Países condenam ocupação total de Gaza aprovada pelo Gabinete de Segurança de Israel

Turquia, China, Reino Unido, Escócia, Finlândia e a ONU se manifestam; medida promoverá o deslocamento de 1 milhão de palestinos

Reunido na noite desta quinta-feira (07/08), o Gabinete de Segurança de Israel aprovou o plano para ocupar militarmente a Cidade de Gaza, o primeiro passo segundo a mídia israelense para uma estratégia de ocupação total da região. A medida prevê o envio de tropas terrestres para 25% do território que ainda não estão sob controle direto de Israel.

“As Forças de Defesa de Israel (IDF) se prepararão para assumir o controle da Cidade de Gaza, ao mesmo tempo em que fornecem ajuda humanitária à população civil fora das zonas de combate”, diz o comunicado o oficial emitido nesta sexta-feira (08/08) pelo gabinete do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, na plataforma X.

Com a decisão, cerca de 1 milhão de palestinos serão obrigados a deslocarem para áreas de evacuação no sul do enclave. A proposta de ocupação total — e a consequente evacuação forçada até 7 de outubro — gerou duras críticas de países, organismos internacionais e, também, políticos, militares e familiares dos reféns israelenses.

Reações globais

A China foi uma das primeiras potências a condenar o plano, expressando “sérias preocupações” e pedindo que Israel “cesse imediatamente suas ações perigosas”. Em comunicado à AFP, um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês declarou que “Gaza pertence ao povo palestino e é uma parte inseparável do território palestino. O único caminho para aliviar a crise humanitária é por meio de um cessar-fogo imediato e da retomada das negociações.”

A Turquia classificou o plano como “um duro golpe para a paz e a segurança” e exigindo que a comunidade internacional atue imediatamente para impedir a implementação da medida, que “visa deslocar à força os palestinos de suas próprias terras”.

No Reino Unido, destaca The Guardian, o primeiro-ministro Keir Starmer alertou que a medida “trará mais derramamento de sangue”. Ele defendeu um cessar-fogo, ampliação da ajuda humanitária e a libertação de todos os reféns, ressaltando que o Hamas não pode ter papel no futuro de Gaza.

Já o líder liberal-democrata do país, Ed Davey, apontou que os planos de Netanyahu apontam para uma “limpeza étnica” e exigiu que o Reino Unido interrompa imediatamente todas as exportações de armas para Israel e imponha sanções ao premiê israelense.

Na Escócia, o primeiro-ministro John Swinney afirmou que a decisão israelense “é completa e totalmente inaceitável” e apelou para uma mobilização da comunidade internacional a favor de um cessar-fogo.

A ministra das Relações Exteriores da Finlândia, Elina Valtonen, também se declarou “extremamente preocupada” com a fome iminente e reforçou o pedido por uma trégua imediata e pela libertação dos reféns.

Nações Unidas e entidades

O Alto Comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Türk, pediu o fim imediato do plano israelense. “É contrário à decisão do Tribunal Internacional de Justiça, à solução de dois Estados e ao direito dos palestinos à autodeterminação”, afirmou em comunicado.

Türk afirmou que a ocupação total da Faixa de Gaza não apenas é ilegal, como agrava ainda mais o sofrimento da população civil. A ONU e outras entidades de ajuda humanitária vêm sendo impedidas de operar na região, agravando a escassez de alimentos, água potável e medicamentos.

A ActionAid UK qualificou o plano como uma “escalada horrível”. “A decisão viola flagrantemente o direito internacional humanitário. As palavras de condenação já não bastam — é hora de medidas reais, como o fim das exportações de armas e a imposição de sanções ao governo israelense”, declarou a co-diretora executiva da entidade Hannah Bond, aponta o jornal britânico.

Oposição interna

Vozes contrárias à medida também se levantaram dentro de Israel. O chefe do Estado-Maior, tenente-general Eyal Zamir, já havia alertado que a ocupação total da Faixa de Gaza mergulharia o país em um “buraco negro” de insurgência prolongada, encargos humanitários e riscos ampliados para os cerca de 20 reféns israelenses ainda vivos em poder do Hamas. Para Zamir, a proposta comprometerá os esforços de resgate e empurrará Israel para um impasse militar e moral, informa a Al Jazeera.

O ex-vice-chefe das Forças Armadas Yair Golan, atual líder do partido Democratas, afirmou que a decisão “é um desastre para gerações. Nossos filhos e netos ainda estarão patrulhando os becos de Gaza, e tudo isso por sobrevivência política e visões messiânicas”, declarou à Rádio do Exército. Golan afirmou que Netanyahu é “fraco, facilmente pressionado e incapaz de tomar decisões que conciliem os alertas do nível profissional com as obsessões ideológicas de seu governo”.

O líder da oposição, Yair Lapid, por sua vez, chamou o plano de “desastre que levará a muitos outros desastres”, incluindo a morte dos reféns e de soldados, além de causar “falência diplomática” e custos bilionários para a sociedade israelense.

O Fórum de Reféns e Famílias Desaparecidas acusou o governo Netanyahu de “condenar à morte” os reféns vivos em Gaza. “O governo abandonou os reféns e agiu contra o interesse nacional com uma negligência moral e de segurança imperdoável”, diz a nota divulgada pelo grupo, em apelo para que a decisão seja revertida.

Nesta quinta-feira (07/08), dezenas de familiares protestaram em frente ao local da reunião do gabinete de segurança, em Jerusalém, enquanto manifestações de rua acontecem em várias cidades do país.

Mais de 60 mil palestinos morreram e 90% da população foi deslocada de suas residências ao menos uma vez desde o início dos ataques de Israel. Grande parte da infraestrutura de saúde está destruída e a ajuda humanitária em quantidade necessária para suprir a fome que se alastra na região permanece bloqueada.

Do Opera Mundi

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