Luta contra o fascismo, o imperialismo e pela paz deve marcar ação comunista

Luciana Santos, presidenta do PCdoB e ministra CT&I, destaca ainda que é preciso ter uma relação dialética entre o internacionalismo proletário e os interesses nacionais

A conjuntura internacional frente à crise do neoliberalismo, a decorrente ascensão das forças de extrema-direita, os conflitos atuais e a luta do Sul global por maior protagonismo tendo o Brasil como uma de suas principais lideranças foram alguns dos pontos analisados pela presidenta do PCdoB e ministra de Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, durante abertura do Seminário Nacional sobre Questões Internacionais do partido, realizado nesta sexta-feira (22). O evento foi realizado de maneira híbrida, na sede da Contee em Brasília, e por videoconferência.

“Vivemos um momento político singular no Brasil e no mundo. Os movimentos que estão em curso na cena internacional são de grande envergadura”, disse Luciana na mesa de abertura.

Ela acrescentou que “uma mudança de época desta magnitude não ocorre sem tensões, sem ações e reações, sem contradições, sem conflitos. Somos contemporâneos das guerras híbridas, do retorno de forças políticas extremistas e fascistas ao comando de nações importantes. A outrora propalada globalização dá lugar a políticas cada vez mais protecionistas. O uso da força continua sendo o recurso que o imperialismo utiliza para impor seus interesses sobre os povos e nações”.

Conforme destacou a dirigente, “uma sociedade que não possua uma visão própria de si, que não tenha um projeto nacional, estará destinada a ser subserviente a outras nações. Não há política externa autônoma sem projeto nacional”.

Nesse cenário, Luciana salientou ser preciso ter uma visão própria dos acontecimentos do mundo, “em uma relação dialética entre o internacionalismo proletário e o prisma dos interesses nacionais que, em última instância, visa a alimentar de elementos a nossa ação política em torno do nosso programa e da construção de um Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento”.

Crise do capitalismo

Luciana Santos também abordou alguns dos elementos estruturantes que marcam o quadro internacional atualmente. Remontando à crise econômica de 2008, lembrou que seus reflexos levaram ao surgimento de milhões de desempregados, extraiu direitos, fragilizou nações e resultou, em grande medida, na ascensão de forças de extrema-direita.

“O capitalismo em sua fase atual, neoliberal, regido pela financeirização, somado às transformações produtivas decorrentes das inovações tecnológicas, tem ampliado o fosso entre o capital e o trabalho, produzindo a retirada de direitos e a desvalorização do trabalho e gerado uma enorme massa de desempregados, de ‘indesejáveis, de seres descartáveis’”, argumentou.

Na avaliação da presidenta do PCdoB, “as elites dominantes aparentam estar divididas diante da cada vez maior contradição entre o neoliberalismo e a democracia. De um lado, estão os que querem enfrentar a situação mantendo os fundamentos do liberalismo político, com alguma margem de liberdades democráticas. De outro, está a opção por governos fortes de extrema-direita que visam, pela força, implementar sua agenda”.

Mundo multipolar

Ao mesmo tempo, outra transformação profunda vem marcando a geopolítica mundial no último período: a emergência de um mundo cada vez mais multipolar, com a consolidação de polos de poder compostos por países do Sul global, que têm nos Brics seu ponto de confluência e articulação.

“A marca principal do cenário internacional são as tensões e a luta decorrente da busca das velhas potências imperialistas, lideradas pelos EUA, por manter seu status quo. Do outro lado, há um amplo bloco de países em desenvolvimento, com destaque para a China socialista, que buscam apresentar uma alternativa à atual ordem a partir da noção de desenvolvimento compartilhado. E essa divergência não ocorre de forma pacífica”, pontuou.

Como resultado, o mundo a assiste a guerras híbridas, revoluções coloridas, conflitos armados e agressões a nações soberanas. “Tudo é valido para conter novos polos de poder”, disse.

Como exemplo, Luciana citou a guerra entre Ucrânia e Rússia. “O alvo final desta agressão é a derrocada da Rússia e o enfraquecimento da China”, salientou.

Ao abordar a grave situação vivida pelos palestinos, Luciana reforçou que “as forças sionistas destruíram por completo toda a Faixa de Gaza. E no seu objetivo de redesenhar o mapa geopolítico do Oriente Médio, Israel mantém agressões ao Irã e ao Líbano simultaneamente”.

Luciana também tratou da decisão tomada pelo Tribunal Penal Internacional que emitiu, nesta quinta-feira (21), mandados de prisão contra Benjamin Netanyahu e seu ex-ministro de Defesa, Yoav Gallant, tendo como centro as acusações do uso da fome como método de guerra e do cometimento de crimes contra a humanidade.

Em sua análise, Luciana Santos também ressaltou o destrutivo papel que as big techs têm tido, especialmente do ponto de vista político. “Essas grandes empresas, boa parte delas sediadas nos EUA, vêm — a partir dos algoritmos e da dinâmica própria das redes sociais — manipulando resultados políticos, influenciando com desinformação, alimentando e apoiando forças extremistas ao redor do mundo”.

Para Luciana, esse elemento evidencia “a luta pelo controle da ‘ponta tecnológica’, sobretudo onde ela afeta de forma imediata o avanço militar, no campo da inteligência artificial, da computação quântica e da comunicação”.

O Brasil em meio a esse cenário

Apesar do cenário adverso também em países da América Latina — como a Argentina sob Javier Milei —, Luciana destacou o papel central que o Brasil, com o governo Lula, vem desempenhando na luta dos povos. Um dos pontos fortes mais recentes dessa atuação foi a realização da cúpula do G20, nesta semana, e as conquistas obtidas durante o encontro.

Ela salientou que o evento “superou todas as expectativas” e que em um cenário onde o multilateralismo vive uma crise aguda, “o Brasil conseguiu reunir as potências do G7, da Otan e os Brics em um mesmo lugar com uma declaração final forte e avançada”. Além disso, apontou que o Brasil consolidou uma importante parceria com a China, que resultará em um volume significativo de investimentos.

Em meio a esse conjunto de desafios do cenário global, Luciana salientou a importância da atuação da Secretaria de Relações Internacionais na coordenação das mais variadas frentes de atuação dos comunistas.

Ela elencou como pontos centrais a solidariedade internacionalista e a luta pela paz . Neste sentido, destacou que “o genocídio cometido contra o povo palestino por parte de Israel deve estar entre nossas prioridades de atuação. Somada a isso está a nossa solidariedade à Venezuela e em particular à Cuba, que vive e viverá um dos momentos políticos mais difíceis desde a revolução”.

Além disso, Luciana destacou a importância da atuação do PCdoB nos espaços multilaterais partidários, entre os quais o Foro de São Paulo e o Encontro Internacional de Partidos Comunistas e Operários; o fortalecimento das relações com partidos que ocupam o poder em outros países — como a China, Vietnã, Cuba, Coreia e Laos — e o fortalecimento e ampliação do trabalho entre as fundações partidárias.

Ao concluir sua fala, Luciana salientou: “a questão central que marca a nossa época, e como tal todo esse contexto, é a alternativa para o atual modelo, cada vez mais excludente e autoritário e que coloca em xeque a própria vida humana. A nossa luta é por uma alternativa anticapitalista, pelo socialismo, sob a forma e as condições do nosso tempo. Este é o nosso objetivo estratégico, orientador do nosso programa que, focado na realidade brasileira, se dá através da nossa luta por um Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento”.

Reveses do neoliberalismo

Em sua exposição, Ana Prestes reforçou as colocações feitas por Luciana Santos, destacando que a “globalização neoliberal sofreu reveses importantes, acelerados pela pandemia”.

No período atual, enfatizou, “vivemos um mundo de guerras, de militarização, de deterioração econômica e crise social em vários países, inclusive do ocidente hegemonista, que vai perdendo também a capacidade de impor seus critérios e seu poder ao resto do mundo”.

Essa implosão levou à criação de novos polos e da demanda por um mundo multipolar, com a criação de grupos como o Brics, que “busca justamente outro caminho, organizando uma alternativa de futuro compartilhado no sentido de buscar desenvolvimento para todos e o fim das guerras”, afirmou.

Ana Prestes completou dizendo que “o mundo que emergiu da Segunda Guerra Mundial e cuja economia capitalista foi regida pelo sistema Bretton Woods, com FMI, Banco Mundial etc., vai dando lugar a alternativas mais concretas e amplas e o Brics Plus é hoje um exemplo disso”.

A dirigente também salientou como prioridades dos comunistas a defesa e solidariedade ao povo palestino. Disse, ainda, que é preciso atentar para a guerra da Ucrânia, que está entrando numa nova fase muito mais perigosa” e apontou o importante papel da China e do Brasil na busca por uma solução.

Ela também reafirmou que Cuba “mais do que nunca precisa muito da nossa solidariedade, do nosso esforço e de todo o apoio que a gente puder dar frente à crise energética, que é dramática e tem afetado a vida da população cubana”.

Do Vermelho

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