Meio século da partida de Érico Verissimo: a obra que permanece
A dica cultural da semana da Contee é dedicada a Érico Veríssimo. Em 2025, o escritor completaria cento e vinte anos de nascimento e cinquenta anos de morte. Essas datas renovam o interesse por uma obra que articulou memória, história e imaginação literária, utilizando a ficção para interpretar a experiência humana e os movimentos sociais que moldaram o Brasil ao longo do século XX. Sua escrita permanece viva porque aborda temas humanos e sociais que seguem atuais, revelando questões que ainda atravessam a sociedade brasileira.
Nascido em 1905 em Cruz Alta, no Rio Grande do Sul, Veríssimo cresceu em uma família que enfrentou dificuldades econômicas, experiência que marcou sua sensibilidade para desigualdades e conflitos sociais. Ainda jovem, passou por diferentes trabalhos, em armazém, farmácia e banco, até decidir dedicar-se definitivamente aos livros.
Em 1930, mudou-se para Porto Alegre e encontrou um ambiente cultural em efervescência. Na Revista do Globo, tornou-se editor e conviveu com escritores e artistas que influenciaram sua trajetória. Nesse período escreveu seus primeiros textos de ficção. Em 1932 publicou Fantoches, mas seria com Clarissa, de 1933, que conquistaria leitores em todo o país. O romance acompanha a vida de uma jovem que deixa o interior rumo à capital, expressão de um Brasil em transformação e da emergência de uma classe média urbana.
Nos anos seguintes, lançou romances que aprofundaram sua observação da vida brasileira, como Caminhos Cruzados, Música ao Longe e Um Lugar ao Sol. Em 1938, Olhai os Lírios do Campo o consagrou definitivamente, alcançando enorme repercussão nacional e internacional. Nessas obras, Veríssimo mostrou atenção aos dilemas da modernização, às contradições sociais e aos dramas éticos que atravessam a vida cotidiana.
A partir de 1949, inaugurou sua fase histórica com a trilogia O Tempo e o Vento, composta por O Continente, O Retrato e O Arquipélago. A saga acompanha gerações e reflete a formação do Rio Grande do Sul, unindo pesquisa histórica, memória e uma profunda compreensão das relações humanas. É considerada uma das obras mais importantes da literatura brasileira, capaz de projetar o Sul no mapa literário nacional e internacional.
Nas décadas de 1960 e 1970, ampliou seus temas e abordagens. Em O Senhor Embaixador, de 1965, discutiu política e relações internacionais, obra que lhe rendeu o Prêmio Jabuti. Em 1971 publicou Incidente em Antares, romance que mescla crítica social, humor e fantasia para examinar injustiças, autoritarismo e disputas de poder. Nesse período, iniciou também sua autobiografia, Solo de Clarineta, na qual revisita sua formação e a história recente do país.
A relevância de Érico Veríssimo se explica pela diversidade e pela profundidade de sua obra. Ele explorou a urbanização do Brasil, os conflitos da classe média, as raízes históricas do Sul, as tensões políticas e os limites da democracia em um país marcado por autoritarismos. Sua escrita clara e humana sensibiliza leitores de diferentes gerações.
Ao longo da carreira, recebeu distinções importantes, como o Prêmio Machado de Assis, o Prêmio Jabuti e o título de Doutor Honoris Causa do Mills College. Seus livros foram traduzidos para inúmeras línguas. Em 2025, novas exposições no Memorial Érico Veríssimo, em Porto Alegre, celebram seu legado e aproximam o público de seus manuscritos, cartas e processos de criação.
Cinquenta anos após sua morte, seus romances continuam oferecendo caminhos para compreender o Brasil. Suas narrativas revelam personagens que enfrentam dilemas universais e, ao mesmo tempo, profundamente enraizados na realidade histórica do país. Revisitar a obra de Veríssimo em 2025 é reencontrar um autor que transformou a literatura em instrumento de reflexão sobre identidade, desigualdade e possibilidade de mudança. Uma leitura importante para quem deseja compreender o Brasil de ontem e de hoje.
Por Antônia Rangel
