O que está em jogo no segundo turno?

Movimentos e intelectuais da esquerda alertam para o retrocesso do que pode significar um retorno da política neoliberal do PSDB

Bruno Pavan, Da Redação

O Partido dos Trabalhadores (PT) e o Partido da Social Democracia Brasilei­ra (PSDB) travam novamente a disputa, em segundo turno, para o principal car­go eletivo do país: a Presidência da Re­pública.

O azul dos tucanos e o vermelho do PT deixaram novamente a chamada “ter­ceira via” distante do segundo turno das eleições presidenciais. O que parecia uma forte tendência de novos persona­gens inseridos no debate acabou se tor­nando o reforço da velha polarização.

Dilma Rousseff, defendendo sua ree­leição e mais quatro anos de governo do Partido dos Trabalhadores. Aécio Ne­ves, que obteve mais de 30 milhões de votos no primeiro turno, é o candida­to tucano que talvez tenha mais chan­ces de vencer a eleição desde a derrota de José Serra em 2002.

Partidos com visões parecidas demais para alguns, um modelo diferente de desenvolvimento para outros, acontece que está na hora de se decidir: Dilma, Aécio ou nulo?

Brasil de Fato fez essa pergunta para líderes de movimentos sociais e in­telectuais da esquerda brasileira e a res­posta foi unânime: reeleger Dilma Rous­seff para evitar um retrocesso maior com a volta dos tucanos ao poder.

É a opinião do coordenador do Mo­vimento dos Trabalhadores Sem Te­to (MTST) Guilherme Boulos que argu­menta que seu voto em Dilma se dá não por avaliar que o PT tenha feito um go­verno de esquerda, mas que Aécio e o PSDB são opções à direita.

“Aécio representa o retrocesso conser­vador. Representa a retomada de pautas de precarização, ataques à previdência pública, privatização de setores estraté­gicos e criminalização das lutas popula­res”, apontou.

A militante da Marcha Mundial da Mulheres Nalu Farias aponta que é a hora de uma mobilização entre os mo­vimentos organizados para que se im­peça as manipulações da mídia tradicio­nal nessa eleição e “garantir que o deba­te seja feito em igualdade de condições”.

“Para eleger Dilma é necessário ter uma campanha que explicite as dife­renças de projetos, que dê seguimen­to ao que foi no primeiro turno em re­lação a politização do debate. É neces­sário também uma ampla mobilização, tanto das campanhas organizadas mas também do conjunto de movimentos sociais e organizações que têm um com­promisso com a construção da justiça e da igualdade nesse país”, explicou.

Crítica

O apoio dos movimentos, porém, não apaga em nada a postura crítica que muitos têm dos 12 anos de governo do PT no país. A falta de reformas estru­turais como a da mídia, a tributária e a política fazem com que alguns seto­res defendam o voto nulo no segundo turno. Os quatro representantes da es­querda no primeiro turno não decla­ram apoio formal a nenhum dos can­didatos. Somente os deputados eleitos do PSOL lançaram carta em que defen­dem voto em Dilma Rousseff no segun­do turno.

O professor da Universidade de São Paulo (USP) Pablo Ortellado reforça que seu voto em Dilma Rousseff não significa que um segundo governo teria novos avanços “mas a manutenção do que se conseguiu conquistar. Com Aé­cio teríamos um retrocesso imenso”.

A professora livre-docente da Univer­sidade da São Paulo Deisy Ventura cri­tica a realidade dos direitos humanos no Brasil, principalmente o cerco a ma­nifestações populares e os ataques aos LGBTs, mas explica o seu voto em Dil­ma Rousseff por conta do diálogo.

“Aquilo que na perspectiva do gover­no dela é um erro, na perspectiva de Aé­cio Neves é um acerto. Eu prefiro brigar com a Dilma pelos direitos humanos do que a total falta de diálogo com o PSDB de Aécio Neves”, disse.

Pedro Mansan, da Pastoral da Ju­ventude Rural, ainda reforça que Aécio defende projetos que vão piorar ainda mais a vida da população mais pobre do Brasil, como a redução de salários e a diminuição da maioridade penal, além de lembrar que, nos governos do PSDB, os movimentos sociais foram tratados como caso de polícia.

Mais luta para os movimentos

É quase uma unanimidade que os próximos quatro anos serão de muita luta para os movimentos sociais. Com um Congresso representado principal­mente por empresários e ruralistas, so­mente mais mobilizações vão poder tra­zer as vitórias necessárias.

“Mesmo com Dilma eleita, a conjun­tura do próximo período não será fácil, pois o Estado tem três poderes e dois deles são claramente conservadores, o Congresso que só piorou nessa elei­ção e o Judiciário que historicamente criminaliza as lutas do povo”, explicou Rosângela Piovizani, do Movimento de Mulheres Camponesas.

O irmão Marcelo Barros da Associa­ção Ecumênica de Teólogos (as) do Ter­ceiro Mundo (ASEET) cobra uma postu­ra mais ativa dos movimentos, que exija de Dilma e de seus ministros um diálogo mais efetivo com os movimentos e um afastamento da cúpula do PMDB.

“Com esse novo Congresso eleito, mais conservador do que nunca, será ainda mais importante votar no governo Dilma pedindo e exigindo mesmo mu­danças radicais no sentido de uma polí­tica mais justa e solidária com os povos indígenas, uma política que realize a re­forma agrária justa e a partir dos lavra­dores e maior atenção à ecologia”.

Adriano Ferreira, do Movimento de Trabalhadores e Trabalhadoras do Campo, diz que apoia a petista, mas que os movimentos devem “traçar estratégias de enfrentamento ao que está posto na gestão atual do go­verno Dilma”.

Do Brasil de Fato

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