Pochmann: No Brasil, a pandemia saiu mais cara

Crise sanitária custou 60% do PIB brasileiro. Cálculo considera mortes, sequelados, regressão produtiva, desemprego e rombo nas contas públicas. Impacto poderia ter sido mitigado, mas governo escolheu o sórdido caminho negacionista

Marcio Pochmann*

No ano de 2020, a pandemia da Covid-19 impactou profunda e negativamente a economia brasileira. A partir de pesquisa realizada com o objetivo de estimar o custo econômico nacional da pandemia do coronavírus no Brasil, chegou-se ao resultado de R$ 4,4 trilhões, o que equivaleu a quase 60% do Produto Interno Bruto do ano passado.

Ao se considerar o conjunto dos domicílios do país (72,4 milhões), constata-se o valor monetário de 61,1 mil reais de custo econômico para cada moradia no ano de 2020. Se repartir o mesmo custo econômico nacional pelo número de habitantes (211,8 milhões), o valor per capita atinge a quantia individual de R$ 20,9 mil.

O resultado do custo econômico nacional decorre da composição de duas partes distintas principais.

A primeira, referente à atividade produtiva, alcançou o prejuízo estimado em R$ 2,7 trilhões, o que representa 60% do valor total estimado para o custo econômico nacional.

A atividade produtiva se encontra constituída pelos seguintes itens observados: a capacidade de produção, que considera o fechamento das unidades produtivas; o nível de produção, que trata do declínio do valor agregado; a situação da ocupação e renda, que contabiliza o adicional do desemprego e da subutilização dos trabalhadores; e as contas públicas, vinculadas ao acréscimo do déficit nominal por decorrência da pandemia.

A segunda parte da composição do valor monetário do custo econômico nacional responde pela atividade humana, que contabiliza R$1,7 trilhão ou 40% do valor total, sendo constituída por dois itens: a perda humana plena, representada pelo conjunto de mortes prematuramente ceifadas pela Covid-19 e a perda humana parcial, decorrente dos efeitos da contaminação e sequelas direta e indiretamente conferidas pela situação geral do próprio contexto da pandemia no Brasil.

Diante disso, percebe-se o quanto a pandemia da Covid-19 iniciada em 2020 assume uma grandiosidade perversa para a sociedade e a economia nacional. A estimativa do seu impacto no Brasil deveria servir, pelo menos, de conscientização a respeito da leviandade com que as autoridades do país, especialmente as do poder executivo, “enfrentaram” a maior crise sanitária e seus efeitos econômicos de todo o período republicano.

*Marcio Pochmann, é economista, pesquisador e político brasileiro. Professor titular da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Foi presidente da Fundação Perseu Abramo de 2012 a 2020, presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, entre 2007 e 2012, e secretário municipal de São Paulo de 2001 a 2004. Concorreu duas vezes a prefeitura de Campinas-SP (2012 e 2016). Publicou dezenas de livros sobre Economia, sendo agraciado três vezes com o Prêmio Jabuti.

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