Presidente da Liga que ignorou racismo contra Vini Jr. integrou partido fascista da Espanha

O posicionamento vergonhoso do presidente da Liga Espanhola, Javier Tebas, em relação aos casos de racismo ocorridos no Campeonato Espanhol não chega a ser surpreendente quando se descobre a participação de Tebas no antigo partido fascista Fuerza Nueva, além de suas recentes declarações de apoio ao partido Vox, defensor de discurso xenófobo.

Segundo o jornal espanhol El Plural, o presidente da Liga Espanhola de Futebol foi chefe provincial das juventudes ultradireitistas Fuerza Joven na cidade de Huesca no final da década de 70 e, anos depois, representante da sigla nos meios de comunicação.

Fundado por Blas Piñar López (1918-2014) em 1976 após a morte do ditador espanhol Francisco Franco e o início da transição de poder na Espanha, a intenção do Fuerza Nueva era clara: defender a continuidade dos princípios franquistas.

O Fuerza Nueva, na verdade, teve sua semente plantada por Piñar López em 1966, por meio da Fuerza Nueva Editorial, uma empresa e editora fundada também em 1966 e que publica a revista de mesmo nome desde 1967.

Como partido político, a sigla adotou um modelo de fascismo espanhol monárquico-autoritário, carlista e tradicional-católico, inspirado na monarquia absoluta próxima aos ideais iniciais de Francisco Franco Bahamonde.

Ao longo do período de transição política, o Fuerza Nueva apoiou ou interveio em diversos ataques realizados pela extrema-direita espanhola contra grevistas, políticos ligados à esquerda, sindicalistas, redações de jornal e, até mesmo, contra manifestações de bairro ou estudantis.

Um dos grupos de extrema-direita envolvidos em tais ataques se denominava Guerrilha de Cristo Rey que abrigava diversos integrantes do Fuerza Nueva.

A dissolução do Fuerza Nueva como partido político ocorreu em novembro de 1982 e suas ideias posteriormente foram absorvidas pela chamada Frente Nacional (1986-1993) e, atualmente, pelo partido de ultradireita Vox.

Contudo, o Fuerza Nueva segue ativo ao realizar eventos sociais e comemorativos em datas como 18 de julho (comemoração do Golpe de Estado perpetrado pelos militares) e 20 de novembro (falecimento de José Antonio Primo de Rivera, fundador da Falange Espanhola, e do ditador Francisco Franco), além de manter a publicação de sua revista e de livros de temática religiosa, política e histórica.

TOLERÂNCIA COM NEONAZISTAS

Em 2017, ele saiu em defesa de um jogador do Rayo Vallecano que foi chamado de “nazista” por torcedores. Zozulya foi acusado de nazista pela bancada do Rayo Valecano. O atleta ucraniano, atualmente com 33 anos, é ligado a movimentos de ultradireita da Ucrânia integrado por neonazistas.

As torcidas organizadas do Rayo, conhecidas historicamente pela orientação política de esquerda, ficaram insatisfeitas com a chegada do ucraniano pelo seu hábito de aparecer em fotos usando uniformes e até armas, bem como a associação com grupos paramilitares de extrema-direita da Ucrânia.

Tebas saiu em defesa de Zozulya. O dirigente pediu “tolerância e respeito” por parte da torcida do Rayo e disse que poderá ingressar com queixa criminal contra os torcedores, caso tenha evidências de “clara coação” no imbróglio envolvendo o jogador.

“Se o presidente do Rayo ou o jogador me disserem que se sentiram ameaçados, entrarei com queixa criminal por coação. É inadmissível que tenhamos esse problema na Espanha. Não se pode rotular uma pessoa por sua ideologia. A tolerância de um país se demonstra sendo tolerante”, disse Tebas ao jornal Sport.

DESRESPEITO COM VÍTIMA

No último domingo, Tebas respondeu Vini Jr. sobre as denúncias de racismo das quais o atacante brasileiro foi alvo no jogo do Campeonato Espanhol.

De forma ríspida, respondeu em suas redes sociais. “Já aqueles que não deveriam explicar para você o que é e o que pode fazer LaLiga em casos de racismo, tentamos explicar para você, mas você não apareceu em nenhuma das duas datas combinadas que você mesmo solicitou. Antes de criticar e insultar a LaLiga, é preciso que você se informe bem, Vini Jr. Não se deixe manipular e certifique-se de compreender plenamente as competências de cada um e o trabalho que temos feito juntos”, afirmou Tebas.

O mandatário ainda afirmou que nem a Espanha nem a competição são racistas e que era injusto dizer isso. Após os ataques ao jogador, no mínimo, em 8 ocasiões ao longo da temporada, Tebas também disse que os casos de racismo são “extremamente raros”.

No entanto, Vini respondeu à altura. “Mais uma vez, em vez de criticar racistas, o presidente da LaLiga aparece nas redes sociais para me atacar. Por mais que você fale e finja não ler, a imagem do seu campeonato está abalada. Veja as respostas dos seus posts e tenha uma surpresa… Omitir-se só faz com que você se iguale a racistas. Não sou seu amigo para conversar sobre racismo. Quero ações e punições. Hashtag não me comove”.

Hora do Povo

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