Ministério da Saúde mantém recomendação de hidroxicloroquina, apesar de decisão da OMS
A Organização Mundial da Saúde suspendeu temporariamente os testes clínicos como medida de precaução
O Ministério da Saúde anunciou, na noite desta segunda-feira 25, que manterá sua recomendação de usar hidroxicloroquina em pacientes com o novo coronavírus, apesar da decisão da Organização Mundial da Saúde (OMS) de suspender temporariamente os testes clínicos com este medicamento como medida de precaução.
“Estamos muito tranquilos e serenos em relação à nossa orientação. Ela segue uma orientação feita pelo Conselho Federal de Medicina, que dá autonomia para que os médicos possam prescrever essa medicação para os pacientes que assim desejarem. Isso é o que vamos repetir diariamente”, declarou Mayra Pinheiro, secretária de gestão em trabalho na saúde do ministério, durante coletiva de imprensa em Brasília.
Pressionado pelo presidente Jair Bolsonaro, o Ministério da Saúde, o país mais afetado pelo novo coronavírus na América Latina, divulgou na semana passada um documento em que ampliou as recomendações para o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina aos casos leves de COVID-19 apesar da falta de evidências conclusivas sobre sua eficácia.
Até então, recomendava-se seu uso apenas nos casos mais graves. A decisão gerou críticas da comunidade científica brasileira.
Nesta segunda-feira, a OMS anunciou a suspensão temporária dos testes clínicos com hiroxicloroquina que realizava em vários países, após a publicação de um estudo na sexta-feira na revista médica The Lancet, que considerou ineficazes e até contraproducentes o uso da cloroquina e seus derivados para lutar contra a COVID-19.
“Não se trata de um ensaio clínico, é apenas um banco de dados coletado de vários países e isso não entra no critério de um estudo metodologicamente aceitável para servir de referência para nenhum país do mundo, e nem para o Brasil”, declarou Pinheiro.
A pressão de Bolsonaro para ampliar o uso do medicamento é apontada como a principal causa da renúncia do ministro da Saúde, o oncologista Nelson Teich, que ocupou o cargo durante menos de um mês após a saída de seu antecessor, Luiz Henrique Mandetta, que também saiu por divergências com o presidente sobre a gestão da crise sanitária.
O presidente americano, Donald Trump, é outro defensor do uso do remédio e chegou a revelar que toma diariamente de forma preventiva um comprimido de hidroxicloroquina.
Teich foi substituído interinamente pelo general Eduardo Pazuello, que autorizou a difusão da nova recomendação.
O Brasil é o sexto país do mundo com maior número de mortes pelo novo coronavírus (23.473) e o segundo com mais casos confirmados (374.898), atrás apenas dos Estados Unidos.
O pico da pandemia no país não deve ocorrer antes do começo de junho, mas Bolsonaro segue em campanha contra as medidas de quarentena adotadas com maior ou menor intensidade por quase todos os governadores.
Em vários estados, as unidades de terapia intensiva (UTI) estão à beira da saturação.