Palestina resiste: por que o 29 de novembro importa
Celebrado em 29 de novembro desde 1977, por determinação da Organização das Nações Unidas, o Dia Internacional de Solidariedade ao Povo Palestino marca a aprovação, pela Assembleia Geral da ONU, da Resolução 181, de 1947, que estabeleceu a divisão da Palestina do Mandato Britânico em dois Estados, um árabe e outro judeu. A data reforça o direito à autodeterminação e busca manter visível a situação de um povo cuja história é marcada por deslocamentos, violência e negação de direitos.
Em 2025, a data ganhou maior relevância diante da crise humanitária provocada pela ofensiva em Gaza, cuja fase atual começou em outubro de 2023 e que é amplamente denunciada, no Brasil e no mundo, como um genocídio contra o povo palestino. Desde então, autoridades de saúde palestinas, citadas por organismos internacionais, estimam quase 70 mil mortos e cerca de 170 mil feridos no território. Na Cisjordânia, o OCHA registrou 994 palestinos mortos, entre eles 218 crianças, no mesmo período. Somam-se a esses números o deslocamento forçado de mais de 90 por cento da população de Gaza, aproximadamente 2,1 milhões de pessoas, submetidas à escassez extrema de água potável, alimentos, medicamentos e serviços básicos.
Relatórios humanitários apontam que a destruição atinge níveis sem precedentes. Milhares de edificações, entre elas hospitais, escolas, igrejas e universidades, foram danificadas ou destruídas. Organizações como a Anera, que atuam diretamente em Gaza e na Cisjordânia, relatam que a sobrevivência diária depende da assistência emergencial, com o envio de água, alimentos, roupas e cuidados médicos, mesmo sob condições de extremo risco.
A ajuda internacional tem buscado alternativas para chegar à população, por meio de comboios terrestres, operações aéreas e flotilhas civis de solidariedade que, em diversas ocasiões, foram interceptadas ou atacadas, com tripulantes detidos ou levados sob custódia em ações amplamente denunciadas como sequestros, evidenciando as dificuldades impostas ao acesso humanitário.
Apesar de negociações internacionais, o cessar-fogo vigente desde outubro de 2025 é considerado frágil. Relatos mencionam novos bombardeios, bloqueios à entrada de ajuda humanitária e retomada de operações militares. No cenário diplomático, pronunciamentos reforçaram a necessidade de uma resposta global consistente. Em mensagem enviada à ONU, o presidente da China defendeu um cessar-fogo permanente, a reconstrução de Gaza sob o princípio de palestinos governando a Palestina e o avanço concreto da solução de dois Estados, afirmando que a questão palestina testa a capacidade das instituições internacionais de promover justiça e estabilidade.
No Brasil, a gravidade da situação em Gaza motivou universidades, sindicatos e movimentos sociais a fortalecer iniciativas de solidariedade ao povo palestino, que ganharam maior visibilidade por ocasião do Dia Internacional de Solidariedade. Nesse contexto, mobilizações de setores acadêmicos, sindicais e sociais impulsionaram ações concretas, como a decisão de instituições como Unicamp, UFF e UFC de rescindir convênios com universidades israelenses vinculadas à indústria bélica. A UFSM também criou vagas exclusivas para refugiados palestinos, com oferta de moradia, bolsa, apoio jurídico e assistência estudantil. Essas medidas refletem o compromisso desses setores com a defesa dos direitos humanos e com políticas de acolhimento diante da crise humanitária.
Diante do cenário extremo vivido em Gaza, a solidariedade internacional, fundada em compromisso ético e humanitário, é indispensável para que os direitos do povo palestino sejam reconhecidos e protegidos. O Dia Internacional de Solidariedade amplia a mobilização global, mas a defesa da autodeterminação e das garantias previstas pelo Direito Internacional exige ação permanente. É uma responsabilidade que atravessa fronteiras e insta trabalhadoras, trabalhadores, movimentos sociais e instituições democráticas a se posicionarem. A solidariedade com a Palestina é um compromisso político que não admite omissão.
Por Antônia Rangel





