Professores em SP se unem contra retorno presencial das aulas sem estrutura e vacina
Em diversas regiões do país, trabalhadores das redes municipais e estaduais de educação também denunciam aumento de casos de Covid-19 na comunidade escolar e cobram segurança para retorno presencial
Os professores e as professoras da rede estadual de ensino em São Paulo, que estão com as atividades presenciais paralisadas há 3 dias em defesa da vida e contra o retorno das aulas presenciais na pandemia, ganharam um reforço dos companheiros e companheiras da rede municipal, que entraram em greve nesta quarta-feira (10).
Em todo o país, os professores lutam por segurança e condições adequadas de trabalho durante a pandemia do novo coronavírus (Covid-19), com vacina para a comunidade escolar antes da reabertura das escolas. No Rio Grande do Norte e na Paraíba, várias prefeituras voltaram atrás depois da pressão dos professores. No Piauí, a categoria também está em greve.
A orientação é não voltar para as aulas presenciais antes da imunização e a categoria tem resistido em diversos municípios, afirma a presidenta da Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal (Confetam), Vilani Oliveira.
Esse é o caso de São Paulo, onde a paralisação é contra o retorno presencial das aulas sem estrutura e sem vacina. A categoria reivindica condições seguras para a volta às aulas presenciais e a mantém o ensino remoto enquanto não houver efetivo controle da pandemia.
Os professores da rede pública de SP também querem mais empenho dos governos para ampliação da produção e aplicação das vacinas contra o novo coronavírus e reestruturação das escolas para as necessidades de segurança sanitária em meio à pandemia. A retomada das aulas presenciais na capital paulista está marcada para dia 15 e a estadual começou na segunda-feira (8).
Para o secretário de Comunicação do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), Roberto Guido, a união das duas redes com a mesma bandeira pela vida é muito importante para combater os governos irresponsáveis do PSDB no estado, o governador João Dória, e no município, o prefeito Bruno Covas, que acabam atuando do mesmo jeito que o presidente Jair Bolsonaro (ex-PSL), de forma genocida.
Já o presidente do Sindicato dos Profissionais de Educação no Ensino Municipal (Sinpeem), Claudio Fonseca, destacou em entrevista à Rede Brasil Atual que muitas escolas ainda não tiveram as reformas concluídas e o número de profissionais de apoio é insuficiente para realizar o trabalho em meio à pandemia. Além disso, apesar de anunciada pelo governo do prefeito, a estrutura de apoio ao ensino também não foi concluída.
“A secretaria assegurou que entregaria tablets para todos os estudantes e professores. Não entregou. Também disse que os equipamentos das chamadas salas digitais estariam todos instalados. Não estão. Isso impede a realização do ensino presencial em alguns dias e remoto, nos outros. Houve redução dos profissionais de limpeza, num momento em que precisamos justamente garantir a ampliação e um contínuo processo de higienização nas escolas. Faltam também profissionais técnicos de educação, que o governo se comprometeu a contratar, mas ainda não concluiu o processo”, explicou Fonseca.
Greve expressiva no Estado
O dirigente sindical na Apeoesp, Roberto Guido disse que a greve dos professores e professoras de São Paulo teve de 15 a 20% de adesão, mas também ressaltou a diferença desta paralisação com uma grande parcela da categoria em casa com aulas remotas emergenciais, como a categoria chama o formato as aulas que estão sendo defendidas para este momento de pandemia.
Porém, segundo ele, é uma greve expressiva porque o governo já voltou atrás e flexibilizou a presença dos alunos nas escolas, mas isso ainda não é o que a categoria quer de fato para combater a proliferação da Covid-19 nas escolas.
“Para nós tem sido um grande desafio construir esta greve no meio de uma pandemia e trabalho remoto, mas neste processo a gente tem percebido que a sociedade e a categoria estão com a gente porque estão entendendo a nossa luta. O nosso diálogo é claro, não podemos permitir que os governos e a justiça não considerem laudos de especialistas que confirmam que não estamos preparados para o retorno presencial. A greve tem cumprido com seu papel”, ressaltou Guido.
A Apeoesp tem mantido carros de som por todo o Estado, campanha de esclarecimento nas redes sociais, rádios e TV, carreata, manifestações regionais. Além disso, representantes da Apeoesp têm ido às câmaras municipais, conversaremos com prefeitos e realizaremos encontro com professores, pais, mães, estudantes e funcionários, entre outras ações.
Retorno aulas é um fiasco
Segundo levantamento realizado pela Apeoesp, apenas 5% dos alunos da rede pública estadual de SP retornaram às aulas presenciais. Para a presidenta do sindicato e deputada estadual pelo PT de São Paulo, Professora Bebel, isso indica uma forte adesão das famílias à greve sanitária decretada pelos professores.
A presidenta do sindicato ainda destaca o forte apoio que a categoria vem recebendo nas redes sociais. “Nosso monitoramento mostra que mais de 40% dos usuários se manifestaram em defesa dos professores, relatando as condições precárias de diversas unidades escolares e, muitas vezes, com o mote ´prefiro que meu filho perca um ano de escola do que a vida´”.
A categoria não vê a hora do retorno presencial porque de forma remota os professores e as professoras têm trabalhado muito mais, afirma Guido. De acordo com o dirigente, o que os professores resistirem e lutarem para manter as aulas remotas é a luta contra a Covid-19 e a certeza de que não há condições para o retorno presencial neste momento.
“A gente tem visitado escolas na periferia e no centro e o que estamos vendo fortalece nossa decisão. Tem diversas escolas sem água, sem luz e sem funcionários para dar conta das medidas de segurança, porque mesmo só com 35% da capacidade a escola é um espaço de aglomeração e a gente já está vendo que isso não dá certo. Só a Apeoesp, de maneira pontual, já contabilizou mais de 200 escolas com casos de infecção e que tiveram que ser fechadas. Não estamos preparados para ir para às escolas”, disse Guido.
Escolas municipais também não estão preparadas
A situação não é muito diferente nas escolas municipais, não só de São Paulo, mas em diversas regiões do país. Os pais de Ângelo Silva, de 8 anos, que não querem se identificar, não deixaram seu filho ir para escola desde o primeiro dia do retorno presencial da aula, na última segunda-feira (8), e disseram que em menos de dois dias a escola já foi fechada.
Eles receberam um comunicado informando que as aulas passaram só para a forma remota devido a casos de contaminação da Covid-19 entre os professores. “Eu já não ia mandar meu filho para escola antes da vacina, agora então. A escola espera, a vida não. Eu apoio total a greve dos professores da rede municipal pelos meus familiares e pelos dos nossos professores”, disse o pai do Ângelo.
Mobilização é nacional
Enquanto não tiver vacina, vamos continuar na pressão para o não retorno das aulas presenciais porque essa decisão de alguns prefeitos irresponsáveis é brincar com a vida dos alunos, professores e das famílias também, afirma Vilani Oliveira.
De acordo com a presidenta da Confetam, em primeiro lugar é preciso defender vidas. “E é por isso que a gente vai se unir com os professores da rede estadual onde for preciso. Estamos juntos nesta”.
As mobilizações da categoria têm surgido efeito em outras regiões do país. No Rio Grande do Norte, em diversos municípios recuaram o retorno presencial depois que a categoria no estado resolveu ameaçar uma greve.
Em vários municípios da Paraíba os prefeitos também voltaram atrás sobre o retorno presencial das aulas marcado para dia 15 de fevereiro e adiado para 1º de março devido as mobilizações e luta da categoria.
Foi criado também uma comissão com dirigentes da CONFETAM, CUT e CNTE para construir estratégias de enfrentamento e outdoors foram colocas em diversos municípios em defesa da vida e contra o retorno das aulas presenciais.
A luta também é por vacina para todos e todas
No Piauí, os trabalhadores e as trabalhadoras da educação básica estadual estão em Estado de greve contra a volta presencial das aulas. O Sindicato dos Trabalhadores da Educação no Estado (Sinte-PI) tem visitado escolas e disse não encontrar nem o mínimo de condições para voltar às escolas sem prejuízos para professores, escolas, funcionários e estudantes.
A categoria também luta pela vacinação dos trabalhadores e trabalhadoras no estado.
“Além de sermos contra o modelo presencial, dado a situação que o país encontra, estamos conversando com governos locais também para que os profissionais de educação entrem na lista de prioridades para serem vacinados”, explicou a presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação no Piauí (Sinte Piauí), Paulina Almeida.