Lula descarta intervenção no RJ; Castro fala em “terrorismo” de milícia
Discurso presidencial foi seguido por Cláudio Castro: “Está muito claro que esse não é mais um problema do Rio de Janeiro. Esse é um problema do Brasil”
por André Cintra
A crise de segurança no Rio de Janeiro está no radar do governo federal. Nesta terça-feira (24), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que vai reforçar o apoio ao estado, sem, no entanto, “tirar a autoridade” do governador Cláudio Castro (PL).
A declaração, dada em sua live semanal, o Conversa com o Presidente, acontece um dia depois de milicianos incendiarem 35 ônibus e um trem na zona oeste do Rio. Foi a resposta do crime a uma operação da Polícia Civil que resultou na morte de Matheus da Silva Rezende, o Faustão, número dois na hierarquia da milícia na região. Ele é sobrinho de Zinho, chefe da maior milícia do Rio de Janeiro.
Lula descartou uma intervenção federal e disse que seu governo não quer fazer “pirotecnia” no enfrentamento à violência. “Não queremos tirar a autoridade do governador, tirar a autoridade do prefeito. O que nós queremos é compartilhar com eles – trabalhar junto com eles – uma saída”, declarou Lula.
Segundo o presidente, a crise de segurança no Rio também “é um problema do Brasil”. Ele disse que seu governo não vai lavar as mãos para problemas nos estados. Além da crise fluminense, citou as enchentes no Rio Grande do Sul e a seca no Amazonas. “Nós queremos compartilhar a solução dos problemas que os estados têm com o governo federal. Vamos cuidar de todos em igualdade de condições.”
A princípio, a participação federal no Rio será intensificada por meio das Forças Armadas. “A perspectiva é de fazer com que a Aeronáutica possa ter uma intervenção maior nos aeroportos do Rio de Janeiro, que a Marinha possa ter uma intervenção maior nos portos do Rio de Janeiro para ver se a gente consegue combater mais o crime organizado, o narcotráfico, o tráfico de armas. Ou seja, nós vamos ter que agir um pouco mais”, afirmou Lula.
O discurso presidencial foi seguido por Cláudio Castro. “Está muito claro que esse não é mais um problema do Rio de Janeiro. Esse é um problema do Brasil”, disse o governador, também nesta terça, em entrevista coletiva no Centro Integrado de Comando e Controle (CICC). “Não são mais organizações criminosas pontuais que estão aqui, estão ali. Hoje, são verdadeiras máfias alastradas pelo Brasil inteiro – a Rio de Janeiro, São Paulo, Ceará, Bahia, Rio Grande do Norte.”
De acordo com Castro, há criminosos de pelo menos 12 estados em ação no Rio de Janeiro. Ele defendeu que os responsáveis pelos ataques ao sistema de transporte respondam por crime de terrorismo, sem progressão de pena. “Operar serviço público para tráfico, milícia, terrorismo, máfia também tem que ser um crime de 30 anos sem progressão.”
Exaltado, o governador prometeu ir a Brasília para debater o endurecimento da legislação com os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Segundo ele, entre a noite de segunda e a manhã de terça, dezenas de escolas fecharam, o que deixou mais de 13 mil estudantes sem aulas.
“Elaboramos um plano de contingência para reprimir esses criminosos. Dos 12 detidos pelos ataques aos ônibus, seis tiveram a prisão confirmada, com indício de autoria”, afirmou. “Desde as primeiras horas de hoje, 80% da frota de ônibus está circulando normalmente. Assim como trens e departamentos de saúde, como clínicas da família, também estão funcionando.” A determinação do governo é para que todas as forças de segurança permaneçam nas ruas, para garantir a “normalidade”.