Prevenção do suicídio no cenário escolar: uma chamada para a saúde mental
A Contee clama por condições dignas de trabalho para preservar a saúde mental e evitar o suicídio dos profissionais da educação. Setembre-se na onda amarela!
Este 10 de setembro marca o Dia Mundial da Prevenção do Suicídio. A data foi criada em 2003 pela Organização Mundial de Saúde como forma de motivar a sociedade a falar do tema e combater o estigma. A ação faz parte do Setembro Amarelo, campanha mundial de promoção da saúde mental e prevenção do suicídio.
Segundo a OMS pelo menos 726 mil pessoas tiram a própria vida a cada ano. A cada 40 segundos, uma pessoa morre por suicídio no mundo. Um dos fatores que acarretam essa realidade é a jornada excessiva. A Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino (Contee) clama por políticas públicas para viabilizar condições dignas de trabalho aos profissionais da educação.
Com o crescimento desenfreado da Educação à Distância (EaD), acentuou-se a precarização do trabalho no ambiente escolar. O ensalamento, em que o educador chega a ministrar aula para mais de 500 alunos numa sala virtual, vem se tornando rotina. Além disso, o professor ainda tem que cumprir uma série de atividades de secretaria, alimentando sistemas, elaborando relatórios, entre outras atribuições.
As mazelas não param por aí. O direito à desconexão tem sido violado com frequência. O tempo de descanso é desrespeitado constantemente. A classe trabalhadora passou a ser bombardeada por notificações até na madrugada. Com a chegada das ferramentas tecnológicas os momentos de sossego se encontram escassos, afetando a saúde mental dos profissionais.
De acordo com levantamento do Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Santa Catarina (Sinte-SC), 65,7% dos trabalhadores da Educação no estado já tiveram problemas de saúde mental. Entre os entrevistados, mais que um em cada quatro, ou 27,6%, já teve pensamentos suicidas.
Já a pesquisa, “Exploração e sofrimento mental de professores: um estudo na rede estadual de ensino do Paraná”, publicada em 2018 na revista científica “Trabalho, Educação e Saúde”, da Fundação Oswaldo Cruz revelou que 75,27% dos(as) docentes participantes apresentaram transtornos psíquicos relacionados à carga de trabalho e ao número de alunos por turma.
As obrigações se multiplicam, mas os salários seguem baixos, dando mal para atender as necessidades básicas da família. Os trabalhadores e trabalhadores da educação e dos diversos segmentos estão cada vez mais sobrecarregados e sem tempo para cuidarem de si. Só aumenta o número de profissionais que sofrem com a síndrome de Burnout, desencadeada em razão de estresse crônico no local de trabalho. Muitos chegam ao ponto de desistirem de viver.
A contee, inclusive, está com a Campanha Educação Transforma, Regulamentação Protege, no intuito de regular minimamente a EaD no Brasil e mitigar esse quadro crítico, insustentável e de intensa exploração.
É muito preocupante a sociedade que está se desenhando, descontruindo de maneira feroz o paradigma da Filosofia dos Três oitos, que divide o dia em três partes: oito horas para o trabalho, oito horas para dormir e oito hora para o lazer. Não podemos permitir o desmonte do ‘direito à preguiça’ para se celebrar o ócio, defendido pelo escritor Paul Lafargue. Propaga-se a ideia do trabalhe quando quiser, quando na verdade se trabalha o tempo todo. Os intervalos são quase inexistentes.
A lei da sobrevivência tem cobrado alto. O capitalismo dizima os mais vulneráveis. É gritante a desvalorização crescente da classe trabalhadora, gerando muitas angústias e o sentimento de desesperança. As pessoas estão sufocadas, esgotadas mentalmente e fisicamente, expostas 24h às telas, sendo engolidas pela uberização e pejotização; ou seja, trabalhando por longas horas desprovidas de direitos, vendendo o tempo para os outros demasiadamente e sem condições de comprá-lo para o seu próprio usufruto e sanidade mental.
Diante desse contexto opressor, que consome todas as energias da classe trabalhadora, lamentavelmente, o suicídio se apresenta como um grito de liberdade para os mais infelizes, corroídos por doenças psíquicas, e que se veem sem forças para lutar. Não podemos aceitar esse caos. Não podemos admitir que essa situação extrema seja uma alternativa em nosso meio.
É preciso promover a saúde mental e destacar a importância de estratégias eficazes de prevenção para acalmar esse mundo frenético. A saúde mental deve ser uma prioridade absoluta e o foco no suicídio como uma questão de saúde pública não pode ser negligenciado.
É premente falar e tratar das causas que levam ao suicídio. É premente implementar mais políticas públicas para evitar esse desfecho cruel. É GARANTINDO A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA QUE SE PRESERVA A VIDA.
SETEMBRE-SE NA ONDA AMARELA!
Por Romênia Mariani