Mulher e presidenta: as histórias de trabalhadoras que comandam sindicatos e centrais
O dia 8 de março é de exaltação da luta das mulheres em todos os cantos do mundo. Mas não é só nessa data que elas batalham por uma sociedade mais justa. Em homenagem, contamos algumas das muitas histórias de mulheres que estipularam que o combate pelos direitos das trabalhadoras e trabalhadores deve ser cotidiano.
Alessandra Mello
“Quem quer ser revolucionário não pode ser pessimista”, indica a presidenta do Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais. Alessandra é repórter há mais de 20 anos e, em 2017, assumiu a tarefa de comandar a entidade e enfrentar uma das piores crises financeiras que o sindicato já viu. Frente a um cenário de concentração da mídia, a jornalista procura fortalecer campanhas contra as demissões em massa e abusos nos grandes jornais e defende a bandeira da democratização da comunicação – sempre preservando a esperança. “No país, vivemos uma tentativa de desmonte que inclui a fragilização dos sindicatos para que possam fazer o que quiserem sem que exista alguém para defender o trabalhador. É uma coisa conjunta, orquestrada, que faz parte do golpe e que foi muito bem pensada”, destaca.
Beatriz Cerqueira
É professora, coordenadora-geral do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (Sind-UTE-MG) e primeira mulher eleita para a presidência da Central Única de Trabalhadores (CUT) do estado. Bia, como é conhecida, concluiu o magistério no Instituto de Educação de Minas Gerais (IEMG) e é também formada em Direito. Para ela, ser a primeira presidenta da CUT-MG fortalece a luta por igualdade. “Num universo machista, como é o movimento sindical, é importante que uma mulher assuma e reforce o debate sobre gênero. É um desafio lutar por mais mulheres nos espaços de poder”, declara.
Eliana Brasil
“Nada foi traçado, parece que o DNA sindical estava na minha veia”, diz a presidenta do Sindicato dos Bancários de Belo Horizonte e Região. Desde os anos 1990, ela decidiu pelo caminho da luta dos trabalhadores e, em 2012, conquistou a presidência em uma época de greve, fortes negociações salariais e eleições. Depois disso, foi eleita com 80% dos votos da categoria. “Há as agruras, nem tudo são flores”, relata Eliana, ao pensar nas situações de machismo que já viveu. “A gente sofre todo o tipo de assédio, mas a mulher bancária se sentiu representada. Tem que ser forte, nunca deixar a peteca cair. Vim de uma casa de cinco filhas mulheres e a garra sempre foi importante para minha mãe e pai”, ensina.
Valéria Morato
É servidora pública, foi professora do estado, da cidade de Divinópolis e hoje é a primeira mulher presidenta da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB). Valéria também é presidenta do Sindicato dos Professores do Estado de Minas Gerais (Sinpro-MG) – com 85 anos de existência, a instituição teve três mulheres no mais alto cargo da diretoria. Escolheu o mundo do sindicalismo por acreditar em sonhos e ter a certeza de que os trabalhadores precisam se organizar para conquistar o que quer que seja. A partir daí, tomou gosto pela coisa, como ela mesmo diz. Valéria lembra, ainda, que ser mulher é encarar uma tripla jornada, muitas vezes carregada de toda a responsabilidade pelos cuidados com a casa e a educação dos filhos, além de estar sujeita a todos os tipos de rótulos. “Em mesas de negociação dá para sentir o desrespeito. É quando a gente é obrigada a se impor de forma mais incisiva. Mas aí você é rotulada como dura demais, uma mulher ranzinza, aquela que não é nada diplomática”, critica.
Valquíria Assis
Em uma categoria em que há predominância masculina, Valquíria Assis mostra que as mulheres também estão lá e fazem a luta. Ela é presidenta do Sindicato dos Economistas de Minas Gerais (Sindecon-MG) e mantém uma postura combativa neste momento do país, no qual o discurso neoliberal ganha força e é abraçado pela mídia. “A política econômica apresentada pelo atual governo não apresenta uma proposta para criação de novos postos de trabalho e o IBGE já revela um expressivo aumento do número de pobres e miseráveis”, pontua. A presidenta também critica os analistas que veem com bons olhos o cenário do mercado e reitera de que não há sinais de que a economia volte a crescer junto com a sociedade. “Em vez de ampliar a rede de proteção social, indispensável para amparar a população em tempos de crise, o governo empenhou-se em reduzi-la”, alerta.
Vera Pape
O Sindicato dos Músicos Profissionais de Minas Gerais (Sindmúsicos-MG) existe há 70 anos, mas Vera é a primeira mulher a conquistar o cargo de presidenta. Ela é musicista, defende a arte e a cultura como questões políticas de primeira importância e vive o desafio de resgatar a mobilização da categoria que, segundo a artista, nunca foi estimulada a participar de debates. Vera luta contra o monopólio da cultura e da comunicação no Brasil, setores que ela classifica como “indissociáveis”, e relata que ser mulher em uma posição de poder no sindicalismo é uma briga cotidiana. “Temos poucas mulheres aqui no sindicato e precisamos dar o lugar, ouvir, chegar à paridade, estimular a presença. É preciso garantir condições para que elas estejam dentro do sindicato, em lugares de mando e de comando”, defende.
Uma batalha invisível: as mulheres e o sindicalismo
Estudos históricos registram que as mulheres estão presentes no movimento de trabalhadores desde o século 19. Nesse momento, embora fossem grande parte da classe, a participação delas não era bem vista: eram classificadas como “mau amadas” ou prostitutas. Mesmo assim, foram ativas na construção do movimento operário e sindical brasileiro, participando fortemente da greve geral de 1917, que começou com tecelãs que denunciavam abusos sexuais, morais, psicológicos e péssimas condições de trabalho. Elas também lutaram incorporação dos seus direitos na CLT, em 1937 e encabeçaram diversas mobilizações e greves.
Há décadas, as mulheres lutam por iguais oportunidades no mercado de trabalho e por remuneração igual à dos homens. Esses dois temas já são convenções da Organização Internacional do Trabalho (OIT) desde a década de 1950, mas ainda não foram colocados em prática. Com base no ritmo atual, a OIT prevê que a equiparação salarial pode acontecer apenas em 2086.