Não existe atividade econômica que possa pagar juros tão elevados, denuncia presidente da CNI
“Todos os setores no Brasil veem essa taxa de juros extremamente elevada”, afirma Robson Andrade
O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Braga de Andrade, afirmou em entrevista ao Estadão que “todos os setores no Brasil veem essa taxa de juros extremamente elevada. Não existe no Brasil nenhuma atividade econômica que possa pagar os juros tão elevados como estamos vendo hoje. Você chega a pagar entre 20% e 30% ao ano, a depender do tamanho da empresa”.
Segundo Robson Andrade, “o Copom tem uma visão de redução da inflação, mas existem mecanismos para conter isso. O mundo inteiro está vendo que existe um processo de desaceleração da inflação e também de desaceleração da elevação das taxas de juros. Em alguns países, se aposta na sucessiva redução dessas taxas“.
“O Brasil precisa fazer isso. O Banco Central tem de olhar outros fatores da economia brasileira”, acentuou.
Ele declarou que concorda com a empresária Luiza Trajano, presidente do Conselho de Administração dona da Magazine Luiza, que cobrou do presidente do BC, Campos Neto, a redução dos juros afirmando que “vai ter muita quebradeira” se a taxa Selic, taxa básica da economia, persistir no nível de 13,75% a.a..
“Quando o varejo fala que muitas empresas vão quebrar, é prejudicial para a indústria também, porque o varejo é o nosso mercado”, disse o presidente da CNI.
Para frustação de Trajano e, pode-se dizer dos brasileiros, é corrente nos prognósticos do mercado que Campos Neto vai persistir no caminho do precipício, mantendo a Selic nos atuais 13,75%.
De acordo com o boletim Focum do Banco Central, divulgado hoje, a mediana das instituições financeiras está estimada em uma taxa de 12,25% no final do ano. Com a inflação caindo, os juros reais continuam subindo, mantendo-se como os mais altos do mundo.
Quanto à recente isenção de imposto para redução dos preços dos carros, Robson Andrade considera até positivo, mas diz que terá efeito pequeno, se posicionando com cautela. “O que gera impacto no negócio de automóveis e caminhões é o crédito de prazo longo e a taxa de juros baixa. Além disso, vemos que a população está bastante estrangulada”.
Como se sabe, a inadimplência passou dos 70% entre a população adulta, conforme pesquisas recentes e todos estão pendurados no crédito, nessas taxas que derrubam qualquer um. O reflexo mais categórico das dificuldades é que até as contas básicas como água, luz e gás de cozinha estão expressivas nessa situação.
Ao contrário do que afirma Campos Neto sobre o consumo, que até agora não mudou de posicionamento, ‘o presidente da CNI alerta: “o consumo diminui não só na indústria automobilística, mas inclusive na indústria de alimentos”.
“Isso está acontecendo de maneira geral, porque o Brasil precisa de crédito de médio prazo com taxas de juros condizentes com a remuneração dos trabalhadores, senão não vamos ter demanda pelos produtos industriais e também pelos serviços”, disse. “A prioridade passa a ser alimentação e mesmo alguns setores têm tido dificuldade com seus produtos”.