Lula sobre os atos #19J de sábado: “A sociedade começou a andar”
Ex-presidente considera mobilização um movimento da sociedade democrática e dá a entender que não comparecerá
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que as manifestações do próximo sábado (19) contra o governo Bolsonaro, os atos #19J, são uma convocação da sociedade “para protestar contra o desgoverno e contra o genocídio”.
Os atos estão marcados para pelo menos 319 cidades em todo o país. “A sociedade começou a andar”, acrescentou o ex-presidente, que não deve comparecer. “Minha participação não pode ser explorada pelos meios de comunicação, de que o Lula manipulou o ato e virou uma peça de campanha.”
Lula falou em entrevista ao vivo para o Pan News em Revista Natal, nesta quinta-feira (17). Lembrou da preocupação entre os manifestantes com medidas de precaução nos atos #19J.
Todo mundo usa máscara, a maioria está com álcool em gel. Embora estejam nas ruas, as pessoas gostam de suas vidas e estão se protegendo. Uma diferença substancial com o ato do presidente, que não usa máscara e nega efetivamente a vacina como solução. Nós queremos construir o Brasil e ele que destruir o Brasil”, falou.
Inocentes
No programa, o presidente foi muito questionado sobre eleições – sobre uma terceira via de uma maioria silenciosa – além de polarização e candidatura. Sobre a suposta maioria silenciosa, brincou. “Em política vale tudo, menos ser inocente. Não existe essa tal dessa maioria silenciosa”, disse, acrescentando ter sido Afif Domingos o criador da expressão na campanha de 89. “Ele dizia que a maioria silenciosa ia votar nele e a maioria silenciosa apareceu no segundo turno votando em mim, votando no Collor.”
Lula foi lembrado sobre almoço recente entre partidos de um campo em busca da terceira via. Respondeu que o país precisa ter partidos políticos com base real na sociedade. “O que nós temos é um conjunto de cooperativas de deputados”, que se juntam para uma eleição. Acrescentou ser um dos que defende que partidos coloquem nomes na corrida presidencial: “todo mundo colocar a cara, pedir voto e depois a gente valorizar o povo. Escolhe os dois melhores, que vão disputar o segundo turno e um vai virar presidente da República. Esse é o jogo democrático”. “Cada partido político devia ter direito e a honradez de lançar um candidato a presidente da República, ponto!”
Polarização
O ex-presidente afirmou não haver polarização ideológica hoje no país. “É uma polarização entre a sociedade brasileira democrática e uma pequena parte de milicianos que servem ao Bolsonaro”, diz. “Hoje tem um fascista no poder, um genocida, que mente todo santo dia”, lutando contra a democracia. “Um cidadão que usa a fake news. O prazer dele é contar mentira, fazer provocação, desrespeitar as pessoas. E lamentavelmente ainda tem uma parcela da sociedade, que não é maioria, graças a Deus, que concorda com esse tipo de bobagem que ele fala.” Acrescentou que o presidente tem de se comportar com respeito à sociedade e às pessoas. “Nada mais é que o síndico de uma nação”.
Ainda assim, lembrou que disputou diversas eleições polarizadas. “A sociedade não é estática, um poste fincado na areia, ela se move. E é por isso que tem campanha. Pra gente tentar comover as pessoas com suas ideias e tentar conquistá-las. Eu prefiro uma eleição polarizada a uma eleição apática”.
Temos de conversar
Em seus movimento políticos, Lula diz que procura pessoas que querem construir um programa para consertar o Brasil. “Eu vou procurar as pessoas para conversar, porque eu acho que em um país democrático e civilizado, as pessoas quando disputam uma eleição são apenas adversários momentâneos”, diz. “Temos de conversar. Hoje, nós temos um presidente da República que não tem demonstrado ser civilizado, que não respeita a ciência, não respeita a medicina, não respeita negros, LGBT, a universidade. É um destruidor das coisas. Não tem relação internacional, ninguém quer conversar com ele. O Brasil só não está mais isolado por causa das commodities”.
Teto de Gastos
A ampliação do Bolsa Família foi abordada em confronto com o teto de gastos, e Lula foi incisivo ao dizer que vai revogar a regra. “A quem interessa o teto de gastos? Ao sistema financeiro, aos banqueiros? O teto de gastos não pode existir em um país que tem os compromissos com o povo que o Brasil tem de ter. Tem de parar de confundir investimento no pobre com gasto. Quando você pega um bilhão e dá pra um rico é investimento, nem sabe se ele vai investir corretamente. Quando pega R$ 300 e dá pra um pobre é gasto. Não é gasto investir na educação. Gasto é quando você investe dinheiro e não tem retorno. E num ativo como a cisterna ele traz qualidade de vida, benefícios para a população. O salário traz poder de compra. Nós vamos revogar o teto de gastos. É importante todo o eleitor saber.”
CPI e Economia
A CPI da Covid, no Senado, também foi assunto no programa, e Lula disse que a comissão tem de fazer o trabalho da forma mais justa possível, sem pressa. “Eu não sou daqueles apressados.” Foi perguntado, mais de uma vez, sobre candidatura, e voltou a dizer que agora é o momento de outras lutas, como aumento do auxílio emergencial, crédito aos pequenos empresários e investimento em infraestrutura. “Para que eu seja candidato é preciso que os partidos queiram, que o meu partido queira, que eu esteja muito bem de saúde, porque eu não vou brincar com o povo brasileiro, e é preciso a construção de um leque de apoios nos estados”.
O ex-presidente falou sobre economia local e lamentou a perda de quase R$ 4 bilhões em investimentos da Petrobras no Rio Grande do Norte. “Estão tentando privatizar tudo o que existe da Petrobras no Rio Grande do Norte”, disse. “Pode perder até mais de 100 mil empregos no estado”.