Professora do Rio Grande do Sul promove atividade de combate ao racismo com alunos do ensino fundamental
Um estímulo à construção do senso crítico dos estudantes. Esse foi o trabalho desenvolvido pela professora de história, Vitória Nicolini Nunes, 31, no projeto “O Brasil que Jean-Baptiste Debret Viu X o Brasil que Nós Vemos”. Em uma análise sobre o legado da escravidão no país, a iniciativa da educadora tem movimentado seus alunos para uma nova percepção da sociedade em que vivem. Os bons resultados alcançados levaram o projeto a vencer o concurso “Juventude que Muda a Educação Pública”, da CNTE, pela região Sul.
Há quase cinco anos, a professora de história leciona na Escola Estadual de Ensino Fundamental Rodolfo von Ihering, em Taquara, Rio Grande do Sul. Mas em setembro de 2023, decidiu apostar em um experimento que aprofundasse melhor as questões voltadas para o combate ao racismo e a valorização da cultura afrodescendente, com alunos do oitavo ano.
“O objetivo do meu projeto era desenvolver uma visão crítica sobre a escravidão no Brasil e, principalmente, sobre o seu legado”, afirma a educadora.
No desenvolvimento da atividade, os alunos realizaram uma análise das pinturas do artista Jean-Baptiste Debret, feita no período em que este viveu no Brasil, e que retratavam o cotidiano do país no período colonial. Algumas das pinturas utilizadas mostram, em específico, o cenário de escravidão, como os “Vendedores ambulantes”, “Tropeiros pobres de São Paulo”, “Família brasileira no Rio de Janeiro”, “Senhora comum em meio aos seus afazeres diários”, entre outras.
Para isso, ela estimulou os estudantes a utilizar variadas fontes de pesquisa em suas análises, a fim de fomentar a discussão crítica e a identificação de preconceitos, estereótipos e violências que ainda são sofridos pela população negra.
“Cada um dos grupos formados pelos estudantes escolheu uma pintura, e a tarefa era fazer uma releitura da mesma utilizando recursos digitais. Meu objetivo era que eles percebessem que, mesmo 200 anos depois, muitas situações permaneciam, como a grande quantidade de pessoas negras exercendo trabalhos domésticos, por exemplo. Ou seja, o Brasil visto por Debret não era tão diferente do Brasil atual”, relata.
Resultados e reconhecimento
Os frutos positivos colhidos pelo projeto foi o que incentivou a professora a participar do concurso. Representando a região Sul, o projeto foi um dos vencedores do concurso “Juventude que Muda a Educação Pública”, promovido pelo Coletivo de Juventude da CNTE e de suas entidades filiadas.
Segundo ela conta no relatório, a atividade proporcionou momentos valiosos de reflexão em sala de aula, ao exercitar o combate ao racismo ainda enraizado na sociedade, e que muitas vezes é reproduzido por pessoas que não possuem consciência do peso de suas falas e comportamento.
“É possível dizer que uma semente no combate ao racismo foi plantada dentro do espaço escolar que conta com várias crianças negras como sujeitos e participantes do processo de construção do conhecimento. A valorização da história, herança e cultura negra é um dever de todos que prezam por uma sociedade mais justa e igualitária.
Junto a outros quatro projetos vencedores do concurso, a iniciativa será apresentada na Conae 2024, que acontecerá em Brasília nos dias 28, 29 e 30 de janeiro.
O coordenador do Coletivo, Luiz Felipe Krehan, afirmou acreditar “que muitos jovens trabalhadores na educação sabem que os projetos educacionais/sociais que estão envolvidos são formas de fortalecer a educação pública e de qualidade.” Segundo ele, o concurso é uma forma de dizer que a CNTE e seus sindicatos filiados estão na luta com esses educadores.
Bruno Vital, que também coordena o Coletivo com Luiz, reforçou que o concurso joga luz sobre como a juventude está mudando suas realidades por meio da educação.
“Tive a vontade de divulgar um projeto cujo resultado prático foi extremamente satisfatório (…) foi muito gratificante, fiquei muito feliz!”, declara a professora, quando soube que foi um dos destaques.