Programa “MAIS PROFESSORES”
Vítor Andrade*
Não é de hoje que é bonito dizer que: não existe profissão mais linda que a de professor. Mas, quando alguém pretende ser professor, uma das primeiras coisas que recebe é um olhar estranho, ou frases do tipo: tá doido? Coitado!, enquanto se falar que vai ser advogado ou médico, não faltarão elogios.
Não adianta a sociedade contra-argumentar dizendo: “professor só tá pensando em salário” e, nessa hora, chegam mesmo a dizer: “tem que dar aula por prazer, ideologia”. Daí, retruco: será que o advogado sai de sua casa 5h da manhã para tirar alguém da delegacia por ideologia? Ou o médico que atende em um consultório de Psiquiatria que cobra R$500 por uma consulta de meia hora trabalha por ideologia? Por prazer?
O piso salarial do professor para 2013 é de R$1.567. Claro que há uma variação entre os pagamentos pelo Brasil, remuneração, vencimentos, gratificações podem modificar a remuneração, pois nem todos os Estados pagam o piso. A média salarial de um professor é de R$1.300; há estados que pagam R$ 963,13 e, no Distrito Federal, a média é R$3.500. Não vou aqui comparar outras profissões, mas posso comparar com o Programa Mais Médicos do governo federal.
O governo decidiu pagar R$10 mil e selecionar médicos inclusive fora do país. Com o programa MAIS PROFESSORES, o governo pode até mesmo pagar um salário inferior ao que oferece aos médicos, posso dizer a metade, e garanto que não faltarão professores. Existem pessoas graduadas em cursos de licenciatura que estão fazendo concurso público para policial, técnico administrativo, analista de qualquer curso superior ou fora de sua cidade natal e tudo isso porque a renda de professor, além de ser pouca, não gera estabilidade profissional. Não precisa o governo contratar professores de fora do país. A graduação em licenciatura não funciona como outros profissionais, que podem atuar como profissionais liberais ou ter seu escritório próprio.
O valor de uma mesa cirúrgica é, em média, R$10.205,97; um data show, de uma marca muito boa, para o professor usar custa em média R$1.822,13. Um quadro branco, cerca de R$300; apagador, R$10; pincel, R$1,20. O médico precisaria de luvas e aparelhagem médica que não custaria menos de R$5.000. Fica mais barato um professor, o professor é um trabalho de prevenção constante, enquanto o médico, aqui no Brasil, não é preventivo; ele está ali para tentar acabar a doença onde não houve prevenção.
O programa mais professores geraria renda, desenvolvimento e empregabilidade mesmo que temporária. Aliás, muitos professores já estão exercendo funções temporárias no magistério, com lotação em qualquer ponto do país.
Há muito se diz que o governo não quer que a população estude para votar mal, mas não é apenas votar mal; educação é ter um nível de instrução suficiente para entender o que é um assédio moral no trabalho e não aceitá-lo, um abuso de autoridade, saber comprar um remédio e ler a bula de maneira correta, ler e entender um contrato, ter o direito de ser sindicalizado, saber ler história para os filhos antes de dormir, ir para Igreja e poder debater assuntos sociais e políticos sem alienação.
O político tem medo de que o professor peite o dono da escola, tem medo de que o empregado desafie o patrão, de que o policial quebre a hierarquia, pois disso pode sair uma revolução. Mas, ao contrário, o filho que desobedece ao pai, o condenado que não fica preso e volta a atacar a sociedade, para o político, é melhor ainda, muita pobreza alimenta a violência, e isso o médico não pode resolver, mas o PROFESSOR pode.
Os professores só pedem respeito e nada mais: respeito do Estado, respeito dos patrões, respeito da sociedade, para quem tem um professor, e a educação na veia não precisa de um parlamentar. Não estou dizendo que não precisamos de médicos, precisamos sim, precisamos de infraestrutura para eles trabalharem, e não apenas salário. Mas nós, professores, estamos na fila há mais tempo implorando por melhorias. Afinal todos passaram e outros estão e muitos ainda precisam passar pela escola. E aí, vamos apoiar o programa MAIS PROFESSORES?
*Vítor Andrade é professor de História e diretor do Sinproep-DF