Marcio Pochmann responsabiliza Temer e Bolsonaro por alta inflacionária do atacado
O economista alerta ainda, em entrevista exclusiva à Fórum, que esta alta “antecipa aquilo que deverá chegar, em algum momento, na mesa, no bolso do consumidor, no bolso do trabalhador”
O economista Marcio Pochmann, professor da Unicamp e presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) de 2007 a 2012, nos governos de Lula e Dilma, comentou para a Fórum, nesta terça-feira (30), o fenômeno da elevação de preços no atacado que sofre o Brasil no começo de 2021, o maior desde o início do Plano Real.
Para ele, o movimento medido, entre outros pelo Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), da Fundação Getúlio Vargas (FGV), “revela as opções que têm sido tomadas por esses governos a partir do receituário neoliberal. Em grande medida, o aumento de preços internos no Brasil decorre da ausência de controle da conta de capital, e bem como expressa o grau de abertura comercial sobre o qual não há controle no que diz respeito a produtos importados ou exportados”.
O economista alerta que esta falta de controle “dá ao proprietário, ao produtor, ao que de certa forma é o responsável pela produção de produtos alimentícios, agrários, a enorme possibilidade de escolher onde colocar o seu produto: no mercado interno ou no mercado externo. Toda vez que há uma desvalorização do Real em relação a outras moedas, ou mesmo há uma alteração dos preços das chamadas commodities, de certa maneira há o interesse em vender lá fora, pois os ganhos são maiores”.
Pochmann afirma ainda que “isso torna ainda mais difícil a oferta dos produtos no mercado interno brasileiro quando os governos de Temer em diante, até o do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), terminaram na verdade desmantelando a política de segurança alimentar, a política de estoques reguladores, a política de preços básicos, de preços mínimos e também a política de crédito ao estímulo à pequena produção”.
“Todas essas políticas”, afirma Pochmann, “vão por água abaixo e isso faz com que as desvalorizações que vinham ocorrendo na nossa moeda terminem por contaminar o preço interno. Então, ao desvalorizar o Real, isso faz com que os insumos importados, que são os responsáveis, por exemplo, pelos remédios, provoquem o aumento do preço do produto final, porque houve uma desvalorização da moeda”.
Ele lembra ainda que “até mesmo o preço do pãozinho termina aumentando tendo em vista que o Brasil importa trigo. E como nós terminamos ampliando as nossas exportações de produtos primários ao invés de os colocarmos no mercado interno, porque há uma elevação dos preços das chamadas commodities, preços do petróleo, por exemplo, mas também de outros produtos, a saída desses produtos para o exterior sem haver estoques reguladores, sem controle de preço, termina também impactando a formação de preços internos”.
“Então”, avisa sem nenhum otimismo o economista, “os indicadores que estão medindo os preços no atacado, de certa maneira antecipam aquilo que deverá chegar, em algum momento, na mesa, no bolso do consumidor, no bolso do trabalhador”.