Os 69 anos das bombas atômicas: “(…) depois de Hiroshima e Nagasaki, falar em ética é hipocrisia”

Por José Geraldo de Santana Oliveira*

“Senhor presidente, depois de Hiroshima e Nagasaki, falar em ética é hipocrisia.”

Esta forte e pertinente metáfora é do secretário da Presidência dos EUA, pronunciada em resposta à pergunta que lhe fez o então presidente Harry Truman sobre um projeto de lei que aguardava a sua sanção, mas que lhe parecia antiético.

Pois bem. Os dias 6 e 8 de agosto de 1945, há exatos 69 anos, com certeza, foram os dias mais tristes da história da humanidade, deixando-a marcada por todo o sempre.  Parafraseando o referido secretário, pode-se dizer que, nesses dois dias, a ética morreu; foi neles que os EUA, para demonstrarem ao mundo o seu poderio militar e econômico e, com isso, tornarem-se os dominadores do mundo, pelo menos do que não participava do campo socialista, detonaram duas bombas atômicas nas cidades japonesas de Hiroshima, ao dia 6, e Nagasaki, ao dia 8, matando, de uma vez e no ato, quase 300 mil pessoas do povo, de forma cruel e totalmente desprovida de humanidade. Isso sem contar as mortes posteriores, decorrentes dos nefastos efeitos químicos de tais bombas.

Registra-se, para que se evitem falsos argumentos impertinentes, que, quando da detonação das realçadas bombas atômicas, o Japão e todo o Eixo já se encontravam irremediavelmente liquidados, em termos militares, desde o mês de maio daquele ano. Tanto isto é verdadeiro que, uma semana após o ato de selvageria americana, o Japão rendeu-se incondicionalmente aos EUA.

Faz-se imperioso ressaltar que, em milhares de guerras que antecederam as citadas detonações, jamais se viu tanta barbaridade e crueldade contra civis.

Esse ato de barbárie nada mais é do que a confirmação da descarada e indecente declaração do Secretário de Estado Norte-americano, Foster Dulles, mais de dez anos após a sua prática, segundo a qual os EUA não possuem amigos, mas apenas interesses.

No entanto, faltou-lhe dizer, que também não possuem sentimento de humanidade. Para os EUA, somente o capital possui valor; o resto, inclusive o ser humano, nenhum.

O genocídio norte-americano em Hiroshima e Nagasaki traz à reflexão de todos quantos ainda não perderam a condição de humanos o brado do poeta grego Poliodoro, lançado a Atenas há mais de 25 séculos, com estas sábias palavras: “Será que estamos mortos e sonhamos viver, ou será que estamos vivos e foi a vida que morreu?”.

Com Hiroshima e Nagasaki, indiscutivelmente, a vida morreu em considerável parcela, pois que esse triste e indescritível ato de selvageria em tempo algum será apagado. Ou, em outras palavras: essa mácula afligirá a todos aqueles que de humanos têm mais do que a mera figura, em todos os tempos e lugares.

No filme traduzido para o português como “Um sonho de liberdade”, o personagem do ator Tim Robbins foi condenado a duas penas de prisão perpétua pelo assassinato de sua esposa. Claro que a segunda pena, impossível de ser cumprida, é simbólica e tem como objetivo demonstrar o repúdio social ao mencionado crime.

Tomando-se por base essa pena, é forçoso concluir que os responsáveis pela detonação da bomba atômica em Hiroshima e Nagasaki deveriam ser condenados a, pelo menos, duas eternidades.

Como homenagem às vítimas da selvageria do capital, representado pelo governo dos EUA, de Harry Truman, nada melhor do que encerrar esta singela lembrança com o inesquecível poema de Vinicius de Moraes, Rosa de Hiroshima:

 “Pensem nas crianças

Mudas telepáticas

Pensem nas meninas

Cegas inexatas

Pensem nas mulheres

Rotas alteradas

Pensem nas feridas

Como rosas cálidas

Mas, oh, não se esqueçam

Da rosa da rosa

Da rosa de Hiroshima

A rosa hereditária

A rosa radioativa

Estúpida e inválida

A rosa com cirrose

A anti-rosa atômica

Sem cor sem perfume

Sem rosa, sem nada.”

*José Geraldo de Santana Oliveira é consultor jurídico da Contee

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