Por que o MEC quer excluir a biografia de Weintraub no Wikipedia?
O Ministério da Educação encaminhou no dia 27 de junho um pedido à plataforma Wikipedia para que exclua o verbete sobre o ministro Abraham Weintraub. A justificativa é que a página pode conter informações “não confirmadas” que podem levar a “interpretações dúbias”.
O MEC também colocou que o pedido se deve ao fato do conteúdo não poder ser editado pela pasta, o que torna a pessoa física/jurídica incapacitada de declarar ampla defesa e o contraditório.
Para o Estadão, responsável pela apuração, o MEC confirmou ter pedido a remoção do artigo via e-mail, mas não comentou a solicitação nem esclareceu quais trechos do artigo sobre Weintraub motivaram o contato. A solicitação do ministério foi feita por um mecanismo automático da plataforma, no qual é possível enviar um e-mail ao usuário responsável pela última edição.
O verbete sobre Weintraub na Wikipedia foi criado em 8 de abril, pouco mais de três horas depois de o presidente Jair Bolsonaro anunciar pelo Twitter que ele sucederia Ricardo Vélez Rodriguez no comando do ministério. O post dedica trechos à sua biografia e vida pessoal e também às ações enquanto gestor do MEC.
Com relação à vida pessoal, o texto fala sobre o pai do ministro, o psiquiatra Mauro Weintraub, que foi professor da Universidade de São Paulo (USP) e, nos anos 80, escreveu um livro sobre cannabis, defendendo a dissociação da relação entre uso e criminalização, algo extremamente progressista para a época. “O próprio Abraham já chegou a afirmar que o pai sofreu perseguição na época da ditadura por defender alunos que desapareciam durante o regime. Diferentemente do pai, Abraham e o irmão possuem uma postura mais conservadora; ambos fazem parte do Governo Bolsonaro”, traz o post do Wikipedia.
Em outra passagem, a publicação coloca que em 2011, Abraham e o irmão Arthur abriram um processo na Justiça de São Paulo tentando interditar o pai, Mauro Weintraub. O pedido tentava provar judicialmente que ele era incapaz de zelar por sua saúde e finanças sozinho e que carecia de tutela. “O pedido foi julgado e indeferido pelo juiz Rui Porto Dias, que alegou não haver elementos suficientes que justificassem a interdição de Mauro Weintraub. Os irmãos recorreram da sentença e o Tribunal de Justiça negou a apelação em março de 2016”, traz outro trecho do texto.
Já nas ações frente ao MEC, o post aborda o contingenciamento orçamentário praticado nas universidades e institutos federais e algumas atitudes do ministro, como o vídeo publicado no Twitter em que, ao som de “Singing in the Rain”, alega que o MEC é vítima de fake news, seu posicionamento sobre os protestos estudantis contrários ao governo, e o estímulo, também dado por Weintraub, de que professores e alunos que incentivassem os protestos fossem denunciados.
O pedido do MEC gerou discussão entre editores da plataforma de conteúdo colaborativa. O post, no entanto, continua no ar, mas segue restrito para evitar que usuários sem boa reputação na plataforma possam editar o texto.