome é a expressão biológica dos males sociais”.
É produto de decisões políticas, que perpetuam a exclusão de grande parte da humanidade.
O G20 representa 85% dos 110 trilhões de dólares do PIB mundial.
Também responde por 75% dos 32 trilhões de dólares do comércio de bens e serviços e dois terços dos 8 bilhões de habitantes do planeta.
Compete aos que estão aqui em volta desta mesa a inadiável tarefa de acabar com essa chaga que envergonha a humanidade.
Por isso, colocamos como objetivo central da presidência brasileira no G20 o lançamento de uma Aliança Global contra a Fome e a Pobreza.
Este será o nosso maior legado.
Não se trata apenas de fazer justiça.
Essa é uma condição imprescindível para construir sociedades mais prósperas e um mundo de paz.
Não por acaso, esses são os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável 1 e 2 da Agenda 2030.
Com a Aliança, vamos articular recomendações internacionais, políticas públicas eficazes e fontes de financiamento.
O Brasil sabe que é possível.
Com a participação ativa da sociedade civil, concebemos e implementamos programas de inclusão social, de fomento da agricultura familiar e da segurança alimentar e nutricional, como o nosso Bolsa Família e o Programa Nacional de Alimentação Escolar.
Conseguimos sair do Mapa da Fome da FAO em 2014, para o qual voltamos em 2022, em um contexto de desarticulação do Estado de bem-estar social.
Foi com tristeza que, ao voltar ao governo, encontrei um país com 33 milhões de pessoas famintas.
Em um ano e onze meses, o retorno desses programas já retirou mais de 24, 5 milhões de pessoas da extrema pobreza.
Até 2026, novamente sairemos do Mapa da Fome.
E com a Aliança, faremos muito mais.
Aqueles que sempre foram invisíveis estarão ao centro da agenda internacional.
Já contamos com a adesão de 81 países, 26 organizações internacionais, 9 instituições financeiras e 31 fundações filantrópicas e organizações não-governamentais.
Meus agradecimentos a todos os envolvidos na concepção e no funcionamento desta iniciativa, que já anunciaram contribuições financeiras.
Foi um ano de trabalho intenso, mas este é apenas o começo.
A Aliança nasce no G20, mas seu destino é global.
Que esta cúpula seja marcada pela coragem de agir.
Por isso quero declarar oficialmente lançada a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza.
Muito obrigado.
Com informações do G1
Por Romênia Mariani