Movimento #Somos70porcento desperta para a força da maioria “Fora Bolsonaro”

Nós últimos três dias, as manifestações em defesa da democracia e contra o governo de Jair Bolsonaro (sem partido) se intensificaram. Mobilizações ocuparam as ruas e as redes com críticas ao direcionamento do ex-capitão para o país — sobretudo durante a pandemia do novo coronavírus — e às ameaças às instituições democráticas do país.

Entre as mobilizações, o movimento #Somos70porcento, puxado pelo economista Eduardo Moreira, ganhou força e adesão popular desde sábado (30), um dia antes das bandeiras das torcidas organizadas pró-democracia irem às ruas de São Paulo, do Rio de Janeiro e de Porto Alegre. A hashtag, que chegou a ser o terceiro assunto mais comentado no Twitter, faz referência ao percentual de brasileiros que consideram o governo Bolsonaro ruim/péssimo ou regular, segundo pesquisa Datafolha.

A ideia da campanha é “fazer a ficha cair”, como definiu Moreira em entrevista ao Brasil de Fato, uma vez que os apoiadores de Bolsonaro são minoria, chegando à casa de apenas 30%.

“Quando saem essas pesquisas, o pessoal: ‘Poxa, mas eles não caem de 30%’. Aí eu falei assim: ‘Ô, acorda, eles são 30%; nós, 70′. Você está deixando 30% agirem como se fossem 70, e nós, que somos os 70, estamos agindo como se fôssemos 30. A gente é maior que o dobro, a gente é ampla maioria num regime verdadeiramente democrático, quem faz as escolhas somos nós. Somos os 70%”, relata o economista sobre o momento em que surgiu a campanha.

“Despertar”

A pesquisa Datafolha foi aplicada nos dias 25 e 26 de maio, período em que já se evidencia o impacto da divulgação do vídeo da reunião ministerial de 22 de abril. Os resultados mostram que 43% dos brasileiros consideram o governo ruim ou péssimo, avaliação que na pesquisa anterior era feita por 39,5% dos respondentes. Já o percentual de pessoas que consideram o governo regular caiu de 26% para 22%.

De acordo com a série histórica do Datafolha, Bolsonaro tem o pior índice de aprovação de presidentes desde 1989 a esta altura de um primeiro mandato. Fernando Collor tinha 41% de rejeição quase no mesmo período, com um ano e seis meses à frente da Presidência.

Além de chegar a uma rejeição recorde, o presidente já vê crescer em pouco mais de um mês e meio os que defendem sua renúncia ou seu impeachment. Segundo o Datafolha, do início de abril para cá, caiu de 59% para 50% os que acham que ele não deve renunciar, enquanto subiu de 37% para 48% os que acham que devem.

A rejeição ao modo como o governo Bolsonaro conduz a crise do novo coronavírus alcança 50%, enquanto a aprovação está em 27%. A frase dita na reunião ministerial de 22 de abril pelo presidente, sobre distribuição de armas para a “população”, é reprovada por 72%.

Moreira explica que o movimento “dos 70%” tem a intenção de fazer as pessoas “acordarem para o poder que elas têm e não estão vendo”. Segundo ele, existe uma máquina financiada pelo governo para impedir que as pessoas vejam o que elas realmente são e o tamanho delas.

“Tem história de um elefante quando ele é pequeno num circo você amarra ele num barbante num cotoquinho de madeira e não consegue sair, quando ele fica grande você pode amarrar ele com o mesmo cotoquinho que ele não tenta sair, ele não sabe o tamanho dele. Caramba, olha o nosso tamanho a gente vai deixar um barbante amarrar a gente num cotoco que é o Bolsonaro? Vamos arrancar o cotoco do chão e vamos ficar livre. Essa é a ideia dos 70%”, aponta ele.

Xuxa contra bolsonaristas

A campanha #Somos70porcento ganhou força no campo democrático e também fora dele. Entre as celebridades, o post que teve maior destaque foi o da apresentadora Xuxa Meneghel, que nas últimas eleições chegou a aderir à campanha “Ele não”, que se opôs à candidatura de Jair Bolsonaro à Presidência em 2018.

Xuxa levantou a hashtag #Somos70porcento em seu perfil no Instagram ao lado de um vídeo antigo, de 1998, quando estava grávida de sua filha Sasha. A barriga à mostra exibe uma bandeira do Brasil e a apresentadora, com figurino e cenário com as cores da bandeira, canta “Estamos chegando”. A postagem tem amplo apoio de seguidores.

O ator Bruno Gagliasso também replicou o movimento e teve sua postagem compartilhada por outros artistas, como Bruna Marquezine

No campo político, representantes de diversos partidos se somaram à mobilização, a exemplo do deputado federal Marcelo Freixo (PSol/RJ), do ex-senador Roberto Requião (MDB/PR), do senador Humberto Costa (PT/PE), da deputada federal Jandira Feghali (PCdoB/RJ) e do senador Randolfe Rodrigues (Rede/AP).

Minoria

Para Eduardo Moreira, o porcentual da população que apoia Bolsonaro e que defende ideias como o racismo, a exploração do capital, o não pagamento de impostos e o genocídio das favelas sempre existiu e que esta minoria é “estrutural”.

“São séculos de esforço para fazer uma sociedade assim, a gente não muda esses 30% dá noite para o dia. A gente só consegue mudar esses 30% estruturalmente, mudando essa forma de se relacionar como grupo, como sociedade, então assim. O apoio específico a Bolsonaro pode cair ou mudar, mas o apoio da sociedade a isso que Bolsonaro representa é muito consolidado nos 30%. O que a gente precisa novamente é fazer valer o 70”, expressa o economista.

“Fora, Bolsonaro”

A campanha #Somos70porcento continua ganhando força por conta própria nas redes e se soma a outras ações de oposição a Bolsonaro de forte impacto no último fim de semana. Ainda no sábado (30), circulou o “Manifesto Estamos juntos“, assinado por personalidades com posições que vão da esquerda à direita.

Assinam o documento nomes como Luciano Huck, Flávio Dino, Fernando Haddad, Fernando Henrique Cardoso, Fernanda Montenegro, Antonio Fagundes, Marco Nanini, Paulo Coelho, Fernando Meirelles, Oded Grajew, Luiza Erundina, Maria Alice Setúbal, Cristovam Buarque, Jean Wyllys, Nelson Jobim, Celso Lafer, Tostão, Casagrande, Vahan Agopyan, Marcos Palmeira, Eliane Brum, João Paulo Capobianco, Frei Betto e Lobão, entre outros.

No domingo (31), alguns dos principais jornais do país publicam manifesto de página inteira. No texto, intitulado “Basta!”, os juristas afirmam que “o Brasil, suas instituições, seu povo não podem continuar a ser agredidos por alguém que, ungido democraticamente ao cargo de presidente da República, exerce o nobre mandato que lhe foi conferido para arruinar com os alicerces de nosso sistema democrático”.

Brasil de Fato

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