Morre o ator Milton Gonçalves aos 88 anos

Aos 88 anos, faleceu no início da tarde desta segunda-feira (30) o ator Milton Gonçalves. De acordo com a família, ele morreu por consequências de saúde provocadas por um AVC sofrido em 2020. O ator estava em casa no momento de sua morte e seu velório será realizado no Teatro Municipal do Rio de Janeiro.

Milton Gonçalves nasceu em 9 de dezembro de 1933 em Monte Santo, Minas Gerais. Ele se mudou para São Paulo ainda na infância. Foi alfaiate, gráfico e aprendiz de sapateiro.

Com 24 anos, depois de atuar em peças amadoras, estreou no Teatro de Arena a convite do diretor e dramaturgo Augusto Boal (1931-2009), que o escolheu para o elenco da peça Ratos e Homens. Ao se radicar no Rio de Janeiro, Milton fez episódios do Grande Teatro Tupi, na TV Tupi, programa que adaptava para a televisão peças teatrais.

Iniciou sua carreira televisiva na TV Tupi, mas em 1965 migrou para a TV Globo onde atuou em mais de 40 novelas. Ao longo dos anos 1970, ele brilhou em frente às câmeras com personagens marcantes, como o Professor Leão, de Vila Sésamo (1972), e Zelão das Asas, de O Bem-Amado (1973).

Na direção, esteve à frente de grandes sucessos, como Selva de Pedra (1972) e Escrava Isaura (1976). Sua primeira experiência como diretor foi na novela Irmãos Coragem (1970), de Janete Clair.

Milton também estava no elenco da primeira versão de Roque Santeiro (1975), no papel de Padre Honório, mas a trama foi proibida pela ditadura.

O ator também esteve presente em outros sucessos de audiência, como Baila Comigo (1981), de Manoel Carlos, Sinhá Moça (1986) de Benedito Ruy Barbosa, e A Favorita (2008), de João Emanuel Carneiro. Seu último papel na televisão foi ao viver um Papai Noel no especial Juntos a Magia Acontece, que foi ao ar no fim de 2019.

No cinema, o ator participou de mais de 100 produções. Sua estreia foi em 1958, no filme “O grande momento”, de Roberto Santos, e seguiu por obras como “Cidade ameaçada”, “Cinco vezes favela”, “Grande sertão Paraíba” e “O homem que comprou o mundo”. Em 1975, como o protagonista de “Rainha diaba” (um traficante homossexual, papel desafiador em plena ditadura), filme de Antonio Carlos da Fontoura, Milton Gonçalves foi eleito melhor ator pelo Festival de Brasília.

Em “Eles não usam black-tie”, de 1981, de Leon Hirszman, Milton Gonçalves emocionou a todos revivendo o operário Bráulio, interpretado por ele na peça de mesmo nome escrita por Gianfrancesco Guarnieri, em 1958. O filme ganhou o Grande Prêmio do Júri do Festival de Veneza. Também figura na lista de 100 melhores filmes brasileiros de todos os tempos da Abraccine.

Milton brilhou ainda em “Um trem para as estrelas”, “O homem nu” e “Orfeu”.

Em 2003, Milton Gonçalves recebeu uma homenagem do Festival de Cinema de Gramado por suas contribuições ao cinema nacional, tendo participado de mais de 100 filmes. Na década seguinte, participou de obras como “Segurança nacional”, “Giovanni Improtta”, “O duelo”, entre outras.

Militante do movimento negro, Milton Gonçalves participou do Teatro Experimental do Negro. Ele foi ainda premiado como melhor ator no Festival de Gramado, em 2005, por seu trabalho em As Filhas do Vento, de Joelzito Araújo.

Milton Gonçalves se candidatou ao governo do Rio de Janeiro em 1994, pelo PMDB, mas não venceu a eleição. Atualmente, estava na diretoria do Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões do Estado do Rio de Janeiro (Sated/RJ). Em 2017, ele chegou a ser nomeado presidente do Teatro Municipal do Rio, mas não assumiu o cargo. A decisão foi tomada porque Milton era membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, órgão consultivo da Presidência da República, e o acúmulo da função de presidente do Municipal configuraria “conflito de interesse”.

No Carnaval deste ano, Milton Gonçalves foi homenageado pela escola Acadêmicos de Santa Cruz que levou a história de luta e de sucesso do ator e diretor para a Marques de Sapucaí.

A morte de Milton Gonçalves foi lamentada por artistas, amigos, personalidades e lideranças políticas:

A atriz Zezé Motta, destacou a dimensão de Milton. “Quando alguém de tanta importância se despede de nós, sempre me faltam muitas palavras, como agora… Milton Gonçalves era dos mais importantes atores que este país já teve. Milton faz parte da história da TV Brasileira. Um gênio, elegante, brilhante profissional. Foram muitos sets juntos, muitas histórias, muitas famílias… Nosso último trabalho juntos foi no Especial ‘Juntos a magia acontece’, que ganhou prêmio em Cannes. Descanse em paz meu querido colega. Obrigada por tanto, você é eterno. Você é referência.”

Camila Pitanga, filha de um dos maiores amigos e parceiros de Milton, Antônio Pitanga, fez uma homenagem ao ator falecido.

“Milton, o seu legado é eterno. Tanta portas você abriu com seu talento, sua firmeza, suas veias saltando. Me sinto honrada de ter seu olhar para me banhar. Foi meu pai em cena e fora dela. Seu pioneirismo será sempre celebrado. Muito amor a ti. Alda, Mauricio e Catarina muito amor a vocês.”

Hora do Povo

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