Lula pede fim da escala 6×1 e critica emendas impositivas
Presidente discursou na reunião do ‘Conselhão’, em Brasília, e celebrou dados do governo, fez a defesa da democracia, criticou o teto de gastos e pediu posição forte contra feminicídios
O presidente Lula participou nesta quinta-feira (4) da 6ª Reunião Plenária do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável (Cdess), o “Conselhão”, no Palácio Itamaraty, em Brasília.
Para os conselheiros, Lula destacou que as duas vezes em que assumiu a Presidência de outros governos a situação era preocupante, mas agora a condição do país já está ‘confortável’.
Ele disse isso ao comentar dados apresentados pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ao apontar que, ao término dos quatro anos de governo, o país terá um crescimento médio de 2,8%, o maior desde o primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso, com exceção dos dois mandatos do presidente Lula.
Além disso, o ministro indicou os dados que apresentam a menor taxa de desemprego da história somada à política de valorização do salário mínimo, que elevou ao recorde a média salarial brasileira (R$ 3.507) e os menores índices de desigualdade já registrados, medidos pelo Índice de Gini.
“Estamos completando três anos de governo e todos vocês sabem que, quando nós tivemos a primeira reunião desse Conselho [em 2023], ninguém acreditava que pudéssemos chegar em dezembro de 2025 numa situação confortável como essa”, expressou Lula.
Democracia
Na oportunidade, o líder nacional fez questão de celebrar a democracia e foi categórico ao dizer que impedirá qualquer um que atente contra ela.
“Se depender do meu esforço pessoal, esse país jamais será governado por alguém que não acredite na democracia, por alguém que não respeita a sociedade brasileira, por alguém que não respeite instituições, jamais! Manter a democracia é uma necessidade do povo brasileiro, porque a democracia permite a alternância de poder. Permite que um dia você eleja um patrão, outro dia um trabalhador, outra vez um fazendeiro, em outra um pequeno proprietário. Uma vez homem, outra vez uma mulher, outra vez um branco, outra vez um negro. Isso chama alternâncias de poder. Isso só é possível através do exercício da democracia”, ressaltou.
Fim da escala 6×1
Outro tema latente e que está na pauta do governo federal é a luta pelo fim da escala 6 por 1. Lula manifestou o seu apoio, assim como pela redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais sem redução de salários.
“A Volkswagen tinha 40 mil trabalhadores, produzia 1.200 carros. A gente trabalhava, sabe, a mesma jornada de trabalho de hoje. Com os avanços tecnológicos, a Volkswagen agora tem 12 mil trabalhadores, produz o dobro de carros. Avançou tecnologicamente e a gente não reduz a jornada de trabalho? Para que serviu todo esse avanço tecnológico? O que é reduzir para 40 horas [a jornada de trabalho]? Qual é o prejuízo que tem para o mundo?”, perguntou aos conselheiros.
O presidente lembrou que na quarta-feira (3), a presidenta do México, Claudia Sheinbaum, enviou ao Congresso de seu país a proposta de redução da jornada de trabalho de 48 para 40 horas semanais até 2030.
“Eu tinha dito para os dirigentes dos sindicatos: ‘não peçam que eu faça um projeto de lei para acabar [com a escala 6×1]. Façam vocês um movimento para politizar a base’. Eu queria que esse Conselho estudasse com muito carinho, sabe, essa proposta da jornada de trabalho para acabar com essa coisa de escala 6 por 1, porque não tem mais sentido”, pediu Lula.
“Se vocês me deram um conselho, eu faço. Como vocês são conselheiros, então vocês me dão um conselho. Porque a gente pode apressar o fim dessa jornada 6 por 1 e dar uma jornada melhor ao nosso povo trabalhador”, completou.
Licenciamento ambiental
Sobre os vetos que fez ao PL da Devastação, posteriormente derrubados pelo Congresso, Lula afirmou que os fez para proteger o agronegócio.
“Essa mesma gente que derrubou os vetos, quando a China parar de comprar soja, quando a Europa parar de comprar soja, quando alguém parar de comprar nossa carne, quando alguém parar de comprar nosso algodão, vão vir falar comigo outra vez”, apontou Lula, dizendo que depois irão pedir a ele para conversar com outras nações.
Investimentos e teto de gastos
Na visão de Lula, como sempre pontua, é necessário parar de tratar investimentos como gastos, pois estes representam o desenvolvimento futuro da nação.
“Nesse governo ninguém vai utilizar a palavra gasto para falar de educação. Ninguém. Quando se falar em ciência e tecnologia, falar em educação, não se fala em gasto. Vamos parar com isso e colocar dentro dos gastos necessários. Porque um país que é a oitava economia do mundo não tem o direito de ficar criando teto de gastos. Acham que os Estados Unidos pensam em gasto, a Alemanha pensa? Agora mesmo eles aprovaram 800 bilhões de euros para comprar armas. Não seria melhor ter aplicado para acabar com a fome no mundo? Seria mais fácil, mais simples? Então há uma inversão de valores”, criticou.
Emendas Impositivas
As críticas do presidente ainda chegaram ao Congresso Nacional e as emendas impositivas, que ‘sequestram o orçamento’.
“Não concordo com as emendas impositivas. Eu acho que o fato do Congresso Nacional sequestrar 50% do orçamento da União é um grave erro histórico. Eu acho. Mas você só vai acabar com isso quando mudar as pessoas que governam e aprovaram isso”, advertiu.
Violência contra as mulheres
Lula também retomou o tema de combate à violência contra as mulheres. Nesta semana diversos casos de feminicídio e tentativas ganharam repercussão. Ele pediu uma proposta contundente com penas mais duras.
“É preciso que a gente tenha uma proposta mais contundente para as pessoas que matam mulheres, que estupram crianças, que praticam pedofilia. Não tem que ser tratado com respeito normal, tem que ter uma coisa mais dura para essa gente, porque eles têm que saber que é crime”, acentua.
“Se a gente não assumir essa bandeira, realmente, a gente não resolve. Se a gente achar que é criando essa lei aqui, essa proteção, nós temos a Constituição que muita gente nem respeita. Essa é uma coisa que eu acho que esse Conselho tem que pensar e apresentar uma proposta dura para que não seja uma proposta do presidente da República, seja uma proposta da sociedade civil brasileira”, determinou Lula.





