Professora da PUC sofre processo por manifestação contra reitora

A vice-presidenta da Associação dos Professores da PUC São Paulo (Apropuc), Maria Beatriz Costa Abramides, terá de comparecer amanhã (27) a audiência de comissão aberta contra ela por ter apoiado estudantes em manifestações contra a escolha da docente Anna Maria Marques Cintra como reitora.

Segundo o processo, Beatriz Abramides é acusada de “desrespeito a pessoas envolvidas no ambiente universitário”, “falta de acatamento a disposições legais”, “desrespeito a superiores hierárquicos e colegiados da universidade” e “contribuir para atos de indisciplina dos estudantes”. As acusações estão apoiadas nos artigos 322 e 325 do regimento interno da PUC. O processo inclui também acusação de “incontinência de conduta”, referente ao artigo 482 da Consolidação das Leis de Trabalho (CLT), que rege as condições de rescisão de contrato por justa causa.

A professora está sendo processada por sua participação em uma manifestação, organizada por estudantes, que impediu a realização da reunião do Conselho Universitário (Consun). Segundo o texto do processo, a comissão deve apurar “atos supostamente por ela praticados no dia 27/02/2013, consubstanciados na obstaculização da reunião do Conselho […] isto porque os Conselheiros do Colegiado foram impedidos de  tomar seus assentos, visto que esses foram ocupados por estudantes ainda não identificados e pela professora Beatriz Abramides.”

Segundo Beatriz Abramides, que também é docente do Departamento de Serviço Social da PUC, ela foi convidada pelos estudantes a dar uma aula pública no dia da manifestação do dia 27. “A reitoria pinçou trechos da minha fala no ato e anexou no processo. É uma perseguição de cunho político.”

“A Apropuc fez uma assembleia no dia anterior à manifestação e decidiu apoiar os estudantes. A Beatriz foi à manifestação como representante da entidade”, diz Priscilla Cornalbas, professora e diretora da associação.

Histórico

Na escolha para reitor da PUC-SP, votam estudantes, funcionários e professores. Uma lista tríplice é encaminhada ao grão-chanceler da universidade, que tem a prerrogativa de escolher um dos candidatos. As manifestações começaram em novembro do ano passado, após o grão-chanceler Dom Odilo Scherer nomear Maria Anna Marques Cintra, que ficou em terceiro lugar na votação, como reitora da universidade.

A escolha de Anna Cintra provocou protestos da comunidade acadêmica, pois rompe a tradição democrática da universidade de selecionar o primeiro colocado da lista tríplice. Na eleição para reitor, realizada em agosto do ano passado, o docente e jurista Dirceu de Mello ficou em primeiro lugar.

Para Priscilla Cornalbas, o processo aberto se trata de uma medida punitiva: “A reitoria quer expulsá-la do corpo docente e tirar uma liderança da Apropuc. Os artigos do regimento interno por si só não conduzem à demissão por justa causa, por isso eles incluíram o artigo da CLT no processo.”

Ela diz que o episódio faz parte de um “processo obscurantista do conservadorismo” que ocorre na sociedade e na PUC. “Na época da ditadura, o que acontecia era a criminalização. Hoje, sob o nome de Estado de direito, há uma judicialização das lideranças na forma de processos administrativos, seja na PUC ou em movimentos sociais.”

Os estudantes convocaram uma manifestação de apoio à docente amanhã (27), a partir das 11h30, no campus Perdizes. A Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS) e o Conselho Federal de Serviço Social (CFSS) emitiram nota de repúdio ao processo contra Beatriz Abramides. Na Internet, há um abaixo-assinado de apoio à docente com 1.389 adesões.

A audiência da comissão ocorre amanhã (27), a partir das 13h. De acordo com a Apropuc, a composição da comissão foi sugerida pela reitoria e tem como integrantes os docentes Antônio Márcio da Cunha Guimarães (Direito), Carlos Eduardo Ferreira de Carvalho (Economia) e Sandra Mara Ribeiro Muradi (Direito).

Desde sexta (22), a reportagem entrou em contato com a reitoria, que não quis se manifestar sobre o assunto.

Por Alessandra Goes Alves, da Rede Brasil Atual

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