Mobilizações da educação e solidariedade de classe

Por Jacy Afonso

A greve é uma ocasião privilegiada para observar as limitações e as possibilidades existentes nas relações internas da classe trabalhadora

A educação brasileira iniciou 2015 em movimento e com a costumeira força de trabalhadoras e trabalhadores, sempre atuantes para conquistar e manter direitos, e debater com a sociedade a situação da educação pública e a necessidade de avanços para que se torne efetivamente de qualidade.

Paulo Freire nossa ensina que a educação é consequência da nossa incompletude enquanto seres humanos. A consciência crítica do nosso processo histórico de inacabamento nos torna sensíveis à capacidade de estranhamento que nos compromete com a luta pela superação da opressão, das discriminações e das desigualdades.

Esse comprometimento leva educadoras e educadores à luta. Ocupam ruas e praças de diversos Estados, como Paraná, São Paulo, Santa Catarina, Pernambuco, Minas Gerais, Amapá, Piauí e Distrito Federal para reivindicar seus direitos e os da sociedade brasileira: educação de qualidade, condições de ensino-aprendizagem, respeito aos profissionais e aos estudantes.

Nessa movimentação percebemos que apenas em alguns momentos trabalhadoras e trabalhadores da educação recebem apoios pontuais. Assim como a Petrobrás é patrimônio nacional, a educação é, além de direito fundamental, um bem público de toda a população. Por isso, a responsabilidade reclamar das condições de trabalho, da falta de infraestrutura e da falta de equipamentos nas escolas, das salas superlotadas, do acúmulo de horas-aula não é somente de professores e de trabalhadores da educação. Deve ser compromisso de pais, mães, estudantes e de dirigentes sindicais de todas as categorias.

Temos consciência do afastamento de pais, mães e responsáveis da escola por motivos que não nos cabe discutir. O distanciamento é ainda maior em momentos de mobilização. Os educadores e educadoras ficam sozinhos, lutando por questões que dizem respeito à sociedade. E também não sentem a aproximação solidária dos demais sindicatos. A luta desses profissionais não é exclusivamente corporativa; é política e social; e por interesses coletivos. Portanto, além do apoio dos pais e dos estudantes precisa ter a presença concreta de organizações sociais e sindicais.

Os movimentos de rua e a greve são ocasiões privilegiadas para observar as limitações e as possibilidades das relações internas da classe trabalhadora. Por suas características de conflitos abertos, públicos e organizados em busca de garantia e conquista de direitos que não são exclusivos, as mobilizações da educação possuem elementos importantes para pensarmos as relações entre categorias e intraclasse. Ações de solidariedade têm o significado da consciência da luta coletiva.

A CUT nasceu sob o princípio da solidariedade da classe trabalhadora. A idêntica situação de exploração e descalabro indicou a necessidade de atenuar as diferenças e as divergências decorrentes da organização por categoria, criando uma central sindical forte e combativa. Acentuar as experiências de superação das diferenças que muitas vezes nos apartam é imprescindível para a atuação coletiva e a construção da identidade de classe. Então, trabalhadoras e trabalhadores da educação não podem lutar sozinhos; suas lutas exigem a participação de todo o movimento sindical.

Os desafios das trabalhadoras e dos trabalhadores da educação são hercúleos. A garantia e a expansão da educação pública de qualidade é responsabilidade de todas e todos que querem construir um país melhor. A pressão a ser exercida sobre os governos para que cumpram a legislação, para que mantenham escolas públicas adequadas ao processo educativo, para que valorizem seus profissionais é, sim, de toda a sociedade. O apoio concreto, diário, solidário e parceiro diz respeito aos movimentos sociais e principalmente ao movimento sindical. Os sindicatos de outras categorias e a CUT não podem se eximir dessa tarefa.

Precisamos estar atentos à implementação do lema do Governo Federal “Brasil, Pátria Educadora”. Aplicações adequadas das verbas, cobrança da execução das metas do Plano Nacional de Educação, acompanhamento da destinação das verbas do pré-sal (em consequência a defesa da Petrobras como empresa pública), exigência do cumprimento do piso nacional, respeito aos educadores e educadoras são algumas das nossas responsabilidades. Não há Pátria Educadora sem esses requisitos.

E mais: em pleno ano do lema “Pátria Educadora” pipocam greves da educação em todo o país. Estados e Municípios não cumprem suas obrigações. Os principais exemplos de desrespeito à educação estão nos Estados de São Paulo e Paraná. No primeiro a greve acontece há mais de 50 dias. No Paraná os professores já realizaram uma grande greve no início do ano. Voltaram ao trabalho após o Governo assumir o compromisso de atender às reivindicações da categoria. Porém, isso não aconteceu e os professores voltaram às ruas no dia 29 de abril quando foram massacrados pela polícia militar comandada pelo governador Beto Richa (PSDB) e pelo secretário de Segurança Fernando Francischini (SD). A truculência da polícia feriu mais de 200 pessoas e deixou um rastro de sangue espalhado no entorno da Assembleia Legislativa.

Educadoras e educadores dão lições de cidadania ao lutar por seus direitos. Mesmo com a repressão e a perseguição, organizam-se em novos atos pelo Brasil. Na segunda, 4 de maio, foram de preto para as escolas. No dia 5 de maio ocorre um grande ato de solidariedade em Curitiba; Também neste dia a CUT convoca todas as estaduais, os ramos de atividade e as entidades sindicais filiadas a organizem e participem de atos em Defesa da Educação Publica e em Solidariedade aos Educadores e Servidores do Paraná e contra a brutal repressão e violência às manifestações dos trabalhadores.

A educação em movimento aponta que a formação de cidadãos conscientes, de seres humanos com autonomia para aprenderem mais do que ler, escrever e fazer operações matemáticas é ato político e precisa do apoio comprometido de pais, mães, estudantes, trabalhadoras e trabalhadores em geral e do movimento sindical, principalmente o CUTista.

A consciência ética desses profissionais organizados em suas entidades sindicais aponta a necessidade do inconformismo. Defendem educação pública de qualidade porque acreditam na reinvenção do ser humano para continuar a construção da igualdade que promove a felicidade coletiva. Precisamos ser parceiros da luta, pois não foram apenas os trabalhadores e trabalhadoras de educação do Paraná e dos demais estados que estão em greve que estão sendo atingidos; está sendo atacada toda a classe trabalhadora. E educação diz respeito a todos e todas que têm a esperança e a determinação de construir uma sociedade melhor.

Do Brasil 247

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