Para Luiz Gonzaga Belluzzo, visão dos militares que estão no poder é “antiquada”

É um argumento bastante comum dos defensores do militarismo o chamado “milagre econômico”, produzido durante o período da ditadura militar no Brasil. Tomando a taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) como referência, a curva ascendente é expressiva, passando de 0,6% em 1963 para 14% em 1973. Mas os números e porcentagens não contam a história por completo.

O economista Luiz Gonzaga Belluzzo lembra que o crescimento do PIB brasileiro inseriu-se no contexto de uma economia internacional em ascensão e respondia a uma lógica de fortalecimento da indústria nacional – inaugurada ainda nos anos 1930, por Getúlio Vargas: “Essa estrutura veio lá do Getúlio [Vargas], depois passando pelo Juscelino [Kubitschek] e foi continuada pelos militares. Não houve uma ruptura”.

Belluzzo explica que, embora aquele período tenha se caracterizado pelo intenso investimento estrangeiro no Brasil, ele estava direcionado à estruturação da indústria brasileira, possibilitando, inclusive, a transferência de tecnologia para setores estratégicos da economia.

“O Juscelino abriu isso de uma maneira muito produtiva. Entraram muitas empresas estrangeiras, sobretudo do setor automobilístico. Esse investimento era feito em novas fábricas. O que está acontecendo agora é investimento direto estrangeiro em ativos já existentes. E aí está incluída a privatização. Mudou porque mudou a lógica de funcionamento do capitalismo durante esses anos. Todo o investimento das empresas estrangeiras atuais é para comprar empresas já existentes, o que dá no fenômeno da desnacionalização”.

Segundo o economista, a visão ideologizada da equipe econômica de Jair Bolsonaro (PSL) é “antiquada” e “não corresponde à dinâmica do capitalismo atual”. Sobre a não-intervenção do Estado na economia, premissa do pensamento neoliberal, Belluzzo acredita que terá consequências graves em pouco tempo.

“É uma coisa obsoleta isso. Só vai agravar a situação porque está completamente fora do que é necessário para que a economia brasileira avance em relação ao resto do mundo. Então é uma loucura. Pode dar algum fôlego num curto prazo porque há um papel importante do inter-relacionamento dos mercados financeiros, a bolsa brasileira tem muita relação com as bolsas internacionais. Mas, no médio prazo, isso vai mostrar sua inefetividade. Não dá certo. Não tem nada a ver com a lógica do capitalismo de hoje. Nós vamos virar um país exportador de commodities”, lamenta.

Militares na equipe econômica

Dos cinco ministérios que compõem a equipe econômica do governo, quatro estão sob comando dos militares, o que significa a maior representatividade verde-oliva na administração pública federal desde a ditadura.

No ministério de Infraestrutura, está o ex-capitão Tarcísio Gomes de Freitas; Minas e Energia, o almirante Bento Costa Lima Leite; Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, o astronauta e tenente-coronel da reserva da Força Aérea, Marcos Pontes; e na Secretaria de Governo, responsável também pelo Programa de Parcerias de Investimentos, está o general Carlos Alberto dos Santos Cruz.

Além deles, o presidente Jair Bolsonaro indicou para a presidência do Conselho de Administração da Petrobras, o almirante Eduardo Bacellar Leal Ferreira. Outras estatais podem ter militares indicados para cargos de chefia, como a Telebras, a Eletrobras e a Caixa Econômica Federal.

Brasil de Fato

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