O saldo das eleições: a vitória mais contundente não foi a da direita, mas a da rejeição à política
Com a apuração das Eleições Municipais de 2016 surge uma nova realidade política no Brasil. Com 144.088.912 votos contados, o processo eleitoral transcorreu sem tumulto, e somente 0,83% das urnas tiveram que ser substituídas. O resultado completo do pleito, com todos os prefeitos e vereadores de todo o país, pode ser consultado no site oficial do Tribunal Superior Eleitoral.
Dos resultados em primeiro turno, o mais evidente acontecimento foi a prevalência do sentimento anti-político diante da urna: em muitos dos principais colégios eleitorais do país, o índice de votos brancos, nulos e abstenções quebrou recordes históricos, assim como a preferência por candidatos que apostaram no discurso de negação da política institucional. Somente em São Paulo, os votos invalidados atingiram enormes 34,87%, superando até mesmo os 34,76% de João Doria Jr. (PSDB) – que venceu, já no primeiro turno (com 53,29% dos votos válidos), utilizando ataques enfáticos à “velha política”.
Em Salvador, Belo Horizonte, Porto Alegre e no Rio de Janeiro, a história se repetiu: respectivamente 31,86%, 38,5%, 34,8% e 38,1% dos eleitores simplesmente não escolheram nenhum candidato. Esses índices são ainda maiores do que os de 2014, quando a parcela de votos inválidos atingiu 27,44% (21,10% de abstenção,1,71% em branco, 4,63% nulos).
O perfil dos candidatos eleitos ou levados ao segundo turno sofreu uma guinada expressiva para o conservadorismo. Das 27 capitais dos estados, 20 optaram ou deram liderança para candidatos de partidos alinhados à direita, seguindo a tendência já delineada em 2014 – comparativamente, as mesmas cidades elegeram 14 candidatos conservadores em 2012.
A luz no fim do túnel pode vir do resultado do segundo turno, a ser definido em 30 de outubro. Em 17 capitais, a disputa ainda pode colocar um candidato favorável aos trabalhadores no comando do município, algo fundamental à construção da resistência popular até o próximo pleito presidencial. O Rio de Janeiro, com a ascensão de Marcelo Freixo (PSOL) na disputa com Marcelo Crivella (PRB), pode representar o novo centro de resistência progressista no próximo ciclo político, caso o psolista supere o candidato evangélico.
Distribuição dos partidos vencedores nas capitais
A grande maioria das capitais irão decidir o destino de suas prefeituras em segundo turno. Entre essas, no entanto, duas situações muito diferentes se demarcam: há aquelas em que um projeto progressista desafia outro conservador, e aquelas que são concorridas por duas coligações conservadoras. Não há cidades divididas entre duas chapas de esquerda.
No primeiro caso, além do Rio de Janeiro de Marcelo Freixo, aparecem Recife, Belém, Macapá, Fortaleza, São Luís, Belo Horizonte e Belém. Já no outro cenário, de conservadores contra conservadores, aparecem Maceió, Manaus, Vitória, Cuiabá, Campo Grande e Curitiba (esse último caso, diga-se, entre um herdeiro de velhas oligarquias e outro que diz que “vomitou ao sentir cheiro de pobre”).
Ao contrário das eleições anteriores, desta vez o acontecimento da reeleição não foi a tendência principal, ocorrendo em apenas sete capitais – e apenas com dois candidatos progressistas, entre elas. Assim sendo, Marcus Alexandre (PT) e Carlos Eduardo Alves (PDT) seguiram no comando de Rio Branco e Natal, respectivamente. O mesmo vale para Carlos Amastha (Palmas), Maria Teresa Saenz (Boa Vista), Firmino Filho (Teresina), Luciano Cartaxo (João Pessoa) e ACM Neto (Salvador).
Apenas três desafiantes ganharam dos prefeitos já no primeiro turno: Professora Selma Bastos (PT), em Goiânia; Professor Geelison (PMDB), em Brasília; e João Doria Jr. (PSDB), em São Paulo.